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Homenageado, Chávez ataca mídia brasileira
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Em um discurso de duas horas e nove minutos de duração,
o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fez ontem à noite no
Rio um virulento ataque aos
meios de comunicação do Brasil e da América Latina.
Chávez identificou a mídia ao
"imperialismo norte-americano" e às "oligarquias sul-americanas". "Por mais dinheiro que
gaste a oligarquia, com seus jornais, com suas estações de rádio ou suas televisões muito
poderosas, acontece que os povos despertaram."
Ele afirmou que a cobertura
jornalística sobre seus atos faz
parte da "estratégia inimiga" de
"impedir que a idéia da revolução bolivariana tenha impacto". Pregou: "É preciso pulverizar a estratégia inimiga".
Antigo coronel do Exército, o
presidente citou o herói da independência da Venezuela e de
outros países da região Simón
Bolívar (1783-1830): "É como
uma guerra. Uma artilharia. Simón Bolívar dizia que a imprensa é a artilharia do pensamento. Temos que ganhar a batalha ideológica".
Acrescentou: "O jornalismo
de hoje é subordinado na maior
parte das vezes a interesses
contrários ao povo e à pátria.
Com exceções honrosas, claro.
Refiro-me aos grandes meios
de comunicação".
O presidente fez as afirmações no momento em que a
oposição o acusa de promover
um cerco à liberdade de imprensa em seu país. Há dias ele
anunciou que o governo não renovará em maio a concessão da
rede de televisão RCTV, acusada de apoiar o golpe de Estado
fracassado em 2002. Ontem
reafirmou o fim da concessão.
Chávez fez as declarações na
Assembléia Legislativa do Rio,
ao receber a medalha Tiradentes. O autor da iniciativa foi o
deputado Paulo Ramos (PDT).
O alvo central dos ataques do
líder venezuelano foi o jornal
"O Globo". Com o diário na
mão, citou título e subtítulo da
primeira página da edição de
ontem: "Declaração do Mercosul vai pedir respeito à democracia; documento é assinado
em plena escalada autoritária
de Hugo Chávez".
Antes, citou a Folha, mas
voltou atrás: "As oligarquias
dos nossos países andam um
pouco preocupadas. Assim eu
creio. A Folha de S.Paulo [...] e
"O Globo". Não, "O Globo", corrijo, corrijo".
"O papel não tem culpa"
Em seguida, disse que o jornal o fustigou "com veneno".
Quando o público de cerca de
500 pessoas começou a vaiar o
diário, Chávez vaiou também e
disse: ""O Globo", não tenho dúvidas de dizer, é inimigo do povo brasileiro. É inimigo do povo
latino-americano". Foi aplaudido pelo presidente da Casa,
Jorge Picciani (PMDB).
A assistência pediu: "Rasga,
rasga!". Chávez, jornal à mão,
respondeu: "O papel não tem
culpa". Ele disse que "os fascistas queimavam livros" e não
rasgou. O público gritou: "O povo não é bobo, abaixo a Rede
Globo" e "Brizola, Chávez, a luta continua".
O presidente prosseguiu: "Os
oligarcas donos de "O Globo"
tratam de me desfigurar. Eles
são os desfigurados [...] "O Globo" não faz mais que cumprir o
mandato do amo imperialista".
Quando citou Lula, parte da
platéia vaiou o presidente do
Brasil, e Chávez o defendeu.
Procurado pela Folha, "O
Globo" fez uma breve manifestação: "O que a gente faz aqui é
jornalismo", disse o editor-executivo Ascânio Seleme.
Depois da ida à Assembléia,
Chávez visitou o arquiteto Oscar Niemeyer. Voltaria ainda
ontem à noite para Caracas.
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