São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003 |
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UM ANO DEPOIS Em balanço, presidente diz que decisões amargas são "do governo" Lula faz defesa de Palocci e endossa "política do possível"
WILSON SILVEIRA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Ao fazer o balanço de um ano do seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma defesa veemente da política econômica e do seu condutor, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Após elogiá-lo, Lula disse que a política de juros e aperto fiscal é de todo o governo. "Não tem política do Palocci, tem política de governo. A política econômica é a que nós, do governo, entendemos que era possível fazer", disse. Lula reconheceu que o ministro da Fazenda é o principal alvo de pressões e que "não foram poucos os momentos em que os companheiros ficavam perguntando se o companheiro Palocci não estava errando". Segundo ele, o ministro teve a "maestria" de não "ceder a nenhuma pressão que colocasse em risco a estratégia de construir um país com base mais sólida". Não houve menção direta aos efeitos colaterais da política econômica, como a perspectiva de crescimento zero neste ano, o aumento do desemprego de 10,5% em janeiro para 12,9% em outubro e a queda da renda dos trabalhadores de 11,6% nos primeiros dez meses do ano -dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Às vésperas de uma reforma ministerial, Lula elogiou apenas outros 4 dos seus 35 ministros: José Dirceu (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Exteriores), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Os três últimos, que não pertencem ao PT, foram chamados de "mascates". O presidente defendeu o tamanho de sua equipe: "Tem muita gente que fala que tem muito ministério. Olha o pouquinho de ministério que tem para um país deste tamanho", disse. O ato reuniu cerca de 500 convidados no salão nobre do Palácio do Planalto, entre congressistas, prefeitos, sindicalistas e membros dos conselhos de Desenvolvimento Econômico e Social e Segurança Alimentar. Em uma hora e meia de discurso, Lula fez uma avaliação positiva de todas as áreas do governo, citando programas de quase todas as pastas. Deixou de mencionar, contudo, a política de ciência e tecnologia, a cargo de Roberto Amaral, cotado para deixar o cargo na reforma. Ao elogiar Dirceu pela articulação política para aprovar as reformas, Lula chegou a dizer que não conhecia "todos os acordos que ele faz no Congresso". Disse que foram plantadas as sementes e que a colheita começará em 2004. Repetiu que "o tempo da incerteza passou" e que "o país está pronto para crescer". Citou a herança do governo anterior, sem, porém, fazer críticas diretas a Fernando Henrique Cardoso. ELOGIO AO CONGRESSO -"Quero
cumprimentar os deputados e senadores pelo trabalho excepcional que fizeram. Um leigo pode
não se dar conta, mas, o que o
Congresso fez em sete meses para
votar a reforma da Previdência
Social e a reforma tributária, penso que em poucos momentos na
história da instituição foi feito." RESULTADOS - "Recuperamos a
estabilidade da economia para o
país crescer, construímos a base
política e parlamentar para aprovar reformas justas e necessárias,
ampliamos o diálogo com a sociedade para governar com mais democracia. Criamos um modelo
mais justo e abrangente para responder às demandas sociais. Fizemos do Brasil um interlocutor
respeitado na diplomacia e no comércio internacional." HERANÇA - "O Brasil estava em
profunda crise [no final de 2002].
Uma das mais graves da história
republicana. Os prognósticos
eram os piores possíveis. No final
do ano, o país havia perdido a estabilidade econômica, uma das
conquistas mais importantes de
nosso povo. Muitos acreditavam,
e com fortes motivos, que o Brasil
não resistiria à crise. DECISÕES AMARGAS - "O novo
governo teve que exercer rígido
controle das contas públicas. Tomou a drástica decisão de elevar o
superávit primário para 4,25% do
PIB. E foi uma medida de extremo
sacrifício, que obrigou a um corte
de R$ 14 bilhões no Orçamento da
União. Também foi preciso exercer rigorosa política monetária,
com taxas de juros restritivas à
atividade econômica. As decisões
amargas foram tomadas de forma
consciente e soberana, com os
olhos voltados para o futuro." DIÁLOGO - "Sem abrir mão de
convicções e princípios, o governo optou pelo entendimento, em
vez de impor ao Congresso a lógica da maioria contra a minoria. É
uma diferença fundamental nas
práticas políticas do novo Brasil." FOME ZERO - "O Fome Zero superou as dificuldades iniciais,
consolidou-se e já está implantado em 1.227 municípios, beneficiando cerca de 5 milhões de pessoas, especialmente no Norte e
Nordeste. Combinando medidas
emergenciais e estruturais, os resultados têm sido imediatos." BOLSA-FAMÍLIA - "Quando foi
lançado, no dia 30 de outubro, a
meta do Bolsa-Família era alcançar 3,6 milhões de famílias até o final deste ano. Quero dizer a vocês,
com muita satisfação, que daqui a
quatro dias, no dia 22, vamos ultrapassar a meta estabelecida:
atingiremos 3.615.596 famílias." MINISTROS MASCATES - "A nossa
política externa, sob a coordenação do Itamaraty, tem uma participação tripartite excepcional. O
Ministério da Agricultura e o do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, junto com o Celso Amorim, formam um tripé de
negociadores -o mascate político, o mascate agrícola e o mascate
industrial- que não tenho medo
de soltar em nenhuma arena do
mundo, para enfrentar qualquer
adversário, porque, certamente,
sairão vencedores." PALOCCI - "Penso que o companheiro Palocci, possivelmente a figura mais citada por todos aqueles que precisam de dinheiro do
governo, teve a maestria, a competência de não permitir que, em
nenhum momento desses 11 meses e meio de governo, ele pudesse
ceder a qualquer pressão que colocasse em risco a estratégia de
construir um país com base mais
sólida, economia mais segura e
sustentável e com a certeza de que
nós só poderemos dar um mundo
melhor à nossa família de 176 milhões de brasileiros se a gente tiver
coragem de fazer o que tem de ser
feito e, muitas vezes, dizer não é
mais difícil que dizer sim." POLÍTICA DE GOVERNO -"Não foram poucos os momentos em que
companheiros, mesmo os do PT
no Congresso, ficavam se perguntando se o companheiro Palocci
não estava errando. Quero aqui,
nestes 11 meses e meio de governo, dizer na presença de todos vocês: não tem política do Palocci,
não tem política do Lula, não tem
política do José Dirceu. Tem política de governo. Portanto, a política econômica não é a do Palocci,
não é a do Meirelles [Henrique
Meirelles, presidente do Banco
Central]. A política econômica é a
que nós, do governo, entendemos
que era possível fazer. DIRCEU - "Não sei se teríamos
conseguido fazer o que fizemos
na nossa relação com o Congresso
se a gente não tivesse a coordenação de um companheiro como o
José Dirceu. Não sei todos os
acordos que ele faz no Congresso,
o fato concreto é que em todos os
momentos difíceis o José Dirceu,
o presidente [do Senado, José]
Sarney, os nossos líderes, mais o
João Paulo [presidente da Câmara], depois de tanta "choradeira",
me comunicam: "Olhe, foi feito o
acordo, vai votar amanhã e vai
passar". E as coisas aconteceram
como foi prognosticado." ALICERCE - "Nós temos consciência de que as mudanças de
que o Brasil precisa não serão
obra de um mandato, de dois
mandatos ou de uma década.
Quem sabe, seja obra de uma ou
mais gerações. O que é importante é que o alicerce feito para essa
mudança seja muito sólido, para
que a casa não caia com o primeiro vento forte ou primeira chuva." |
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