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SUCESSÃO NO ESCURO
Saúde quer elevar verba publicitária em 43% em 2002
Governo quer gastar 48% a mais com propaganda
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal pretende injetar mais R$ 57,5 milhões em
gastos com propaganda em 2002,
ano eleitoral, elevando o total para R$ 176,691 milhões. A previsão,
incluída no Orçamento da União
de 2002, representa um aumento
de 48% nesse gênero de despesa
em relação a este ano.
Os ministros com pretensões
eleitorais em 2002 foram os mais
bem aquinhoados. Caso o Orçamento seja aprovado tal como foi
proposto pelo governo, 11 ministros pré-candidatos e o gabinete
da Presidência terão 52% a mais
para gastar com publicidade enquanto permanecerem em seus
postos (veja quadro abaixo).
Os aumentos prometem reforçar as imagens de vários ministros às vésperas da largada para a
corrida eleitoral do próximo ano.
Roberto Brant (Previdência), do
PFL-MG, provável candidato a
deputado federal, quer mais 49%
para verba de propaganda. Pimenta da Veiga (Comunicações),
do PSDB, que sonha com o governo mineiro, está de olho em mais
87%. O tucano Martus Tavares
(Planejamento), que vai estrear
na política como candidato ao Senado pelo Ceará, pretende mais
que dobrar seu gasto publicitário.
Se todos eles conseguirem as
verbas adicionais que pretendem,
nem mesmo assim baterão o presidenciável tucano José Serra
(Saúde), dono da principal conta
de publicidade da Esplanada.
Saúde
Neste ano, o Ministério da Saúde obteve R$ 14,35 milhões do Orçamento para esses gastos. Em
2002, quer 20,5 milhões, ou 43% a
mais. O valor, administrado pelo
gabinete de José Serra, não representa o total de gastos publicitários do ministério. Várias outras
rubricas orçamentárias prevêem
despesas com divulgação.
Ao todo, elas somariam cerca de
R$ 50 milhões, segundo levantamento feito pelo gabinete do deputado federal João Paulo (PT-SP), com base em informações do
Siafi (sistema de acompanhamento financeiro do governo). "É
muito difícil analisar gastos com
publicidade na área de saúde porque as rubricas obscurecem o que
acontece na realidade", diz a pesquisadora da Fiocruz Aurea Pitta,
que acaba de concluir tese de doutorado sobre o assunto.
Cautelosa, ela evita avaliar os
gastos com propaganda por absoluta falta de dados. ""Passei dois
anos andando pelo ministério
sem conseguir nada", conta.
Sua única certeza é que a diluição de gastos inviabiliza avaliações consistentes. "Quem avalia o
impacto das campanhas são as
próprias agências. Isso é um escândalo", diz Aurea.
Prestam serviços ao Ministério
da Saúde as agências de publicidade DM9DDB, Giovani/FCB e
Master Comunicação e Marketing. A profusão de gastos com
comunicação oficial tem dado ao
ministro Serra respaldo técnico
para autopromoções. Os boletins
"Informe Saúde" e "Saúde, Brasil", por exemplo, regularmente
combinam dicas sobre a prevenção de doenças com declarações e
imagens do ministro-candidato.
Esse expediente não é exclusividade da Saúde. Do outro lado da
Esplanada, o também presidenciável Paulo Renato Souza, ministro da Educação, usou o número 6
da "Revista do Provão" para conceder entrevista de seis páginas
com direito a cinco fotos. "A utilização das fotos viola a legislação
eleitoral e fere a Constituição, que
exige que o administrador público respeite o princípio da impessoalidade", diz o deputado Orlando Desconsi (PT-RS), que move
representação contra Paulo Renato por promoção pessoal.
Paulo Renato e José Serra têm as
maiores equipes de assessoria de
comunicação de todo o governo.
Juntas, somam cerca de 50 profissionais dedicados às tarefas de divulgar o trabalho dos ministros.
Na Saúde, o exemplo mais recente é o "Guia de Medicamentos
Genéricos", um livro de consulta
com 295 páginas para 250 mil médicos de todo o país. Aos jornalistas, foi distribuído com uma carta
de Serra, na qual o ministro classifica os genéricos como uma "causa" e um "ato de solidariedade".
Pronunciamentos
Os dois tucanos também têm
disputado os pronunciamentos
em cadeia nacional de rádio e TV.
A vantagem é de Serra. Em 1999 e
2000, o ministro da Saúde se apresentou 18 vezes, contra apenas
quatro de Paulo Renato e outras
quatro de Fernando Henrique
Cardoso, segundo a Secretaria de
Comunicação de Governo.
Neste ano, Serra já teve 12 inserções, batendo Paulo Renato (cinco); Raul Jungmann, do Desenvolvimento Agrário (cinco); o
presidente Fernando Henrique
Cardoso (três); José Jorge, de Minas e Energia (uma); e José Sarney
Filho, do Meio Ambiente (uma).
Isso sem contar as participações
em programas de TV. Ontem à
noite, por exemplo, o ministro José Serra apareceu no "Domingo
Legal", do SBT, para divulgar a
campanha de vacinação das mulheres contra a rubéola.
Colaborou a Reportagem Local
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