São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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INQUÉRITO
Delegado que apura compra de apartamento de Lula pede documentos sobre caso
Polícia apura falência de empreiteiro


XICO SÁ
da Reportagem Local

A Seccional da Polícia Civil de São Bernardo do Campo, que apura supostas irregularidades na compra de um apartamento por Luiz Inácio Lula da Silva, candidato derrotado do PT à Presidência da República, investiga o processo de falência da Construtora Dalmiro Lorenzoni -que construiu o imóvel do petista.
Lula prestou depoimento na última sexta-feira, mas ainda não apresentou documentos que comprovem a origem dos recursos para a compra do apartamento.
O delegado Pedro José Liberal, que comanda o inquérito, solicitou à Junta Comercial e à Justiça todos os documentos relativos ao caso.
Lorenzoni é o empreiteiro que ergueu o imóvel onde Lula comprou o apartamento, em São Bernardo do Campo, segundo pedido de investigação do Ministério Público estadual.
O empreiteiro alegou, para justificar negócios com Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, que a sua empresa havia falido. Na tentativa de evitar a falência, Lorenzoni teria recorrido aos serviços advocatícios de Teixeira.
O nome de Lorenzoni surgiu no caso depois que o "Jornal da Band", da Rede Bandeirantes, divulgou, ainda durante a campanha eleitoral, que o advogado havia depositado na conta bancária de Lula um cheque no valor de R$ 10 mil.
O cheque, no entanto, pertencia a Sérgio Lorenzoni, irmão do empreiteiro, e não a Teixeira.
Em depoimentos recentes à Polícia Civil, os irmãos confirmaram a versão dada, em entrevistas, pelo advogado e compadre de Lula.
Segundo relata o delegado Liberal, o empreteiro estava em dificuldades financeiras, por conta da falência, então utilizou um cheque do irmão (Sérgio) para pagar a Teixeira, que acabou depositando na conta de Lula, a quem devia.
Teixeira ainda não prestou depoimento, mas disse à Folha que havia comprado um Omega de Lula. Por este motivo, devia quatro parcelas de R$ 10 mil ao compadre, tendo depositado o cheque de Sérgio Lorenzoni diretamente na conta do petista.
No seu depoimento, ao qual a Folha teve acesso ontem, Lula também repete a versão de Roberto Teixeira sobre o cheque. Disse também que, além do carro, vendeu também um terreno, fruto de uma herança da sua mulher Marisa e mais dez irmãos.
O imóvel, segundo o depoimento, foi vendido por R$ 73 mil, sem registro oficial de cartório, como já havia informado anteriormente reportagem da Folha.
Em entrevista, Teixeira disse que o valor havia sido R$ 72 mil, em seis parcelas de R$ 12 mil, pagas pelo comprador Samir Ali Laila, empresário de São Bernardo.
Lula não apresentou ainda o contrato particular do negócio que diz ter feito com Laila. Segundo o delegado que comanda o inquérito, o petista não tinha essa obrigação.
"Não cabe investigar todos os bens do Lula nesse momento, não é objeto do inquérito", disse. "Estamos apurando a questão do cheque e se a foi legal ou não a compra do apartamento."
O inquérito só deve ser concluído no início do próximo ano. Da Polícia Civil, segue para o Ministério Público, a quem cabe denunciar ou não os acusados.



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