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Provinciano, ele tomava chazinho, afirma anestesista
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Anestesista que participou de
sete cirurgias em Tancredo Neves e que conviveu com o então
paciente durante 26 dias, quando este teve "grandes períodos
de consciência", Ruy Gomide
do Amaral, 78, disse que a família Neves o constrangeu e
colocou sua dignidade profissional em jogo.
"Sou professor emérito da
USP, especialista nos EUA e no
Brasil. Não tem cabimento",
afirmou ontem à Folha.
O médico reafirma o que disse há 20 anos: Tancredo Neves
já estava doente havia vários
meses antes de ser internado às
pressas no Hospital de Base de
Brasília. Familiares do presidente eleito refutaram em nota
divulgada no "Jornal Nacional", da Rede Globo, informações da equipe médica que cuidou de Tancredo em São Paulo.
Amaral fala em tom carinhoso sobre o ex-paciente e guarda
reportagens que mostram que
já afirmava, em 85, que Tancredo vinha sofrendo escondido
de uma bacteriemia havia oito
meses. Recordou, por exemplo, que, antes das eleições,
Tancredo aparecia em várias
fotos com a perna esquerda esticada, para derrotar as dores.
"Em matéria de medicina, ele
era o típico mineiro provinciano, que tomava chazinho e não
obedecia aos médicos, não fazia exames", declarou Amaral.
Em janeiro daquele ano, por
exemplo, tinha visitado a Europa sob tratamento de forte antibióticos, à revelia dos médicos. "Ele fazia imprudências."
O anestesista repetiu uma
frase dita à Folha naquela época: "Ele [Tancredo] considerou
o adiamento do tratamento um
erro, mas eu o atribuo a seu patriotismo."
O médico também afirmou
que teve um contato muito
grande com a família Neves, especialmente com Risoleta (mulher do presidente eleito). "Tenho uma carta de três páginas
em que ela mostra essa intimidade", continuou o médico,
que não quis apresentar o documento ontem ao jornal.
Para ele, a família pode não
ter se lembrado de seu rosto, e
por isso ter desautorizado suas
declarações e a de outros médicos do presidente eleito que deram entrevista ao "Fantástico",
da Rede Globo. "Até meus filhos ligaram perguntando."
Para Amaral, a reportagem
do "Fantástico", que mostrou
ainda que Tancredo morreu
em decorrência de uma resposta inflamatória sistêmica, -e
não de infecção generalizada-
contribui porque acaba com a
celeuma sobre a causa de morte do presidente eleito.
"Tudo começou com um tumor benigno no intestino delgado, infectado. O tumor tinha
sido extirpado em Brasília, mas
a continuidade do processo infeccioso acabou liberando uma
pequena artéria que sangrou
muito para o interior do intestino. Uma infecção dessa magnitude leva a um processo inflamatório generalizado, que
levou a uma insuficiência de
múltiplos órgãos", continuou.
"Estive presente no quarto dele
até parar o coração. Assisti à
necropsia, à realização da máscara mortuária. Eu vivi completamente."
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