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TRANSIÇÃO
Ex-SNl concentra informações estratégicas para a Presidência da República
Dirceu e Gushiken travam
disputa por controle da Abin
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, estuda transformar
a atual Secretaria de Comunicação em Secretaria de Comunicação e Planejamento Estratégico,
unindo de forma explosiva as verbas de publicidade oficial à Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), um dos órgãos mais sensíveis
de governo.
Estudo nesse sentido vem sendo
comandado pelo futuro secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, um dos homens mais fortes
junto ao novo presidente. Ele, entretanto, enfrenta a resistência
ferrenha do futuro ministro da
Casa Civil, José Dirceu, que reivindica o controle da agência.
Gushiken e Dirceu disputam a
Abin porque essa agência, que na
prática substituiu o velho SNI
(Serviço Nacional de Informações) do regime militar, concentra todas as informações estratégicas que interessam diretamente
ao presidente da República.
Quem tem informações privilegiadas tem o poder.
Setores do próprio PT acompanham ao longe, e desconfortavelmente, a batalha interna do governo que nem assumiu pelo controle da Abin.
Se antes era apontado como um
órgão que investigava movimentos sociais ligados aos petistas,
agora poderá ser visto como o órgão que os petistas usarão para investigar os demais -inclusive os
seus adversários.
Também no próprio Palácio do
Planalto há preocupação com a
incerteza e a disputa diante do
destino da Abin, que existe oficialmente para fornecer subsídios
para as decisões presidenciais,
mas, teoricamente, pode também
ser desvirtuado para bisbilhotar
vidas alheias e constranger inimigos e adversários.
As duas fórmulas em estudo são
recriminadas por experts na área.
A Abin nem deve ficar sob o teto
da Casa Civil, que cuida de negociações políticas, nem sob a Secretaria de Comunicação, que gerencia as milionárias verbas de publicidade do governo.
Eminência parda
Além disso, há uma questão de
personalidade: Gushiken é homem discreto e de poucas brigas,
mas Dirceu está ocupando cada
vez mais espaço no novo governo
e afastando da frente qualquer
ameaça a sua hegemonia na coordenação política.
Juntando o cargo (Casa Civil), a
personalidade afeita ao poder e
um órgão tão estratégico como a
Abin, o ex-presidente do PT poderia se transformar em tudo o
que Lula já disse que não quer no
seu governo: uma eminência parda, com influência em praticamente todas as áreas.
A mais recente vitória de Dirceu
foi a escolha do embaixador José
Viegas, que atualmente serve em
Moscou, para o Ministério da Defesa. Havia resistências à idéia de
colocar um diplomata para comandar os militares, mas Dirceu
venceu e impôs o nome.
A advertência era que a nomeação de um diplomata para a Defesa poderia soar como a ingerência
de uma corporação sobre a outra.
Além disso, há evidentes divergências de estilo. Enquanto diplomatas têm fama de evasivos e dissimulados, militares costumam
ser objetivos e diretos.
Lula
Lula ainda não deu a palavra final sobre o novo formato que
Gushiken está propondo para a
Presidência a partir de janeiro do
próximo ano.
O presidente eleito, entretanto,
já enfrenta oposição à idéia tanto
de criar a Secretaria de Comunicação e Planejamento Estratégico
quanto a de transformar a Abin
em apêndice da Casa Civil.
Não está descartada a hipótese,
portanto, de manter a Abin onde
está: respondendo ao presidente
via Gabinete de Segurança Institucional.
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