São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Ex-SNl concentra informações estratégicas para a Presidência da República

Dirceu e Gushiken travam disputa por controle da Abin

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, estuda transformar a atual Secretaria de Comunicação em Secretaria de Comunicação e Planejamento Estratégico, unindo de forma explosiva as verbas de publicidade oficial à Abin (Agência Brasileira de Inteligência), um dos órgãos mais sensíveis de governo.
Estudo nesse sentido vem sendo comandado pelo futuro secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, um dos homens mais fortes junto ao novo presidente. Ele, entretanto, enfrenta a resistência ferrenha do futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, que reivindica o controle da agência.
Gushiken e Dirceu disputam a Abin porque essa agência, que na prática substituiu o velho SNI (Serviço Nacional de Informações) do regime militar, concentra todas as informações estratégicas que interessam diretamente ao presidente da República. Quem tem informações privilegiadas tem o poder.
Setores do próprio PT acompanham ao longe, e desconfortavelmente, a batalha interna do governo que nem assumiu pelo controle da Abin.
Se antes era apontado como um órgão que investigava movimentos sociais ligados aos petistas, agora poderá ser visto como o órgão que os petistas usarão para investigar os demais -inclusive os seus adversários.
Também no próprio Palácio do Planalto há preocupação com a incerteza e a disputa diante do destino da Abin, que existe oficialmente para fornecer subsídios para as decisões presidenciais, mas, teoricamente, pode também ser desvirtuado para bisbilhotar vidas alheias e constranger inimigos e adversários.
As duas fórmulas em estudo são recriminadas por experts na área. A Abin nem deve ficar sob o teto da Casa Civil, que cuida de negociações políticas, nem sob a Secretaria de Comunicação, que gerencia as milionárias verbas de publicidade do governo.

Eminência parda
Além disso, há uma questão de personalidade: Gushiken é homem discreto e de poucas brigas, mas Dirceu está ocupando cada vez mais espaço no novo governo e afastando da frente qualquer ameaça a sua hegemonia na coordenação política.
Juntando o cargo (Casa Civil), a personalidade afeita ao poder e um órgão tão estratégico como a Abin, o ex-presidente do PT poderia se transformar em tudo o que Lula já disse que não quer no seu governo: uma eminência parda, com influência em praticamente todas as áreas.
A mais recente vitória de Dirceu foi a escolha do embaixador José Viegas, que atualmente serve em Moscou, para o Ministério da Defesa. Havia resistências à idéia de colocar um diplomata para comandar os militares, mas Dirceu venceu e impôs o nome.
A advertência era que a nomeação de um diplomata para a Defesa poderia soar como a ingerência de uma corporação sobre a outra. Além disso, há evidentes divergências de estilo. Enquanto diplomatas têm fama de evasivos e dissimulados, militares costumam ser objetivos e diretos.

Lula
Lula ainda não deu a palavra final sobre o novo formato que Gushiken está propondo para a Presidência a partir de janeiro do próximo ano.
O presidente eleito, entretanto, já enfrenta oposição à idéia tanto de criar a Secretaria de Comunicação e Planejamento Estratégico quanto a de transformar a Abin em apêndice da Casa Civil.
Não está descartada a hipótese, portanto, de manter a Abin onde está: respondendo ao presidente via Gabinete de Segurança Institucional.


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