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CRIME ORGANIZADO
Testemunha afirma que morte de ex-governador do Acre foi tramada em reunião em 1992
Depoimento liga Augusto a Hildebrando
da Agência Folha, em Maceió
da Sucursal do Rio
da Reportagem Local
Novos depoimentos de Valtemir
Gonçalves de Oliveira, o Palito, citam um encontro,
no Acre, entre o deputado cassado Hildebrando Pascoal, o deputado Augusto Farias
(PPB-AL), Paulo César Farias,
morto em 1996, e oito pessoas.
De acordo com Palito, piloto de
voadeira (barco veloz usado em
rios) preso em Rio Branco (AC)
por tráfico de drogas, o encontro
ocorreu em 1992, ""cerca de dois
dias" antes do assassinato do governador do Acre, Edmundo Pinto -morto em São Paulo, no hotel Della Volpe, na madrugada do
dia 17 de maio de 1992. Ele disse
ter sabido posteriormente que a
morte de Edmundo Pinto havia
sido planejada na reunião.
Palito, 22, deu em Rio Branco
cinco depoimentos à Divisão de
Repressão ao Crime Organizado
da PF, do dia 23 de novembro à
terça-feira passada. A Folha teve
acesso à transcrição dos três últimos (7, 9 e 14 de dezembro).
A PF pretende aprofundar as investigações para verificar se, como no caso do motorista Jorge
Meres, testemunha-chave da CPI,
as acusações do traficante podem
vir a ser confirmadas. Ele não
apresentou qualquer prova.
Jorge Meres foi a primeira testemunha a dizer à CPI que Hildebrando e Augusto Farias seriam
comparsas numa quadrilha de
tráfico de drogas e roubo de cargas. O irmão de PC Farias afirmou
nunca ter estado com Hildebrando, ao contrário do que Meres
afirmou várias vezes.
O Ministério Público Federal vê
com reservas o surgimento de novos depoimentos ampliando a
atuação da quadrilha cujo comando seria atribuído a Hildebrando. O procurador da República Roberto Santoro disse que
muitas provas testemunhais já foram levantadas e que não quer
"deixar tudo a perder com depoimentos inconsistentes".
Em razão do recesso parlamentar, Palito será ouvido pela CPI do
Narcotráfico apenas em janeiro.
Amanhã, a CPI recebe cópia dos
depoimentos à Polícia Federal.
Palito negocia a sua inclusão no
programa de proteção a testemunhas, do Ministério da Justiça. Foi
ele quem disse há meses à polícia
existir uma fita em que Hildebrando Pascoal apareceria serrando um homem. Esse vídeo
nunca foi encontrado.
Palito relatou à Polícia Federal
várias supostas operações em que
transportou ""oxidado" (pasta de
cocaína) para Hildebrando Pascoal, como em 1994 (20 kg), 1996-97 (80 kg) e 1997 (60 kg).
Segundo ele, em 1992 um avião
pilotado por Pedro Iaza pousou
na altura do km 18 da estrada de
Porto do Acre, levando PC e Augusto à fazenda da ex-governadora do Estado Iolanda Lima.
Palito, que na época tinha apenas 15 anos, disse ter coberto o
avião com uma lona, com a ajuda
de peões da fazenda.
A seguir, segundo Palito, teria
havido uma reunião com a participação de PC, Augusto, Hildebrando, os ex-governadores do
Acre Iolanda Lima, Romildo Magalhães e Orleir Cameli, a ex-deputada Célia Mendes (PPB), o ex-deputado Narcísio Mendes
(PPB), um certo ""Peatman", ""coronel Visman" (assessor de ordem de Edmundo Pinto, segundo
o piloto de voadeira) e ""Aragão".
Ouvidos pela Folha, alguns dos
citados negam as acusações contidas nos depoimentos do traficante (ver texto à pág. 1-12).
Palito afirma que ia constantemente à fazenda porque seu pai e
irmãos trabalharam lá ""por cinco,
seis anos". ""A reunião foi numa
quarta ou quinta-feira, uns dois
dias antes da morte de Edmundo
Pinto (ocorrida na madrugada de
domingo)", disse. Teria durado
das 14h às 17h.
Quando estava anoitecendo,
Palito e empregados da fazenda
teriam fechado a estrada para um
avião decolar, levando PC, Augusto, ""o sargento H. Neto" e o
""pistoleiro Adão Gregório", que
trabalharia para ""o ex-governador Aragão".
Palito disse não ter assistido à
reunião, realizada, segundo seu
relato, no quarto de Iolanda Lima.
Ela teria proibido a entrada de outras pessoas na casa, obrigando
até as empregadas a sair.
O café teria sido servido por um
filho da ex-governadora, o advogado Júnior. Cerca de oito meses
depois, na mesma fazenda, Palito
teria escutado uma discussão entre Iolanda Lima e outro filho dela, Germano.
O filho teria ameaçado a mãe de
""contar tudo" sobre a morte de
Edmundo Pinto e falado que a
reunião com a participação de
Hildebrando e Augusto Farias teria ""decidido" a morte do então
governador.
Palito citou os nomes de participantes da reunião em outro suposto episódio: entre o fim de
1996 e o começo de 1997, ele teria
levado a voadeira a uma aldeia indígena, no rio Purus, perto de
Manuel Urbano (AC).
Em seguida, sempre conforme
o relato do traficante, teria chegado um avião com Hildebrando
Pascoal, Orleir Cameli e Raimundo Damasceno.
O contato deles no local seria
um peruano chamado Rubens,
integrante do grupo guerrilheiro
Sendero Luminoso. Palito teria
recebido 80 kg de pasta de cocaína para levar a Rio Branco.
Em agosto ou setembro de 1995,
disse ter visto, também na fazenda de Iolanda Lima, Narcísio
Mendes abrir uma pasta tipo 007,
repleta de dólares, e a entregado
para Raimundo Damasceno.
No quarto e penúltimo depoimento à PF, Palito disse que Hildebrando Pascoal seria o chefe no
Brasil de uma conexão com o narcotráfico da Nigéria.
Informou o nome de um ""traficante" nigeriano -Kennedy Ifedi-, seu endereço no país africano e a rota do tráfico: Manaus, Belém, Santos.
Palito também disse, como outras testemunhas ouvidas pela PF,
que o traficante Curica, hoje preso em São Paulo, foi piloto de
avião de Orleir Cameli.
O traficante afirmou ter sido vítima de um atentado, no dia 7 de
fevereiro de 1996, no presídio.
Dois soldados da Polícia Militar
teriam atirado nele, ferindo outros dois detentos.
Chico Mendes
Uma afirmação de Palito sobre
o caso Chico Mendes pode ligar
Hildebrando Pascoal à fuga de
Darli Alves, um dos responsáveis
pelo assassinato do líder seringueiro. Segundo o traficante, Hildebrando foi o responsável por
uma fuga de Darli Alves, de helicóptero, de uma fazenda chamada Amoty.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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