São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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INTELIGÊNCIA

Agência teria mais de 20 relatórios sobre o caso

Senado quer ouvir espião da Abin sobre envio de verba das Farc ao PT

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O conteúdo de duas entrevistas publicadas na última edição da revista "Veja" sugere que a investigação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre a promessa de contribuição eleitoral das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) ao PT teria produzido mais de duas dezenas de relatórios, em um trabalho que teria se estendido pelo menos até meados de 2003.
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) convocará, para depoimento, o espião entrevistado por "Veja", o coronel Eduardo Adolfo Ferreira, seu contato na Abin, e o diretor-adjunto da Abin, José Milton Campana -segundo a reportagem, os manuscritos produzidos pelo infiltrado eram digitados no gabinete de Campana.
Em audiência pública, diante de parlamentares que integram a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, o ministro-chefe do GSI, general Jorge Armando Félix, e o diretor da Abin, delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, afirmaram, na última quinta-feira, que haveria um único documento relacionado às Farc cujo teor faz referência a promessa de doação de dinheiro.
Procurado ontem pela Folha, o general Félix reafirmou o que havia dito dois dias antes: "Com relação àquele tema específico [promessa de contribuição de US$ 5 milhões para a campanha presidencial do PT], o documento que temos hoje [nos arquivos da Abin] é somente aquele".
O general disse ter em mãos todos os documentos já produzidos e guardados pela Abin que têm relação com as Farc. "Hoje [ontem] a revista apresenta uma série de outros nomes. Vamos ouvi-los", afirmou ele.
Conforme a reportagem, o espião da Abin, infiltrado no movimento sindical, produziu relatos sobre ocasiões em que as promessas de doação eleitoral teriam sido feitas. Os papéis teriam sido entregues ao coronel Ferreira.
Ferreira, que deixou a agência em 2003, após sete anos, contou à "Veja" que, com a ajuda do setor de inteligência da Polícia Federal, "a Abin obteve três ordens de pagamento, somando cerca de US$ 1 milhão, com indícios de que se trata de parte do dinheiro das Farc para o PT".
O diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda, disse que fará um levantamento no órgão, mas acha "improvável" que uma investigação tenha sido feita. "Se foi feito, foi com autorização judicial para a quebra de sigilo e numa investigação formal. Acho difícil que não tivesse tomado conhecimento."


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