São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Saúde quer elevar verba publicitária em 43% em 2002

Governo quer gastar 48% a mais com propaganda

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal pretende injetar mais R$ 57,5 milhões em gastos com propaganda em 2002, ano eleitoral, elevando o total para R$ 176,691 milhões. A previsão, incluída no Orçamento da União de 2002, representa um aumento de 48% nesse gênero de despesa em relação a este ano.
Os ministros com pretensões eleitorais em 2002 foram os mais bem aquinhoados. Caso o Orçamento seja aprovado tal como foi proposto pelo governo, 11 ministros pré-candidatos e o gabinete da Presidência terão 52% a mais para gastar com publicidade enquanto permanecerem em seus postos (veja quadro abaixo).
Os aumentos prometem reforçar as imagens de vários ministros às vésperas da largada para a corrida eleitoral do próximo ano.
Roberto Brant (Previdência), do PFL-MG, provável candidato a deputado federal, quer mais 49% para verba de propaganda. Pimenta da Veiga (Comunicações), do PSDB, que sonha com o governo mineiro, está de olho em mais 87%. O tucano Martus Tavares (Planejamento), que vai estrear na política como candidato ao Senado pelo Ceará, pretende mais que dobrar seu gasto publicitário.
Se todos eles conseguirem as verbas adicionais que pretendem, nem mesmo assim baterão o presidenciável tucano José Serra (Saúde), dono da principal conta de publicidade da Esplanada.

Saúde
Neste ano, o Ministério da Saúde obteve R$ 14,35 milhões do Orçamento para esses gastos. Em 2002, quer 20,5 milhões, ou 43% a mais. O valor, administrado pelo gabinete de José Serra, não representa o total de gastos publicitários do ministério. Várias outras rubricas orçamentárias prevêem despesas com divulgação.
Ao todo, elas somariam cerca de R$ 50 milhões, segundo levantamento feito pelo gabinete do deputado federal João Paulo (PT-SP), com base em informações do Siafi (sistema de acompanhamento financeiro do governo). "É muito difícil analisar gastos com publicidade na área de saúde porque as rubricas obscurecem o que acontece na realidade", diz a pesquisadora da Fiocruz Aurea Pitta, que acaba de concluir tese de doutorado sobre o assunto.
Cautelosa, ela evita avaliar os gastos com propaganda por absoluta falta de dados. ""Passei dois anos andando pelo ministério sem conseguir nada", conta.
Sua única certeza é que a diluição de gastos inviabiliza avaliações consistentes. "Quem avalia o impacto das campanhas são as próprias agências. Isso é um escândalo", diz Aurea.
Prestam serviços ao Ministério da Saúde as agências de publicidade DM9DDB, Giovani/FCB e Master Comunicação e Marketing. A profusão de gastos com comunicação oficial tem dado ao ministro Serra respaldo técnico para autopromoções. Os boletins "Informe Saúde" e "Saúde, Brasil", por exemplo, regularmente combinam dicas sobre a prevenção de doenças com declarações e imagens do ministro-candidato.
Esse expediente não é exclusividade da Saúde. Do outro lado da Esplanada, o também presidenciável Paulo Renato Souza, ministro da Educação, usou o número 6 da "Revista do Provão" para conceder entrevista de seis páginas com direito a cinco fotos. "A utilização das fotos viola a legislação eleitoral e fere a Constituição, que exige que o administrador público respeite o princípio da impessoalidade", diz o deputado Orlando Desconsi (PT-RS), que move representação contra Paulo Renato por promoção pessoal.
Paulo Renato e José Serra têm as maiores equipes de assessoria de comunicação de todo o governo. Juntas, somam cerca de 50 profissionais dedicados às tarefas de divulgar o trabalho dos ministros.
Na Saúde, o exemplo mais recente é o "Guia de Medicamentos Genéricos", um livro de consulta com 295 páginas para 250 mil médicos de todo o país. Aos jornalistas, foi distribuído com uma carta de Serra, na qual o ministro classifica os genéricos como uma "causa" e um "ato de solidariedade".

Pronunciamentos
Os dois tucanos também têm disputado os pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e TV. A vantagem é de Serra. Em 1999 e 2000, o ministro da Saúde se apresentou 18 vezes, contra apenas quatro de Paulo Renato e outras quatro de Fernando Henrique Cardoso, segundo a Secretaria de Comunicação de Governo.
Neste ano, Serra já teve 12 inserções, batendo Paulo Renato (cinco); Raul Jungmann, do Desenvolvimento Agrário (cinco); o presidente Fernando Henrique Cardoso (três); José Jorge, de Minas e Energia (uma); e José Sarney Filho, do Meio Ambiente (uma).
Isso sem contar as participações em programas de TV. Ontem à noite, por exemplo, o ministro José Serra apareceu no "Domingo Legal", do SBT, para divulgar a campanha de vacinação das mulheres contra a rubéola.


Colaborou a Reportagem Local



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