São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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"Miguel não tinha nenhuma atividade política", diz irmão

Para Carlos Nuet, ele veio ao Brasil por causa de dívida que família contraíra com seu pai durante Guerra Civil Espanhola

"Acho que ele foi ao país com uma moça, eu diria que sua companheira era uma jornalista", afirma a sobrinha Carmen Francisco

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BARCELONA

Uma relação distante, mas alimentada pela possibilidade de reencontro. Quando o jovem Miguel Sabat Nuet deixou Barcelona para trabalhar na Venezuela, a Espanha vivia a ditadura franquista e tinha uma economia em frangalhos. Na nova vida, Miguel se casou, teve três filhos, se divorciou e, a partir daí, sua biografia começa a ganhar contornos imprecisos. A Folha localizou, em Barcelona, Carlos Sabat Nuet, 78, irmão de Miguel, e Carmen Francisco, 61, sobrinha.  

FOLHA - Quando foi a última vez que o sr. recebeu notícias diretamente de Miguel?
CARLOS SABAT
- Foi por carta, em 1960, aproximadamente.

FOLHA - E como ele estava?
SABAT
- Ele escrevia pouco. E estávamos numa época de muito trabalho, com filhos, e a relação ficou um pouco distante. Ele me disse que havia feito um livro para a igreja e estava chateado porque disseram que havia copiado tudo.

FOLHA - Por que Miguel foi para a Venezuela?
SABAT
- Ele estava solteiro e queria melhorar de vida.
CARMEN FRANCISCO - Naquela época tínhamos um tio lá. SABAT - Ele foi acolhido por esse tio. Tinha uns 26 anos quando foi para lá para trabalhar.

FOLHA - Em que atividade?
SABAT
- Ele tinha carteira de motorista e, nas construções, quando chegou a Caracas, precisavam de gente para dirigir os caminhões de obras.

FOLHA - Como foi a vida para ele na Venezuela?
SABAT
- Isso está um pouco vago. Ele se casou com uma moça daqui, que foi para lá, e com ela teve três filhos. Ela se chamava Adoración Diaz e já morreu.

FOLHA - Por que ele foi ao Brasil?
SABAT
- Ver se podia recuperar algo da dívida que tinham contraído com nosso pai, ainda durante a Guerra Civil Espanhola [1936-1939]. Sei que encontrou essa família no Brasil, mas, claro, ele não tinha documento para comprovar a dívida.
CARMEN - Nos falaram que essa família era importante no Brasil naquela época. O tio que o acolheu na Venezuela nos disse para esquecer tudo. E acho que Miguel foi ao Brasil com uma moça. Eu diria que sua companheira era uma jornalista. Me lembro do tio ter comentado isso. Nas cartas que mandava para minha mãe, falava que sentia saudades, mas nunca explicava bem sua vida.

FOLHA - Quando vocês souberam da morte dele?
SABAT
- Ao cabo de um ou dois meses.
CARMEN - Para mim, acho que foi depois. Porque no meu casamento, em 1975, eu queria muito trazê-lo da Venezuela para ver a cerimônia.

FOLHA - Vocês acreditam que ele pode ter se suicidado?
SABAT
- Não.

FOLHA - Ele tinha alguma militância política?
SABAT
- Não, Miguel não tinha nenhuma atividade política.

FOLHA - Vocês mantiveram contato com os filhos dele?
SABAT
- Sim. Lorenzo e Maria del Carmen vieram à Espanha há alguns anos. Mas depois não tivemos mais contato.

FOLHA - Que medidas a família vai tomar a partir de agora?
SABAT
- Para nós foi uma grande surpresa o que você nos contou. O que posso dizer é que do sangue do meu irmão, nós, irmãos e sobrinhos, não queremos nada, nenhum tipo de indenização. Mas quem tem prioridade para decidir sobre isso são os filhos do Miguel.

FOLHA - Como vocês se sentem em relação ao que aconteceu?
SABAT
- Foi uma grande injustiça. Sinto dor e angústia por não ter podido ajudá-lo quando ele mais precisava de nós.


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