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JANIO DE FREITAS
Por baixo do festival
A "semana José Serra" foi
nos jornais, TV e rádios,
mas, fora deles, a semana eleitoral foi dos críticos em geral da
política econômica e, entre eles,
sobretudo dos concorrentes de
José Serra que depositam suas
pretensões eleitorais na insatisfação com o governo Fernando
Henrique Cardoso.
Nunca se viu tantas páginas
de jornal preenchidas, à muque
em muitos casos, com o pré-lançamento formal de um candidato, e, ainda por cima, já mais do
que lançado e em posição ingrata nas pesquisas. Debaixo do
Festival Serra, seu suposto patrono Fernando Henrique mandou de Moscou para a mídia,
em ondas diárias, farta condenação ao seu governo. Material
de oposição assinado pelo próprio presidente e endosso antecipado aos eleitores que se ponham contra desdobramentos
do fernandismo. Fernando Henrique definiu o FMI e o Banco
Mundial como entidades incapazes, por obsoletas. É a esse
FMI incapaz que está entregue a
orientação da política econômico-financeira do Brasil, por intermédio de quatro acordos com
ele feitos por Fernando Henrique. Em razão dos quais o governo abre periodicamente as
contas nacionais a um fiscal do
FMI, que vem verificar a continuidade da submissão às determinações feitas.
Foram gastos sete anos para
que o governo Fernando Henrique permitisse ao Brasil um saldo no comércio exterior, US$ 2,6
bilhões. Qualificação desse saldo
feita pelo próprio Fernando
Henrique: "Isso é ridículo". Pudera. Desde o início do primeiro
mandato, em 95, o governo sufocou, sob críticas à sua política
econômica e cambial, a produção exportadora. O "ridículo" é
obra sua. E quem dera que fosse
apenas ridículo, quando tem sido uma política antinacional.
Ainda que fosse por "efeito da
vodca", como admitiu o próprio,
Fernando Henrique quis se curvar mais aos críticos e aos oposicionistas. E atacou a concentração da renda e reclamou a distribuição da riqueza. Na sexta-feira em que sua mensagem sucumbia ao Festival Serra, o professor Fernando Nogueira da
Costa assim titulava e iniciava
um artigo na Folha: "Suazilândia, Nicarágua, Brasil... Essa é a
ordem de um ranking vergonhoso. O Brasil é o terceiro país em
desigualdade de renda no mundo, em uma lista de 162 países".
Jamais a concentração de renda
foi tão incentivada (e tão criticada) no Brasil como nos sete anos
do governo Fernando Henrique.
Sem propaganda
Apesar das muitas afirmações
impressas de que o PSDB afinal
se uniu, José Serra continua com
os mesmos problemas, senão
com mais, no Ceará, em São
Paulo, no Rio e em Minas. Nos
quatro estados em que o PSDB
tem melhor estrutura e presença.
A penetração de José Serra nas
redações principais está pintando um quadro que não se confirma na realidade. Para atingi-lo,
Serra precisará, tanto quanto a
prometida melhora nas pesquisas em curto prazo, realizar
composições nem sempre fáceis.
Em um caso, Ceará, talvez até
impossível.
Para dizer o mínimo, a formalização do lançamento de Serra
nada mudou, por si só, na situação dele ou no PSDB.
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