São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Testemunha afirma que morte de ex-governador do Acre foi tramada em reunião em 1992
Depoimento liga Augusto a Hildebrando

da Agência Folha, em Maceió

da Sucursal do Rio

da Reportagem Local


Novos depoimentos de Valtemir Gonçalves de Oliveira, o Palito, citam um encontro, no Acre, entre o deputado cassado Hildebrando Pascoal, o deputado Augusto Farias (PPB-AL), Paulo César Farias, morto em 1996, e oito pessoas.
De acordo com Palito, piloto de voadeira (barco veloz usado em rios) preso em Rio Branco (AC) por tráfico de drogas, o encontro ocorreu em 1992, ""cerca de dois dias" antes do assassinato do governador do Acre, Edmundo Pinto -morto em São Paulo, no hotel Della Volpe, na madrugada do dia 17 de maio de 1992. Ele disse ter sabido posteriormente que a morte de Edmundo Pinto havia sido planejada na reunião.
Palito, 22, deu em Rio Branco cinco depoimentos à Divisão de Repressão ao Crime Organizado da PF, do dia 23 de novembro à terça-feira passada. A Folha teve acesso à transcrição dos três últimos (7, 9 e 14 de dezembro).
A PF pretende aprofundar as investigações para verificar se, como no caso do motorista Jorge Meres, testemunha-chave da CPI, as acusações do traficante podem vir a ser confirmadas. Ele não apresentou qualquer prova.
Jorge Meres foi a primeira testemunha a dizer à CPI que Hildebrando e Augusto Farias seriam comparsas numa quadrilha de tráfico de drogas e roubo de cargas. O irmão de PC Farias afirmou nunca ter estado com Hildebrando, ao contrário do que Meres afirmou várias vezes.
O Ministério Público Federal vê com reservas o surgimento de novos depoimentos ampliando a atuação da quadrilha cujo comando seria atribuído a Hildebrando. O procurador da República Roberto Santoro disse que muitas provas testemunhais já foram levantadas e que não quer "deixar tudo a perder com depoimentos inconsistentes".
Em razão do recesso parlamentar, Palito será ouvido pela CPI do Narcotráfico apenas em janeiro. Amanhã, a CPI recebe cópia dos depoimentos à Polícia Federal.
Palito negocia a sua inclusão no programa de proteção a testemunhas, do Ministério da Justiça. Foi ele quem disse há meses à polícia existir uma fita em que Hildebrando Pascoal apareceria serrando um homem. Esse vídeo nunca foi encontrado.
Palito relatou à Polícia Federal várias supostas operações em que transportou ""oxidado" (pasta de cocaína) para Hildebrando Pascoal, como em 1994 (20 kg), 1996-97 (80 kg) e 1997 (60 kg).
Segundo ele, em 1992 um avião pilotado por Pedro Iaza pousou na altura do km 18 da estrada de Porto do Acre, levando PC e Augusto à fazenda da ex-governadora do Estado Iolanda Lima.
Palito, que na época tinha apenas 15 anos, disse ter coberto o avião com uma lona, com a ajuda de peões da fazenda.
A seguir, segundo Palito, teria havido uma reunião com a participação de PC, Augusto, Hildebrando, os ex-governadores do Acre Iolanda Lima, Romildo Magalhães e Orleir Cameli, a ex-deputada Célia Mendes (PPB), o ex-deputado Narcísio Mendes (PPB), um certo ""Peatman", ""coronel Visman" (assessor de ordem de Edmundo Pinto, segundo o piloto de voadeira) e ""Aragão".
Ouvidos pela Folha, alguns dos citados negam as acusações contidas nos depoimentos do traficante (ver texto à pág. 1-12).
Palito afirma que ia constantemente à fazenda porque seu pai e irmãos trabalharam lá ""por cinco, seis anos". ""A reunião foi numa quarta ou quinta-feira, uns dois dias antes da morte de Edmundo Pinto (ocorrida na madrugada de domingo)", disse. Teria durado das 14h às 17h.
Quando estava anoitecendo, Palito e empregados da fazenda teriam fechado a estrada para um avião decolar, levando PC, Augusto, ""o sargento H. Neto" e o ""pistoleiro Adão Gregório", que trabalharia para ""o ex-governador Aragão".
Palito disse não ter assistido à reunião, realizada, segundo seu relato, no quarto de Iolanda Lima. Ela teria proibido a entrada de outras pessoas na casa, obrigando até as empregadas a sair.
O café teria sido servido por um filho da ex-governadora, o advogado Júnior. Cerca de oito meses depois, na mesma fazenda, Palito teria escutado uma discussão entre Iolanda Lima e outro filho dela, Germano.
O filho teria ameaçado a mãe de ""contar tudo" sobre a morte de Edmundo Pinto e falado que a reunião com a participação de Hildebrando e Augusto Farias teria ""decidido" a morte do então governador.
Palito citou os nomes de participantes da reunião em outro suposto episódio: entre o fim de 1996 e o começo de 1997, ele teria levado a voadeira a uma aldeia indígena, no rio Purus, perto de Manuel Urbano (AC).
Em seguida, sempre conforme o relato do traficante, teria chegado um avião com Hildebrando Pascoal, Orleir Cameli e Raimundo Damasceno.
O contato deles no local seria um peruano chamado Rubens, integrante do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Palito teria recebido 80 kg de pasta de cocaína para levar a Rio Branco.
Em agosto ou setembro de 1995, disse ter visto, também na fazenda de Iolanda Lima, Narcísio Mendes abrir uma pasta tipo 007, repleta de dólares, e a entregado para Raimundo Damasceno.
No quarto e penúltimo depoimento à PF, Palito disse que Hildebrando Pascoal seria o chefe no Brasil de uma conexão com o narcotráfico da Nigéria.
Informou o nome de um ""traficante" nigeriano -Kennedy Ifedi-, seu endereço no país africano e a rota do tráfico: Manaus, Belém, Santos.
Palito também disse, como outras testemunhas ouvidas pela PF, que o traficante Curica, hoje preso em São Paulo, foi piloto de avião de Orleir Cameli.
O traficante afirmou ter sido vítima de um atentado, no dia 7 de fevereiro de 1996, no presídio. Dois soldados da Polícia Militar teriam atirado nele, ferindo outros dois detentos.

Chico Mendes
Uma afirmação de Palito sobre o caso Chico Mendes pode ligar Hildebrando Pascoal à fuga de Darli Alves, um dos responsáveis pelo assassinato do líder seringueiro. Segundo o traficante, Hildebrando foi o responsável por uma fuga de Darli Alves, de helicóptero, de uma fazenda chamada Amoty.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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