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TRANSIÇÃO
Porta-voz nega que Lula tenha tomado decisão sobre o tema; Palocci diz que projeto será levado ao Congresso
PT diverge sobre mandato fixo para o BC
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após o presidente indicado para o Banco Central, Henrique Meirelles, ter afirmado, durante sabatina na Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado,
que o novo governo pretende
conceder mandatos fixos para dirigentes da instituição, o PT não
se entendeu sobre o assunto.
Enquanto o porta-voz de Luiz
Inácio Lula da Silva, André Singer, negou que a decisão já tenha
sido tomada, o futuro ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
confirmou o que foi divulgado
por Meirelles, que na presidência
do BC será seu subordinado.
Singer, durante entrevista na
Granja do Torto, afirmou: "O presidente eleito me informou que
essa decisão [mandatos fixos no
BC" será de governo, a ser tomada
quando o novo governo estiver
constituído".
De acordo com o porta-voz, o
presidente eleito "ainda vai decidir" a respeito da questão. "A decisão ainda não foi tomada. Quero reiterar que o presidente eleito
afirmou que isso ocorrerá quando
o governo estiver empossado",
afirmou Singer.
Já Palocci, no escritório de transição, informou que projeto nesse
sentido será encaminhado ao
Congresso no próximo ano -antes, será preciso aprovar uma mudança, já em tramitação, do artigo
192 da Constituição, que trata do
sistema financeiro.
Para o futuro ministro, a decisão não significa que o governo
petista esteja abrindo mão de definir as linhas de atuação do BC.
Lula, argumentou, definirá a política econômica a ser seguida. O
BC terá autonomia para cumprir
essa política.
O porta-voz André Singer procurou, no entanto, negar que Lula
estivesse desautorizando publicamente Meirelles. Repetiu apenas
o que o presidente eleito lhe havia
transmitido: a definição ainda está por vir.
A concessão de mandatos fixos
para a diretoria do BC está na proposta de autonomia operacional
da instituição, que foi defendida
por lideranças petistas na recente
campanha presidencial.
O PT chegou a prometer que, já
na fase de transição, sua bancada
no Congresso iria se empenhar na
regulamentação do artigo 192 da
Constituição, que regulamenta o
sistema financeiro, para incluir a
autonomia operacional.
Era uma forma de o partido de
Lula oferecer uma garantia ao
mercado financeiro de que o
compromisso com a estabilidade
monetária e o respeito aos contratos era verdadeiro, ao mesmo
tempo em que buscava neutralizar ao menos em parte o receio
existente de que os petistas no governo poderiam fazer mudanças
bruscas de rota.
Depois da posse, no entanto, o
ímpeto petista esfriou. O assunto
foi deixado em segundo plano, e
as discussões sobre a regulamentação do 192 nem começaram.
Tema polêmico
O assunto é polêmico dentro do
PT. Pelo modelo de autonomia
operacional, o BC teria total liberdade para perseguir metas de inflação e disponibilidade de crédito, entre outras, apresentadas pelo governo.
Diretores da instituição, inclusive o presidente, não poderiam ser
demitidos por vontade do presidente da República. Isso ocorreria
apenas com aval do Senado, na
hipótese de as metas fixadas pelo
governo não serem cumpridas
após um determinado prazo prefixado. O modelo concebido é o
do Banco Central da Inglaterra.
A proposta é vista com ressalvas
por alguns especialistas do PT na
relação com o mercado financeiro, que temem que o BC acabe se
tornando um ente à parte da administração federal. O deputado
federal Ricardo Berzoini (SP), um
dos petistas mais bem relacionados com o setor, defende um modelo de "autonomia orçamentária" do BC, em que a ênfase seria
dada no aumento de estrutura
material do órgão.
Singer afirmou ontem que Lula
ficou satisfeito com a performance de Meirelles na sabatina do Senado. "O presidente eleito declarou que considerou excelente o
desempenho do presidente indicado para o Banco Central."
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