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PROTESTO
Crise leva presidente a cancelar pronunciamento
Índios ocupam a Câmara e só saem depois que Lula promete recebê-los
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cem índios de 28 tribos que
participavam de uma solenidade
na Câmara dos Deputados se recusaram a sair se não conseguissem uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O
impasse durou oito horas e só terminou quando, por fax, o Palácio
do Planalto se comprometeu a recebê-los hoje. A maior parte dos
índios usava pinturas de guerra.
Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência, se reunirá
com os índios às 9h e marcará
uma audiência com Lula. Às 10h,
eles serão recebidos pelo ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Uma nota dos indígenas pede a
"retirada de todos os garimpeiros
ilegais invasores das terras indígenas dos cinta-larga" (no dia 7, pelo menos 29 garimpeiros foram
mortos pelos cinta-larga em Rondônia) e o andamento de 40 processos de reconhecimento de reservas. Reivindicam ainda programas de educação e saúde e o
apoio a atividades produtivas.
A audiência na Câmara em homenagem ao Dia do Índio começou pela manhã, com 250 índios.
Líderes tribais discursaram no
plenário. Ao fim da sessão, quando restavam apenas cem, os líderes começaram a gritar que não
sairiam da Casa enquanto não
fossem recebidos por Lula.
Os deputados negociaram por
30 minutos e conseguiram que os
índios deixassem o plenário e ficassem no salão verde, na qual
eles dançaram e cantaram. "A
ocupação de um Poder não tem
amparo legal nem constitucional.
Cometem um erro violento", disse o deputado Professor Luizinho
(PT-SP), líder do governo na Câmara. À noite, eles deixaram o
Congresso e seguiram para o
acampamento "Terra Livre", em
frente ao Ministério da Justiça.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva cancelou o discurso que faria
no lançamento do kit família,
com o apoio do Unicef (Fundo
das Nações Unidas para a Infância), alegando estar "preocupado" com o conflito em Rondônia
e com o incidente na Câmara.
Lula pediu ao ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos)
que falasse em seu lugar, pegando
todos, inclusive Miranda, de surpresa. Miranda explicou que o
presidente estava preocupado
com a crise indígena.
O presidente da Funai, Mércio
Pereira Gomes, disse que o presidente deve homologar de forma
contínua a reserva indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima,
em no máximo dez dias. "A homologação deve sair no próximo
dia 27 ou no dia 28. O presidente
não tem outra possibilidade, pois
não homologá-la de forma contínua significaria retroceder e anular um trabalho de dez anos de demarcação das terras." A Presidência, informada das declarações do
presidente da Funai, não se pronunciou até o início da noite.
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