São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Sem Lula, Fórum Social se volta à África

Decisão do presidente de não ir ao evento, no Quênia, mas participar do Fórum de Davos, é criticada por organizadores

Para MST e diretor do Ibase, presidente marca distância de movimentos sociais com a escolha; 400 brasileiros são esperados no encontro


DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NAIRÓBI

Causou desconforto e "perplexidade" entre organizadores do 7º Fórum Social Mundial a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não ir ao evento, que começa neste sábado em Nairóbi, no Quênia, mas comparecer ao encontro "oposto", o Fórum Econômico Mundial, que acontece na semana que vem, em Davos, na Suíça.
Um dos idealizadores do Fórum Social, o ex-assessor da Presidência e amigo de Lula, Oded Grajew, frisou que não faria "julgamento de valor", mas afirmou, que a idéia de promover a coincidência de datas entre os dois eventos, desde a criação do Fórum Social Mundial, em 2001, era "fazer as pessoas escolherem seus caminhos, dizerem onde se sentem mais identificadas".
"Tem de perguntar para ele [como avalia]. As pessoas vão onde acham importante estar", disse Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
Outro organizador do fórum, Cândido Grzybowski, foi mais direto: "Eu lamento, me deixa muito perplexo", disse ele, que é diretor-geral do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas). "Nós o tínhamos como parceiro desde o início. A ida de Lula a Davos não rompe nada, mas aprofunda esse estranhamento, esse distanciamento com a sociedade civil", disse.
Também participante do grupo brasileiro organizador do Fórum, João Paulo Rodrigues, do MST, também fez crítica a Lula: "[A ausência] sinaliza que há uma mudança de rumos no governo Lula e na figura do próprio presidente Lula do ponto de vista da relação com a esquerda".
É a primeira vez, desde que chegou à Presidência, que Lula opta por um dos fóruns. Em 2003 e em 2005, o presidente participou dos dois encontros, foi a Porto Alegre, que sediava o social, e à Suíça.
Em 2004 (na Índia) e 2006 (na Venezuela e no Mali e no Paquistão), Lula não foi ao social, mas também não foi ao econômico. Nos dias 27 e 28 deste mês, vai a Davos. A Folha não obteve resposta da Presidência sobre os motivos da ausência de Lula no Quênia.

Temas africanos
Sem a presença de Lula e do presidente venezuelano Hugo Chávez, a 7ª. Edição do Fórum Social Mundial, que começa hoje em Nairóbi (Quênia), tentará ser menos um evento para discutir alternativas às políticas neoliberais ou experiências de governos de esquerda, e mais um debate centrado na perspectiva africana para problemas como HIV/ Aids, pobreza, endividamento, neocolonialismo e conflitos armado.
O enfoque é considerado "natural" pelo comitê organizador, uma vez que o evento ocorre no continente, e é um "retorno" às raízes do Fórum depois da controvérsia da edição venezuelana, em 2006. A influência de Chávez -que encerrou o evento em uma cerimônia transmitida pela TV - levou para o centro das discussões o risco de "aparelhamento".
Antes da chegada dos 150 mil participantes esperados, os organizadores do Fórum tentavam resolver problemas como falta de hotéis, dificuldade de transporte e segurança. A cidade é considerada violenta.
A expectativa do grupo organizador do Fórum no Brasil é que 400 pessoas de ONGs e movimentos sociais participem do encontro. A comitiva do governo Lula, que chega à noite a Nairóbi em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), terá 34 pessoas de 11 ministérios e será chefiada pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci. (ANA FLOR E FLÁVIA MARREIRO)

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