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505 ANOS DEPOIS
Há uma semana, durante viagem ao Senegal, presidente havia pedido perdão a africanos por escravidão
Dívida com índio não será paga agora, diz Lula
JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma semana após ter pedido
perdão aos africanos pela escravidão no Brasil, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o Estado "está longe" de
conseguir pagar a "dívida" social
com os índios brasileiros.
"Queria apenas dizer aos nossos
irmãos representantes, aqui, do
povo indígena brasileiro, que vai
levar muitos anos ainda para que
a gente consiga devolver aquilo
que um dia foi tirado de vocês. [...]
Sei que nós ainda estamos longe
de cumprir aquilo que temos que
cumprir", disse Lula, durante cerimônia de comemoração do Dia
do Índio, no Palácio do Planalto.
Minutos antes, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) havia
pedido "perdão" às nações indígenas, "vítimas do esmagamento,
da violência e da força bruta". Na
platéia, havia mais de 30 representantes de etnias indígenas.
Lula mencionou rapidamente a
morte por desnutrição de crianças indígenas em Mato Grosso do
Sul: "[Temos de] cuidar das crianças para que não morram como
morrem habitualmente no Brasil,
ora por desnutrição, ora por outras doenças, e é preciso que a
gente atente para isso".
O responsável pela assistência
médica dos índios é um órgão do
governo federal, a Funasa, que é
ligada ao Ministério da Saúde.
Segundo números da Funasa,
em 2005, morreram 16 crianças
indígenas menores de cinco anos
em Dourados (MS) -11 mortes
estão associadas à desnutrição.
De acordo com Lula, a "dívida"
do Estado com o povo brasileiro
não será resgatada em "dois ou
três anos". "Hoje eu disse que nós
temos uma dívida com os índios
brasileiros que possivelmente vai
demorar para ser paga. [Assim]
como tive a coragem de pedir perdão lá no Senegal, na Ilha de Gorée, pelos 300 anos de escravidão
que os africanos foram submetidos e do qual o Brasil participou
diretamente comprando escravos", disse Lula, mais tarde, em
cerimônia com militares.
Ao lado do presidente estava o
cacique Raoni, que ficou conhecido internacionalmente por fazer a
defesa dos povos indígenas,
acompanhado por personalidades como o cantor Sting. O cacique falou para Lula e para o ministro da Justiça que "muitos
brancos estão matando índios".
A homologação da terra indígena Raposa/Serra do Sol (RR), na
semana passada, foi destacada
por Lula como esforço para pagar
a "dívida" com os índios. Na cerimônia de ontem, foram homologas cinco terras indígenas nas regiões Centro-Oeste e Norte.
"Todas as questões que se referem à homologação de Raposa/
Serra do Sol têm de ser decididas
pelo Supremo Tribunal Federal.
Esperamos superar as questões
judiciais e chegar a um campo de
trabalho cooperativo na área administrativa", disse o ministro sobre questionamentos do governo
do Estado de Roraima.
Assim como mencionou as
mortes das crianças indígenas,
Lula disse ser necessário "cuidado" para que os índios não sejam
"afrontados" depois de terem
suas terras demarcadas.
"Afrontados, às vezes, por fazendeiros que poluem os rios, por
fazendeiros que derrubam parte
da mata", disse Lula, para quem
os índios têm de ter acesso a luz
elétrica, escola e saúde.
"Durante anos, na escola brasileira, se falou que o índio era preguiçoso, por isso que o Brasil tinha de trazer escravos da África.
Na verdade, o que vocês querem é
o que quer qualquer cidadão digno do mundo: a oportunidade de
provar que somos capazes de viver por nossa própria conta."
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