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Bird reduz empréstimos ao Brasil
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Bird (Banco Mundial) reduziu pela metade os empréstimos
dados ao Brasil para projetos de
desenvolvimento econômico e
social devido à crise brasileira,
que levou a um arrocho fiscal.
Em 1998, primeiro ano em que o
Brasil teve que buscar ajuda do
FMI (Fundo Monetário Internacional) no governo de Fernando
Henrique Cardoso, o Bird liberou
US$ 1,266 bilhão para financiar
projetos de educação, saúde, infra-estrutura e combate à pobreza. Em 2002 os empréstimos foram de apenas US$ 542 milhões.
A razão para a queda dos desembolsos aparece num documento do Bird. "Os baixos desembolsos são resultado direto da
crise fiscal e econômica que afeta
os governos federal e estaduais e
das medidas que foram tomadas
para administrar o endividamento e a liquidez e atingir as metas de
ajuste fiscal", diz o documento
"Estratégia de Assistência ao
País", publicado em 2000.
A linha de crédito para projetos
específicos depende de contrapartidas do governo para serem
liberadas. Normalmente, o Banco
Mundial financia de 50% a 75%
do valor do projeto. O dinheiro só
é liberado após o governo contribuir com sua parte. Como essas
contrapartidas fazem parte do
Orçamento, o governo brasileiro
teve de cortar esses gastos.
A queda dos desembolsos do
banco para projetos sociais aconteceu num momento em que o
Estado necessitava de mais recursos para garantir uma rede de
proteção social e compensar as
perdas de renda das populações
mais carentes por causa da crise,
diz o assessor da ONG Rede Brasil, Aurélio Vianna. A ONG acompanha as políticas e empréstimos
de organismos multilaterais.
"O mais grave é que o próprio
banco exige o ajuste fiscal que limita a capacidade do Estado de
desenvolver políticas públicas de
desenvolvimento social. Esse
mesmo ajuste restringe os empréstimos do Bird para projetos
no Brasil", diz Vianna.
Mudança de foco
O total de dinheiro emprestado
pelo Banco Mundial, no entanto,
não se reduziu. A partir de 1999, o
banco passou a dar ao Brasil empréstimos para ajudar o enfrentamento da crise. Esse dinheiro veio
com os pacotes de socorro elaborados pelo FMI.
A Rede Brasil afirma que essa é
uma mudança de foco do banco.
O organismo, que deveria ser de
desenvolvimento, passou a atuar
para resolver crises de curto prazo
e perdeu capacidade de colaborar
para um projeto de longo prazo.
O dinheiro que vem para os
programas de ajuste não está vinculado a um projeto específico.
Para obter o dinheiro, o país precisa se comprometer a levar
adiante reformas estruturais e políticas. Como o dinheiro não vem
carimbado para um destino específico, os recursos acabam sendo
usados para pagar juros da dívida
e controlar o câmbio, diz Vianna.
Segundo o assessor da ONG, é
preciso criar mecanismos para
garantir que o dinheiro do banco
seja de fato usado para projetos
sociais. O Bird argumenta, nos
seus relatórios sobre o Brasil, que
a vinculação entre recursos para
ajuste e reformas do Estado são
também importantes para o desenvolvimento, pois ajudam a
criar as precondições para o crescimento auto-sustentado.
Embora o Bird justifique do
ponto de vista social os seus empréstimos das linhas de ajuste, as
atuais relações do Brasil e do banco são atípicas, devido às repetidas crises financeiras dos últimos
anos. Segundo a assessoria do
Bird em Nova York, o normal é
ter mais dinheiro para projetos do
que para ajustes de curto prazo.
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