São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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FORÇAS ARMADAS

Do palanque, Lula vê manifestação por aumento salarial

Exército reprime protesto das mulheres de militares

Alan Marques/Folha Imagem
Ivone Luzardo, presidente da Unemfa, que reúne as mulheres de militares, se agarra a um carro da segurança do presidente


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em evento de comemoração dos 357 anos do Exército, que teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, soldados da Força reprimiram ontem uma manifestação de mulheres de militares que foram ao local exibir faixas de reivindicação por reajuste salarial para a categoria.
O tumulto começou em meio à solenidade, no Quartel General do Exército, quando 15 mulheres, a maioria delas vestida de preto, tentaram se aproximar do palanque onde estavam as autoridades. A cem metros do local, foram contidas por um grupo de aproximadamente 30 integrantes da Polícia do Exército.
Neste momento, algumas mulheres tentaram romper o cordão de isolamento. Um soldado chegou a sacar seu cassetete, enquanto algumas manifestantes gritavam palavras de ordem e se jogavam no chão. "O Lula chamou vocês [soldados] de idiotas. Quanto mais baixo o salário, mais otários vocês são", gritou, segura pelos soldados, Marina Bavaresco, vice-presidente da Anemfa (Associação Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas).
Os gritos das mulheres e o corre-corre dos soldados, que neste momento já eram uns 60, chamaram a atenção das autoridades.
Contidas, as mulheres se jogavam no chão. Marina Bavaresco ficou caída por alguns minutos, até que uma equipe trouxe uma maca para retirá-la do local. Ela tentou usar a saída para furar o bloqueio, mas foi novamente repreendida pelos soldados.
A situação somente se acalmou quando o comandante militar do Planalto, general Marius Teixeira Neto, resolveu conversar com as manifestantes. Logo após o presidente ter deixado o local, Ivone Luzardo, presidente da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), ainda fez um último protesto, agarrando-se a um carro da segurança presidencial.
O uso de mulheres nas manifestações se deve às regras das Forças Armadas, segundo as quais militares da ativa não podem fazer protesto nem promover greves, o que caracterizaria uma insubordinação. Em 2004, houve eventos com a presença de até 700 mulheres de militares.

Promessas
Hoje, elas cobram o cumprimento de uma promessa feita no ano passado pelo governo federal. Uma primeira parcela do reajuste então prometido, de 10%, já foi paga em setembro passado -restando uma complementação de 23%, que estava prevista para o primeiro trimestre deste ano.
No evento no QG, foi lida uma mensagem de Lula aos militares. No texto, o presidente citou a questão salarial como um objetivo de governo. "A valorização das Forças Armadas é um objetivo de governo, que pode ser traduzido na importância que estamos atribuindo a seu reaparelhamento."
À tarde, no Planalto, em solenidade de apresentação de novos oficiais-generais, Lula voltou a tocar no assunto. "Se não bastasse o desmonte da máquina pública, temos o grande desmonte no soldo e no salário tanto no setor público civil como no setor público militar, como se essas pessoas não tivessem famílias." A seguir, falou em "carinho" e "vontade política" para recompor os salários.
Anteontem, em reunião na Defesa, os comandantes das Forças Armadas delegaram ao vice-presidente a tarefa de cobrar publicamente a complementação do reajuste. Informado por Alencar sobre o pedido dos militares, Lula decidiu ontem assumir a tarefa.
Apesar da manifestação, a Folha apurou que o descontentamento ainda persiste, já que Lula teria feito promessa semelhante no ano passado, de trabalhar para "valorizar" as Forças Armadas.
Atualmente, Lula aguarda um posicionamento da Fazenda e do Planejamento sobre como lidar com o reajuste. Só os 10% oferecidos de forma linear aos militares representaram um volume extra de R$ 750 milhões no Orçamento de 2004 e de R$ 2,2 bilhões na previsão de 2005. (ANA FLOR, EDUARDO SCOLESE E JULIA DUAILIBI)

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