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A partir de agora, Mercosul será sabatinado pela OMC
Entidade vai avaliar se práticas comerciais do bloco estão dentro de suas regras
Organização que regula o comércio no mundo torna mais abrangentes normas
de fiscalização que antes se aplicavam apenas a países
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
O Mercosul, que já tem um
cacho de problemas internos
como ficou evidente na cúpula
do Rio, passará a partir deste
ano a enfrentar outro desafio,
este externo: terá que se submeter a uma espécie de sabatina promovida pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
No mês passado, a OMC decidiu estender aos blocos regionais, como o Mercosul, o que no
jargão da instituição se chama
TPR (Trade Policy Review, ou
revisão da política comercial).
Até agora, apenas países se submetiam a periódicas avaliações
para verificar se suas práticas
comerciais estão ou não de
acordo com as regras da OMC.
O que pode causar problemas
para o Mercosul é a quantidade
enorme de violações ao livre
comércio, concedidas a países-membros e que se tornam ainda mais abrangentes agora que
a Bolívia pede adesão, mas não
quer cobrar tarifas de importação que possam encarecer certos produtos ou insumos.
Pelas regras da OMC, qualquer país que conceda uma
vantagem a outro membro é
obrigado a estendê-la a todos os
demais (150 países participam
da organização). A menos que a
concessão esteja no contexto
de um acordo regional de livre
comércio, como é o Mercosul.
Aí, a concessão fica limitada aos
parceiros do bloco.
Mas a OMC estabelece também que, para que um acordo
regional seja aceito, é preciso
que ele cubra "substancialmente todo o comércio". Nunca foi
definido claramente quanto é
"substancialmente", mas há
certo consenso informal no
sentido de considerar que, se os
parceiros de um bloco tiverem
80% de seu comércio coberto,
merece a aprovação. Agora a
OMC vai se debruçar sobre o
artigo que define tal regra, justamente para tornar quantificável o "substancialmente".
Com as concessões presumíveis à Bolívia mais as que já estão estabelecidas no período de
transição para a Venezuela,
mais o desejo do governo brasileiro de oferecer vantagens a
Uruguai e Paraguai, como compensação por serem os mais pobres do Mercosul, pode ocorrer
que a sabatina da OMC descubra que as regras do Mercosul
não estão cobrindo "substancialmente todo o comércio".
Não haveria punição, mas
uma recomendação para sanar
o problema, o que é sempre
uma pressão adicional para um
bloco que já as têm de sobra.
A decisão de estender as
TPRs aos blocos regionais acabou servindo para que o Brasil
fosse acionado pelo comando
da OMC para domar a Venezuela. O governo de Hugo Chávez (mais Cuba) era contra, por
entender que a Rodada Doha
de negociações comerciais já
estava tratando do tema. O Brasil, que apoiava a extensão das
TPRs, acabou convencendo os
venezuelanos e os cubanos.
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