São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Procurador-geral da República descarta autenticidade de documentos que comprovariam conta nas Ilhas Cayman
Brindeiro diz que "dossiê Caribe" é falso

SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília


O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, descartou ontem por completo a possibilidade de comprovação da autenticidade dos papéis relativos ao "dossiê Caribe" e da existência da suposta conta bancária da cúpula tucana nas Ilhas Cayman.
A perícia técnica oficial sobre a veracidade dos papéis ainda não foi concluída. Brindeiro referiu-se a perícias extra-oficiais. "Verificaram-se falsificações grosseiras."
"A essa altura, acho que ninguém tem dúvida ainda sobre a falsidade", disse.
"Quem olhou os papéis não pode chamá-los de documentos." Para o procurador-geral da República, essa questão "parece óbvia".
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"Criminoso de boa-fé"
Brindeiro rejeitou raciocínio segundo o qual alguém teria falsificado os papéis para provocar a investigação sobre um fato verdadeiro.
"Então seria um criminoso de boa-fé? Será que isso tem sentido, meu Deus do céu? Precisava cometer tantos crimes para pedir uma investigação?", perguntou.
Segundo ele, os inquéritos da Polícia Federal sobre o "dossiê Caribe" e as gravações de conversas telefônicas do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, devem ter a finalidade de "identificar o falsificador (dos papéis) e o autor do grampo".
Brindeiro afirmou que deverá designar o procurador do Distrito Federal Luiz Augusto Lima, que atua na área criminal, para acompanhar o inquérito da PF sobre os papéis relativos à suposta conta bancária em nome do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Mário Covas, e dos ministros José Serra (Saúde) e Sérgio Motta (Comunicações), este morto em abril.
Todos os titulares da suposta conta são da alta cúpula do PSDB.
Na semana passada, o ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, enviou para ele os papéis sobre o "dossiê Caribe".
Em relação ao "grampo" na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio de Janeiro, Brindeiro disse que o procurador de direitos do cidadão no Estado, Daniel Sarmento, poderá abrir inquérito civil público para apurar a segurança do sistema da Telerj contra escuta telefônica ilegal.
"Se até o presidente da República é vulnerável, imagine o cidadão do Rio de Janeiro." Ele reafirmou o entendimento de que provas obtidas a partir de "grampo" não têm validade judicial.



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