São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morales insiste em rever preço do gás vendido ao Brasil

"Não é possível que a Bolívia siga subvencionando gás para o Brasil", diz o presidente boliviano na cúpula do Mercosul

Após crítica, Lula se reuniu com colega no Rio e marcou para o próximo dia 14 de fevereiro um encontro para discutir o preço do produto


JANAINA LAGE
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Depois da queixa do presidente da Bolívia, Evo Morales, sobre o preço da venda de gás ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve uma reunião extraordinária com o colega sul-americano, no começo da tarde de ontem, no hotel Copacabana Palace.
Lula determinou a seus auxiliares um estudo e marcou uma reunião para 14 de fevereiro, quando dará uma resposta a Morales sobre o preço do gás.
O presidente boliviano partiu sem dar entrevista. Na cúpula, ele defendeu "profundas reformas" no Mercosul e afirmou que o bloco só terá sentido se atender às maiorias nacionais e incluir pequenos produtores e empresários.
Morales afirmou que jamais será possível acabar com as assimetrias, mas lembrou que a Bolívia fornece gás a preço subsidiado para Cuiabá, a cerca de US$ 1 por milhão de BTU (unidade térmica britânica). "Não é possível que a Bolívia siga subvencionando gás para o Brasil."
Pouco antes de tecer críticas durante o discurso dos países membros e associados do bloco, Morales havia afirmado, em entrevista, contar com a boa vontade de Lula para resolver o impasse sobre o preço do gás. A Bolívia vende gás para a Argentina a US$ 5 por BTU.
Morales anunciou ainda que pretende nacionalizar o setor de mineração neste ano e afirmou que os presidentes do Uruguai e do Paraguai se sentiam sozinhos no bloco. "A América do Sul precisa se unir para lutar contra a soberba do império", disse.
Ressaltou a diversidade de origens dos presidentes da região, com Lula, "um operário", Morales, "um indígena", Chávez, "um militar patriota" e Correa, "um intelectual e economista". Essa seria, para Morales, a chave para modelos de integração adequados a todos os segmentos da sociedade.
Sobre a ascensão do eixo Venezuela-Bolívia-Equador na América Latina, Morales afirmou que, antes, só havia "um líder, um comandante, um povo" que lutava contra o império, numa referência a Fidel Castro. "Começamos a nos valorizar", disse. Segundo ele, a Bolívia suportou a total intromissão do Banco Mundial e do FMI. A recuperação da economia em 2006 ocorreu, no entanto, sem a adoção de medidas impopulares, segundo Morales.
"Se, antes, tínhamos apenas um presidente como Fidel, agora, temos outros como Chávez, a quem respeito muito. Terminou na América Latina a época das democracias servis subordinadas ao império."
O presidente da Bolívia criticou também a demora para ingressar no Mercosul. "Os presidentes Lula e Chávez por vezes se queixam da burocracia. Eu também devo me queixar."


Texto Anterior: Homenageado, Chávez ataca mídia brasileira
Próximo Texto: Sem referencial, preço do gás é fruto de acordo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.