São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Por baixo do festival

A "semana José Serra" foi nos jornais, TV e rádios, mas, fora deles, a semana eleitoral foi dos críticos em geral da política econômica e, entre eles, sobretudo dos concorrentes de José Serra que depositam suas pretensões eleitorais na insatisfação com o governo Fernando Henrique Cardoso.
Nunca se viu tantas páginas de jornal preenchidas, à muque em muitos casos, com o pré-lançamento formal de um candidato, e, ainda por cima, já mais do que lançado e em posição ingrata nas pesquisas. Debaixo do Festival Serra, seu suposto patrono Fernando Henrique mandou de Moscou para a mídia, em ondas diárias, farta condenação ao seu governo. Material de oposição assinado pelo próprio presidente e endosso antecipado aos eleitores que se ponham contra desdobramentos do fernandismo. Fernando Henrique definiu o FMI e o Banco Mundial como entidades incapazes, por obsoletas. É a esse FMI incapaz que está entregue a orientação da política econômico-financeira do Brasil, por intermédio de quatro acordos com ele feitos por Fernando Henrique. Em razão dos quais o governo abre periodicamente as contas nacionais a um fiscal do FMI, que vem verificar a continuidade da submissão às determinações feitas.
Foram gastos sete anos para que o governo Fernando Henrique permitisse ao Brasil um saldo no comércio exterior, US$ 2,6 bilhões. Qualificação desse saldo feita pelo próprio Fernando Henrique: "Isso é ridículo". Pudera. Desde o início do primeiro mandato, em 95, o governo sufocou, sob críticas à sua política econômica e cambial, a produção exportadora. O "ridículo" é obra sua. E quem dera que fosse apenas ridículo, quando tem sido uma política antinacional.
Ainda que fosse por "efeito da vodca", como admitiu o próprio, Fernando Henrique quis se curvar mais aos críticos e aos oposicionistas. E atacou a concentração da renda e reclamou a distribuição da riqueza. Na sexta-feira em que sua mensagem sucumbia ao Festival Serra, o professor Fernando Nogueira da Costa assim titulava e iniciava um artigo na Folha: "Suazilândia, Nicarágua, Brasil... Essa é a ordem de um ranking vergonhoso. O Brasil é o terceiro país em desigualdade de renda no mundo, em uma lista de 162 países". Jamais a concentração de renda foi tão incentivada (e tão criticada) no Brasil como nos sete anos do governo Fernando Henrique.

Sem propaganda
Apesar das muitas afirmações impressas de que o PSDB afinal se uniu, José Serra continua com os mesmos problemas, senão com mais, no Ceará, em São Paulo, no Rio e em Minas. Nos quatro estados em que o PSDB tem melhor estrutura e presença.
A penetração de José Serra nas redações principais está pintando um quadro que não se confirma na realidade. Para atingi-lo, Serra precisará, tanto quanto a prometida melhora nas pesquisas em curto prazo, realizar composições nem sempre fáceis. Em um caso, Ceará, talvez até impossível.
Para dizer o mínimo, a formalização do lançamento de Serra nada mudou, por si só, na situação dele ou no PSDB.


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