São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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GOVERNO
Carlos de Almeida Baptista substitui Walter Bräuer, afastado; Alto Comando tentou resistir à indicação
Presidente do STM assume Aeronáutica

WILLIAM FRANÇA
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

Quatro brigadeiros do Alto Comando da Aeronáutica ameaçaram passar para a reserva em reação ao convite feito ao presidente do STM (Superior Tribunal Militar), Carlos de Almeida Baptista, para o comando da Aeronáutica.
Baptista é brigadeiro de quatro estrelas, está no topo da hierarquia da Aeronáutica, mas não integra o Alto Comando. Ele foi chamado a Brasília anteontem à noite e aceitou o convite no momento em que o comandante demitido, Walter Werner Bräuer, se reunia com quatro outros brigadeiros do Alto Comando.
Dessa reunião surgiu a ameaça -um gesto de desagravo a Bräuer e uma manifestação reiterada de descontentamento com o chefe Elcio Alvares, ministro da Defesa, que não os consultou.
No Alto Comando, o brigadeiro Marcus Herndl, chefe do Estado Maior da Aeronáutica, era tido como sucessor natural de Bräuer. Anteontem à noite, ao deixar a reunião no prédio do Comando da Aeronáutica, disse: ""Não vou substituir ninguém".
Além de Bräuer e Herndl, reuniram-se na noite da demissão do comandante da Aeronáutica os brigadeiros Henrique Marini e Souza, do Comando Geral do Ar; José Marconi de Almeida Santos, do departamento de pesquisas e desenvolvimento, e Osires Castilho, do Comando Geral de Pessoal. Durante o encontro, houve críticas ao comportamento do ministro da Defesa.
O mesmo grupo voltou a se reunir ontem cedo, em trajes civis. A reunião terminou ao meio-dia. Faltaram três outros brigadeiros que integram o Alto Comando da Aeronáutica e que moram no Rio.
""Não tenho nada a declarar", resumiu o brigadeiro Castilho, esquivando-se de perguntas sobre a possibilidade de reagirem à substituição: ""Não sei qual é o propósito desta pergunta".
A opção do governo já estava para ser oficializada. Pouco depois de anunciar a demissão de Bräuer, o ministro Elcio Alvares convocara Carlos de Almeida Baptista, que estava no Rio.
Por telefone, fez a primeira sondagem. A nomeação seria tornada oficial depois do encontro de Baptista e Alvares com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada.
Embora preservasse o critério da antiguidade na Força, a opção do governo escapou de colocar no comando da Aeronáutica um brigadeiro afinadíssimo a Walter Bräuer, demitido na véspera por divergir publicamente de seu superior hierárquico, o ministro da Defesa. A demissão foi determinada por FHC.

Perfil
Baptista tem 67 anos e é o brigadeiro mais antigo na Aeronáutica depois de Bräuer. Ele está na ativa e pertence ao quadro especial. Em 1994, passou a ocupar uma vaga no STM, tribunal que preside desde março deste ano.
Baptista e Alvares chegaram ao Alvorada pouco antes das 11h, o futuro comandante ao volante de seu carro, um modelo popular. A reunião não havia terminado até o fechamento desta edição.
As demissões de Bräuer e -principalmente- de Solange Rezende Antunes, assessora especial, deram sobrevida a Elcio Alvares no Ministério da Defesa, mas não significam o fim de seus problemas no cargo criado por FHC no final de seu primeiro mandato (leia quadro ao lado).
Solange Antunes teve seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados por decisão da CPI do Narcotráfico, que suspeita que a assessora de Alvares tenha defendido pessoas ligadas ao crime organizado no Espírito Santo.


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