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"Miguel não tinha nenhuma atividade política", diz irmão
Para Carlos Nuet, ele veio ao Brasil por causa de dívida que família contraíra com seu pai durante Guerra Civil Espanhola
"Acho que ele foi ao país com uma moça, eu diria que sua companheira era uma jornalista", afirma a sobrinha Carmen Francisco
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BARCELONA
Uma relação distante, mas
alimentada pela possibilidade
de reencontro. Quando o jovem
Miguel Sabat Nuet deixou Barcelona para trabalhar na Venezuela, a Espanha vivia a ditadura franquista e tinha uma economia em frangalhos. Na nova
vida, Miguel se casou, teve três
filhos, se divorciou e, a partir
daí, sua biografia começa a ganhar contornos imprecisos. A
Folha localizou, em Barcelona,
Carlos Sabat Nuet, 78, irmão de
Miguel, e Carmen Francisco,
61, sobrinha.
FOLHA - Quando foi a última vez
que o sr. recebeu notícias diretamente de Miguel?
CARLOS SABAT - Foi por carta, em
1960, aproximadamente.
FOLHA - E como ele estava?
SABAT - Ele escrevia pouco. E
estávamos numa época de muito trabalho, com filhos, e a relação ficou um pouco distante.
Ele me disse que havia feito um
livro para a igreja e estava chateado porque disseram que havia copiado tudo.
FOLHA - Por que Miguel foi para a
Venezuela?
SABAT - Ele estava solteiro e
queria melhorar de vida.
CARMEN FRANCISCO - Naquela
época tínhamos um tio lá.
SABAT - Ele foi acolhido por esse tio. Tinha uns 26 anos quando foi para lá para trabalhar.
FOLHA - Em que atividade?
SABAT - Ele tinha carteira de
motorista e, nas construções,
quando chegou a Caracas, precisavam de gente para dirigir os
caminhões de obras.
FOLHA - Como foi a vida para ele na
Venezuela?
SABAT - Isso está um pouco vago. Ele se casou com uma moça
daqui, que foi para lá, e com ela
teve três filhos. Ela se chamava
Adoración Diaz e já morreu.
FOLHA - Por que ele foi ao Brasil?
SABAT - Ver se podia recuperar
algo da dívida que tinham contraído com nosso pai, ainda durante a Guerra Civil Espanhola
[1936-1939]. Sei que encontrou
essa família no Brasil, mas, claro, ele não tinha documento
para comprovar a dívida.
CARMEN - Nos falaram que essa
família era importante no Brasil naquela época. O tio que o
acolheu na Venezuela nos disse
para esquecer tudo.
E acho que Miguel foi ao Brasil com uma moça. Eu diria que
sua companheira era uma jornalista. Me lembro do tio ter
comentado isso. Nas cartas que
mandava para minha mãe, falava que sentia saudades, mas
nunca explicava bem sua vida.
FOLHA - Quando vocês souberam
da morte dele?
SABAT - Ao cabo de um ou dois
meses.
CARMEN - Para mim, acho que
foi depois. Porque no meu casamento, em 1975, eu queria muito trazê-lo da Venezuela para
ver a cerimônia.
FOLHA - Vocês acreditam que ele
pode ter se suicidado?
SABAT - Não.
FOLHA - Ele tinha alguma militância política?
SABAT - Não, Miguel não tinha
nenhuma atividade política.
FOLHA - Vocês mantiveram contato com os filhos dele?
SABAT - Sim. Lorenzo e Maria
del Carmen vieram à Espanha
há alguns anos. Mas depois não
tivemos mais contato.
FOLHA - Que medidas a família vai
tomar a partir de agora?
SABAT - Para nós foi uma grande surpresa o que você nos contou. O que posso dizer é que do
sangue do meu irmão, nós, irmãos e sobrinhos, não queremos nada, nenhum tipo de indenização. Mas quem tem prioridade para decidir sobre isso
são os filhos do Miguel.
FOLHA - Como vocês se sentem em
relação ao que aconteceu?
SABAT - Foi uma grande injustiça. Sinto dor e angústia por
não ter podido ajudá-lo quando
ele mais precisava de nós.
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