São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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FHC foi acionado afirma Mercadante

da Sucursal de Brasília

O deputado eleito Aloizio Mercadante (PT-SP) disse ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado pelo presidente do BNDES, André Lara Resende, em uma suposta operação para ajudar o banco Opportunity a vencer o leilão de privatização da Tele Norte Leste.
Segundo Mercadante, a conversa entre os dois foi gravada clandestinamente e está nas fitas a que o governo teve acesso.
Na gravação, Lara Resende teria pedido a interferência de FHC para retirar a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) do consórcio Telemar, concorrente do Opportunity. Sem a Previ, o Telemar perderia a disputa.
Mercadante disse que não ouviu as fitas nem teve acesso a uma transcrição das conversas. Segundo ele, o conteúdo foi revelado por uma fonte que prefere permanecer no anonimato.
A nova denúncia sobre as gravações é feita num momento que a oposição enfrenta dificuldades na tentativa de abrir uma CPI para investigar as privatizações.
Até o início da noite, haviam sido colhidas 16 assinaturas das 27 necessárias para solicitar a abertura da CPI. Na Câmara, a oposição havia reunido 81 das 171 assinaturas necessárias.
Segundo Mercadante, na conversa com FHC, Lara Resende teria ressaltado a importância de o consórcio vencedor ter uma operadora estrangeira de telefonia -condição não atendida pelo Telemar. Ele teria dito ainda que "os portugueses" estariam interessados em entrar na disputa.
"O governo feriu os princípios de uma licitação pública. Onde é que está escrito que haveria necessidade de uma operadora estrangeira? Não está na lei nem no edital de privatização", afirmou.
De acordo com o relato de Mercadante, o presidente do BNDES teria telefonado para FHC depois de conversar com Pérsio Arida, sócio do Opportunity.
Nessa conversa, Lara Resende afirma que poderia "detonar a bomba atômica" (referência a FHC) para evitar a vitória do Telemar. "A bomba atômica foi detonada. Eles tentaram envolver o presidente, pedindo a intervenção dele a favor de um consórcio (o do Opportunity)", disse Mercadante.
Segundo o deputado eleito, não há dados que demonstrem se FHC procurou ou não intervir no processo. "Aparentemente, não conseguiram fazer a operação que queriam", afirmou.
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Presidência
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, afirmou ontem que o FHC "nunca falou com a Previ sobre a questão da privatização" e que tampouco o presidente recebeu as fitas com as gravações telefônicas, "antes ou depois (da revelação do grampo)".
Amaral buscou descaracterizar o interesse do governo pelo conteúdo das fitas, como forma de desarmar os ânimos da oposição no Congresso. "A questão central dessa gravação, para o presidente, é a violação da lei que proíbe gravações clandestinas. Essa é uma questão de polícia porque a gravação é ilegal."



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