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ENERGIA POLÍTICA
Agência terá "visão maior" da fábrica, mas não das centrífugas
Governo cede, mas mantém
restrição à inspeção da AIEA
GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil cedeu um pouco, a
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica) cedeu outro
tanto e ambas as partes verão se é
possível chegar até amanhã a um
consenso sobre a inspeção da fábrica de enriquecimento de urânio em Resende, no Estado do Rio
de Janeiro.
Segundo o presidente da Cnen
(Comissão Nacional de Energia
Nuclear), Odair Gonçalves, o governo federal continua firme na
posição de não mostrar à agência,
cuja tarefa é inspecionar atividades nucleares, as centrífugas para
enriquecimento de urânio. A
AIEA é ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).
Em compensação, o país aceitou oferecer "uma visão maior"
das tubulações, válvulas e conexões que são a elas ligadas. "O importante é verificar se não há desvios, se não há uma tubulação de
urânio enriquecido fora das especificações", disse Gonçalves.
Os membros da AIEA não deram informações à imprensa.
Mas, de acordo com o presidente
da Cnen, eles aceitaram ir hoje a
Resende verificar se é possível fazer a inspeção sem ter acesso total
às centrífugas.
"A agência tinha uma palavra
na qual insistia que era "acesso irrestrito". Hoje a própria agência
concordou que é possível fazer a
verificação sem acesso total e irrestrito", disse Gonçalves. A reunião final acontece amanhã.
O diretor da Área Internacional
da Cnen, Laércio Vinhas, resumiu
assim a solução: "É o lema do Salgueiro: nem melhor nem pior,
apenas diferente".
O governo federal alega necessidade de proteger a tecnologia nacional para não revelar dados, como o número de centrífugas que
existem. Elas são arrumadas em
seqüência, chamadas de "cascatas". Quanto mais cascatas, mais
alto é o teor de enriquecimento do
urânio (leia quadro nesta página).
Ontem houve uma reunião de
cerca de quatro horas entre membros da Cnen, da AIEA, da INB
(Indústrias Nucleares Brasileiras)
e do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
As duas últimas são as responsáveis pelo desenvolvimento da
tecnologia para o enriquecimento
de urânio em escala industrial no
país. Três membros da AIEA
-um norte-americano, um sul-africano e um francês- participaram do encontro na sede da comissão, em Botafogo (zona sul do
Rio de Janeiro).
Histórico
As negociações em torno da inspeção da fábrica de Resende se
prolongam desde abril.
"O que mudou agora foi a postura para tentar buscar uma solução que, ao mesmo tempo, garantisse a preservação da nossa tecnologia e permitisse à agência ter
certeza de que não existe desvio
de material dentro da fábrica",
afirmou o presidente da Cnen.
"A postura estava tensa. Quando a postura é tensa, cada um fica
do seu lado e ninguém cede em
nada. O que a gente descobriu é
que, sem nenhum dos dois lados
se violar, existiam maneiras de satisfazer as nossas necessidades e
as deles", declarou Gonçalves.
Os cargos da equipe da AIEA
não foram revelados, mas a Cnen
afirma que são membros de uma
hierarquia superior aos inspetores. Caso a proposta seja aceita,
dentro de aproximadamente
duas semanas virá outra equipe
da agência ao Brasil, desta vez formada por inspetores.
Com isso, a fábrica de Resende,
que ainda não está em funcionamento, poderá entrar na fase de
testes, quando são injetadas pequenas quantidades de gás de
urânio para verificar se não existe
nenhum vazamento.
Os testes, segundo a Cnen, demoram cerca de seis meses. Após
esse período, a fábrica finalmente
estará apta a enriquecer urânio
em escala industrial. Nesta etapa,
tem início uma nova rotina de
inspeções da AIEA para verificar
se a fábrica está seguindo normas
de segurança internacionais.
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