São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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SENADO

Tucano não descarta concorrer em 2006 e diz que "governar sem contrariar interesses" resulta em "pasmaceira ou populismo"

Na despedida, Serra faz crítica velada ao PT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez após a derrota nas eleições presidenciais para Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Serra (PSDB-SP) subiu ontem à tribuna do Senado para fazer seu discurso de despedida do Congresso. Sem citar Lula ou o PT, Serra mandou recados velados ao presidente eleito e fez críticas indiretas ao comportamento do PT como oposição ao governo.
Senadores de todos os partidos pediram apartes para homenageá-lo, inclusive petistas. Após o discurso, Serra não confirmou nem negou a hipótese de voltar a disputar a Presidência em 2006. "Tem muita coisa para acontecer até lá. O que farei na política não depende de mim", afirmou.
O tucano agradeceu ao seu partido pela indicação à candidatura a presidente, ao PMDB pelo apoio na eleição, e aos 33 milhões de eleitores pelos votos.
Ele ressaltou a "transição política tranquila e civilizada" que está sendo conduzida por FHC, a quem agradeceu a nomeação para dois ministérios (Planejamento e Saúde) e fez vários elogios.
Também elogiou o governador Franco Montoro, com quem trabalhou, e o governador Mário Covas. Ao dizer que FHC e Montoro "sempre souberam enfrentar os que corrompiam o poder", acrescentou, de improviso, uma referência ao futuro governo.
"O poder pode até corromper. Mas pode até ensinar aqueles que o exercem. Vamos ter a oportunidade de ver isso nos próximos anos", afirmou.
O senador disse estar convencido de que governar e legislar envolvem contrariar interesses, e dirigiu recado velado a Lula. "Quem pretender governar sem contrariar interesses, estejam certos, terá como opções a pasmaceira ou o populismo, que exaure o Tesouro e empina a inflação."
Embora não tenha citado o PT, Serra criticou o comportamento do partido em relação ao governo FHC. "Um princípio básico que compartilhei com Montoro, Fernando Henrique e, aqui no Congresso, com o Mário Covas, é o de, no Legislativo, mesmo na oposição, nunca apostar no "quanto pior melhor", que só prejudica o país e o povo", disse.
Serra teve o depoimento de José Eduardo Dutra (PT-SE) para confirmar sua afirmação de que, como integrante do governo FHC, nunca fez discriminação partidária no atendimento a parlamentares, prefeitos e governadores.
"Em relação à Prefeitura de Aracaju (SE), que é do PT, o senhor sempre teve um comportamento republicano. Nunca discriminou", afirmou Dutra.
Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que Serra cumpriu um ""papel extraordinário" como opositor de Lula, conduzindo-se de maneira respeitosa e mostrando capacidade de conhecimento do país.
Num trecho do discurso interpretado por ouvintes como recado a Lula, Serra disse que agir com transparência tem sido um dos critérios fundamentais de sua trajetória. "É inimaginável, para mim, dizer uma coisa hoje e outra radicalmente amanhã, sem ao menos explicar por que mudei. É inimaginável, para mim, dizer uma coisa na oposição e, uma vez no governo, fazer o contrário, sem que haja razão aparente para a mudança."


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