São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Indefinição do ministério de Lula obriga partido a mudar para dezembro escolha do sucessor de José Dirceu

Governo faz PT adiar eleição de presidente

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A indefinição do ministério do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, levou o PT a adiar para a primeira semana de dezembro a reunião que escolherá o novo presidente do partido.
O PT havia convocado para o próximo fim de semana reunião do Diretório Nacional que escolheria o novo presidente da legenda. Mas, como Lula não definiu totalmente quem do PT integrará o primeiro escalão de seu governo, a solução foi postergar a reunião para os dias 7 e 8 de dezembro, quando o presidente eleito deve ter a lista concluída.
O artigo 26 da Lei Orgânica dos Partidos impede o exercício de funções executivas nos diretórios partidários por presidente, vice-presidente, ministros de Estado, governadores, vice-governadores, secretários estaduais, prefeitos e vice-prefeitos.
O atual presidente nacional do PT, José Dirceu, que deve integrar o ministério de Lula, terá de se afastar do posto. O mesmo teria de ocorrer, caso opte por ser o novo presidente da Câmara. Seu substituto tem de ser alguém do partido que não fará parte do novo governo nem participe de administrações petistas estaduais e municipais.
Os nomes mais cotados são os do deputado José Genoino e do secretário-geral do partido, Luiz Dulci. O problema é que a condução de um dos dois significaria que o escolhido estaria fora do governo. O partido preferiu esperar a definição de Lula para depois cuidar da sucessão interna.
Genoino está cotado entre os petistas ou para assumir o Ministério da Defesa ou a futura secretaria que cuidará da segurança pública e será subordinada diretamente ao presidente. Parlamentar cujo mandato se encerra em fevereiro, Genoino tem demonstrado preferência pela Defesa. É o principal interlocutor dos petistas com os militares.
Dulci faz parte da cúpula da articulação política de Lula, ao lado de Dirceu e Antônio Palocci Filho, coordenador da equipe de transição. É citado como uma dos possíveis integrantes da chamada "equipe palaciana", ou seja, atuando próximo ao gabinete presidencial. Como não tem cargo nem mandato, poderia exercer a presidência nacional do PT, desde que não fosse incluído na equipe de governo.
Lula já manifestou sua preocupação com os destinos do PT. Quer na condução da legenda um nome politicamente forte e que dê continuidade à política, na visão do eleito bem-sucedida, do deputado José Dirceu.
O presidente eleito atribui à forma com que Dirceu conduziu o partido uma das razões que viabilizaram sua eleição. Reeleito por três vezes consecutivas como presidente do PT, a última delas por meio de voto direto dos filiados, Dirceu isolou as tendências mais radicais do PT e facilitou a obtenção da hegemonia interna da corrente Articulação, de linha moderada. Assim pôde fazer alianças políticas à direita e ao centro e elaborar um programa de governo para Lula mais pragmático e realista que em outras eleições.
Lula teme que, se o partido errar na escolha do substituto, possa perder-se em discussões internas e fragilizar o seu próprio governo.
José Genoino era o primeiro vice-presidente do partido até candidatar-se ao governo de São Paulo. Pediu afastamento para disputar a eleição. O estatuto do PT não é claro no caso de substituição do presidente eleito diretamente. O secretário-geral Luiz Dulci é hoje na prática o número dois de Dirceu, mas também não tem ascensão garantida.
O secretário de Organização do PT, Silvio Pereira, é atualmente quem administra o partido, já que Dirceu e Dulci estão mais diretamente ligados à formação de governo.
Caberá ao Diretório Nacional eleger o novo presidente, que será da tendência moderada hegemônica, a Articulação.


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