São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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GOVERNO
Permanência depende de investigação da CPI
Saída de Alvares não está descartada

JOSIAS DE SOUZA
Secretário de Redação

RUI NOGUEIRA
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília

Fernando Henrique Cardoso ainda trabalha com a hipótese de vir a ter de demitir o ministro da Defesa, Elcio Alvares. O presidente condiciona a permanência do auxiliar aos desdobramentos da investigação que a CPI do Narcotráfico realiza no Espírito Santo, Estado do ministro.
Em público, Elcio Alvares tenta fazer crer que a troca de comando na Aeronáutica pôs fim à crise. Mas o caso é tratado no Palácio do Planalto como um assunto inconcluso.
A Folha ouviu ontem na Presidência uma expressão que resume bem a situação de Elcio Alvares. O ministro ainda pode ser vítima do "efeito mulher de César", disse, sob reserva, um auxiliar de FHC.
Trata-se de uma referência à máxima segunda a qual à mulher de César não basta ser honesta; ela precisa também parecer honesta. Ou seja, ainda que a CPI envolva o ministro da Defesa apenas numa nuvem de suspeita, a conjuntura política pode exigir de FHC uma posição mais dura, fugindo de sua característica.
A mudança de chefia na Aeronáutica foi feita com a aprovação dos comandantes do Exército, general Gleuber Vieira, e da Marinha, almirante Sérgio Chagasteles. Mas o comportamento de ambos não permite concluir que tenham agido para prestigiar o chefe Elcio Alvares.
Disciplinados, Vieira e Chagasteles concordaram com a tese de que as declarações do brigadeiro Walter Werner Bräuer, afastado da chefia da Aeronáutica, poderiam ser interpretadas como um gesto de insubordinação.
Mas exigiram a saída também de Solange Antunes Rezende, a assessora de Elcio Alvares que está sob investigação da CPI do Narcotráfico.
O brigadeiro Bräuer não gostou do comportamento dos colegas do Exército e da Marinha. Em diálogos privados, ele considerou absurda a alegação de que teria se insubordinado. Alega que seu comentário - "A vida pública tem que ser bastante ilibada, transparente, que não deixe dúvidas"- foi dirigido não ao ministro, mas à sua assessora.
A verdade é que o episódio serviu de pretexto para que FHC fizesse algo que planejava há tempos. Bräuer é considerado pelo presidente um militar à antiga, nacionalista em demasia. O brigadeiro sempre se opôs a teses que são caras ao tucanato: privatização dos aeroportos e abertura do programa espacial brasileiro, por exemplo.
O novo comandante Carlos de Almeida Baptista é visto no Planalto como uma pessoa mais "arejada". Ele defende a idéia de que a Aeronáutica seja reduzida a uma força militar aérea, abrindo espaço para os civis na administração de aeroportos (Infraero) e no DAC (Departamento de Aviação Civil).
O maior sintoma de que a cabeça de Elcio Alvares ainda pode ser apartada de seu pescoço é a discussão que já se trava em Brasília em torno dos nomes dos potenciais substitutos.
Uma das alternativas mencionadas é a de convencer o vice-presidente Marco Maciel a acumular a pasta da Defesa. Algo que FHC tentou, sem sucesso, no final do ano passado, quando já havia decidido criar o ministério.
Outros nomes mencionados como potenciais substitutos de Elcio Alvares são os ex-ministros Jarbas Passarinho e Celso Lafer, além do atual ministro Ronaldo Sardenberg (Ciência e Tecnologia).


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