São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Lula pensa que começou tudo na história", diz FHC

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em visita à Argentina, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) levantou dúvidas sobre a eficácia da estratégia de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que enumera feitos de seu governo, e afirmou que a opinião pública é "volátil" e vota com base na "conversa" do candidato, na confiança, e não porque "fez ou não fez tal ponte".
"Lula tem essa obsessão: "fiz mais em quatro anos do que ele [FHC]". Mas esquece tudo o que não fez e que eu posso ter feito. Não é por isso que [o povo] vota", declarou FHC ontem. "O governo Lula pensa que começou tudo na história."
Questionado sobre que conselhos tem dado ao candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, para diminuir a diferença com relação ao petista mostrada nas pesquisas, respondeu: "Não dou conselho a ninguém".
Em seguida, preferiu esclarecer que isso não significa que ele não ajude Alckmin.
"Estou ajudando profundamente, mas a maneira de ajudar é não dar conselho. Cada um tem de ser o que é", declarou o ex-presidente.
O tucano emendou, então, um conselho aos dois candidatos. "O fundamental [na campanha] é que você fale com o país. Tem de conversar com o país. [Dizer] eu acho isso, quero fazer isso. É uma longa conversa, e a conversa do Geraldo é mais recente que a do Lula. O Lula tem mais gente que já o conhece, que já gostou da conversa dele. Geraldo tem mais dificuldades por isso, porque é mais novo", ressaltou.
E completou: "O que o eleitorado quer é sentir o outro [candidato]. No fundo, é isso. Vou votar nesse por quê? Eu confio nele. Não é tanto porque vai fazer mais escola."
Ele disse que segue "otimista", apesar do aumento da diferença entre os candidatos registrado pelo Datafolha. "As pesquisas têm sido muito variáveis, a opinião pública no Brasil é muito volátil. Como não existem partidos que conduzam a opinião pública, ela flutua muito", disse.
"Eleição só se define no dia. Você se lembra do que aconteceu na Espanha. O [José Maria] Aznar tinha ganho. O presidente Lula não tinha passado para o segundo turno."

"Com o Collor, não?"
Sobre o fato de Lula ter comparado a resistência que diz sofrer das elites com a enfrentada pelos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, FHC ironizou, sugerindo que Lula precisa continuar a fazer comparações. "[Não se compara] ao Jânio [Quadros], não? E ao Collor, não? Só depende de tempo."
O ex-presidente defendeu as privatizações feitas em seu governo e sugeriu a privatização do Instituto de Resseguros do Brasil. Também voltou a acusar o governo de fazer "demagogia" com o tema. Segundo ele, porém, trata-se de outra estratégia sem efeito. "O povo não está nem aí nessas questões."


Texto Anterior: Presidência: Alckmin vai usar TV para falar sobre privatização
Próximo Texto: Justiça: Juíza impede liberação de R$ 1,5 bi do Orçamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.