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SENADO
Tucano não descarta concorrer em 2006 e diz que "governar sem contrariar interesses" resulta em "pasmaceira ou populismo"
Na despedida, Serra faz crítica velada ao PT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez após a derrota
nas eleições presidenciais para
Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Serra (PSDB-SP) subiu
ontem à tribuna do Senado para
fazer seu discurso de despedida
do Congresso. Sem citar Lula ou o
PT, Serra mandou recados velados ao presidente eleito e fez críticas indiretas ao comportamento
do PT como oposição ao governo.
Senadores de todos os partidos
pediram apartes para homenageá-lo, inclusive petistas. Após o
discurso, Serra não confirmou
nem negou a hipótese de voltar a
disputar a Presidência em 2006.
"Tem muita coisa para acontecer
até lá. O que farei na política não
depende de mim", afirmou.
O tucano agradeceu ao seu partido pela indicação à candidatura
a presidente, ao PMDB pelo apoio
na eleição, e aos 33 milhões de
eleitores pelos votos.
Ele ressaltou a "transição política tranquila e civilizada" que está
sendo conduzida por FHC, a
quem agradeceu a nomeação para dois ministérios (Planejamento
e Saúde) e fez vários elogios.
Também elogiou o governador
Franco Montoro, com quem trabalhou, e o governador Mário Covas. Ao dizer que FHC e Montoro
"sempre souberam enfrentar os
que corrompiam o poder", acrescentou, de improviso, uma referência ao futuro governo.
"O poder pode até corromper.
Mas pode até ensinar aqueles que
o exercem. Vamos ter a oportunidade de ver isso nos próximos
anos", afirmou.
O senador disse estar convencido de que governar e legislar envolvem contrariar interesses, e dirigiu recado velado a Lula. "Quem
pretender governar sem contrariar interesses, estejam certos, terá
como opções a pasmaceira ou o
populismo, que exaure o Tesouro
e empina a inflação."
Embora não tenha citado o PT,
Serra criticou o comportamento
do partido em relação ao governo
FHC. "Um princípio básico que
compartilhei com Montoro, Fernando Henrique e, aqui no Congresso, com o Mário Covas, é o de,
no Legislativo, mesmo na oposição, nunca apostar no "quanto
pior melhor", que só prejudica o
país e o povo", disse.
Serra teve o depoimento de José
Eduardo Dutra (PT-SE) para confirmar sua afirmação de que, como integrante do governo FHC,
nunca fez discriminação partidária no atendimento a parlamentares, prefeitos e governadores.
"Em relação à Prefeitura de Aracaju (SE), que é do PT, o senhor
sempre teve um comportamento
republicano. Nunca discriminou", afirmou Dutra.
Eduardo Suplicy (PT-SP) disse
que Serra cumpriu um ""papel extraordinário" como opositor de
Lula, conduzindo-se de maneira
respeitosa e mostrando capacidade de conhecimento do país.
Num trecho do discurso interpretado por ouvintes como recado a Lula, Serra disse que agir com
transparência tem sido um dos
critérios fundamentais de sua trajetória. "É inimaginável, para
mim, dizer uma coisa hoje e outra
radicalmente amanhã, sem ao
menos explicar por que mudei. É
inimaginável, para mim, dizer
uma coisa na oposição e, uma vez
no governo, fazer o contrário,
sem que haja razão aparente para
a mudança."
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