São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002

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ELEIÇÕES-2002

Movimento tático visa dar espaço a articulação com legenda de Roseana

Jarbas recua e deixa vaga de vice de Serra "aberta" ao PFL

Marcia Gouthier/Folha Imagem
Pedro Piva (PSDB) discursa em sua despedida do Senado, para dar lugar a Serra, que volta à Casa


ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de Pernambuco, o peemedebista Jarbas Vasconcelos, comunicou ontem ao pré-candidato tucano José Serra e à cúpula do PMDB que abre mão de sua candidatura a vice na chapa do PSDB em favor de outro nome do próprio PMDB ou do PFL. Trata-se de um recuo estratégico.
Serra e Jarbas concluíram que o melhor é deixar a vaga de vice em aberto, para manter um poderoso instrumento de negociação com os partidos e dar margem de manobra ao próprio Jarbas para conversar e articular apoios a Serra.
"É importante não agredir o PFL, mantendo uma política de vizinhança e uma porta aberta", disse Jarbas à Folha. Ele continua sendo o vice preferido de Serra, mas foi apontado por influente líder tucano como canal privilegiado entre a candidatura tucana e o partido de Roseana Sarney, que está bem à frente nas pesquisas.
Depois de ter declarado o apoio a Serra, Jarbas perdeu o contato com a governadora do Maranhão, mas não com a cúpula pefelista.
"Se Roseana não quiser conversar, nós podemos conversar com Jorge Bornhausen [presidente do PFL" e com Marco Maciel [pefelista pernambucano e vice-presidente da República"", disse.
No comando da candidatura Serra, já se fala até num nome alternativo para a vaga de vice, no lugar de Jarbas: o do senador Paulo Souto (PFL), ex-governador da Bahia e o mais provável candidato ao governo do Estado.
Seria um "golpe de mestre", porque não só aumentaria o cacife político de Serra na Bahia como, de duas, uma: poderia neutralizar a rejeição do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) a Serra ou facilitar um apoio silencioso e tácito do líder baiano.
A hipótese, porém, é considerada um "balão de ensaio", apenas para testar o pragmatismo do PFL, que em nenhum minuto admitiu abrir mão da candidatura Roseana em favor de Serra.
Outra facilidade para os tucanos com o adiamento estratégico da decisão de Jarbas é iniciar contatos com líderes do PMDB que começam a ficar sem saída na eleição presidencial. Exemplo: o senador Pedro Simon (RS).
Jarbas sugeriu ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e ao líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), que organizassem "uma comissão" para ir a Porto Alegre sondar Simon como um dos vices possíveis de Serra.
Simon se diz candidato a presidente, mas sabe que suas chances de ter a legenda são quase nulas. Ao mesmo tempo, dificilmente apoiaria Roseana, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Anthony Garotinho (PSB) ou Ciro Gomes (PPS).
Na opinião das cúpulas do PSDB, do PMDB e do PFL, o ideal seria manter a aliança entre os três partidos governistas.
O problema é estabelecer a favor de quem: Roseana, hoje com mais de 20% nas pesquisas, ou Serra, que teve 7% no último levantamento do Datafolha, mas tem apoio do Planalto?
A necessidade de manter a aliança foi explicada ontem por Jarbas: "A coisa já está difícil com aliança, que dirá sem aliança".
O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), esteve ontem em Brasília, onde se encontraria com o presidente Fernando Henrique Cardoso e provavelmente também com Serra. Ele também se reuniria com o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), que foi convidado para comandar a campanha de Serra e disse que só aceitaria após falar com Tasso.
Serra ligou para Tasso segunda à noite, quando soube que o governador participaria da pré-convenção tucana de domingo, para a qual FHC gravará ou escreverá uma mensagem de apoio a Serra.

Colaboraram KENNEDY ALENCAR e RAQUEL ULHÔA da Sucursal de Brasília

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