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CONTAS PÚBLICAS
Ajuda de custo subiu na mesma proporção que os cargos de confiança
Gasto com auxílio-moradia cresce 142% na gestão Lula
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ajuda de custo paga a ocupantes de cargos de confiança do governo trazidos de fora de Brasília,
a conta do auxílio-moradia mais
do que dobrou entre o último ano
de mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e 2004.
Em dois anos de governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os pagamentos ao auxílio-moradia subiram de R$ 11,7 milhões
(valor registrado em 2002) para
R$ 28,4 milhões em 2004, ou seja,
um aumento de 142%.
Nos primeiros três meses deste
ano, o Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais) já
registrou pagamentos de R$ 7,3
milhões, mostra pesquisa feita pela liderança do PSDB.
O valor do auxílio foi mantido
no período: até R$ 1.800 são pagos
por mês àqueles que não encontram imóvel funcional disponível
para quitar o aluguel ou a conta
do hotel. A conta cresceu na exata
proporção do crescimento do número de ocupantes de cargos de
confiança no governo, contratados sem concurso público. O benefício vale apenas para os postos
mais altos da administração.
Saúde e Presidência
O maior volume de auxílio-moradia é pago pelo Ministério da
Saúde. Quase 200 funcionários recebem a ajuda de custo para morar em Brasília, a começar pelo
próprio ministro, o pernambucano Humberto Costa.
Segundo a assessoria de Costa, o
gastos cresceram sobretudo por
causa do reforço dado na gestão
petista a algumas áreas do ministério, como a que cuida de vigilância epidemiológica. Outro motivo apontado para o grande número de auxílios pagos a funcionários trazidos para Brasília é a
contratação para áreas ocupadas
anteriormente por consultores
pagos por órgãos internacionais.
Mas o maior crescimento na
concessão da ajuda de custo foi
registrado na Presidência da República. Em 2002, 34 ocupantes
de cargos de confiança recebiam o
auxílio-moradia. No ano passado,
esse número passou para 152.
Grande parte do aumento deve-se à criação das secretarias de Políticas para as Mulheres, Promoção da Igualdade Racial e Direitos
Humanos, além do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social -órgãos que são vinculados à Presidência.
Decreto baixado em dezembro
de 2001 estabelece que têm direito
ao auxílio-moradia em Brasília
ministros, secretários-executivos
e ocupantes de cargos de confiança dos níveis mais altos (DAS 4, 5
ou 6), cujos salários variam de
R$ 4.580 a R$ 8.362. O preenchimento desses cargos dispensa
concurso público.
Imóveis funcionais
A ajuda de custo é uma alternativa à escassez de imóveis funcionais, para os quais há uma fila de
espera com 153 pessoas. Dos 781
imóveis administrados pelo Planejamento, há apenas 30 vagos,
mas sem condições de uso, de
acordo com a assessoria do ministério. Incluindo os imóveis administrados diretamente pelos
ministérios das Relações Exteriores e da Defesa e demais Poderes,
a União dispõe de 1.714 imóveis
funcionais.
As despesas registradas com auxílio-moradia no Executivo em
2004 representaram 15% dos gastos com os dois principais programas federais destinados a moradia para famílias de baixa renda, o
Morar Melhor e o Programa de
Habitação de Interesse Social,
ambos do Ministério das Cidades.
A pasta de Olívio Dutra, aliás,
aparece em quinto lugar na lista
dos órgãos públicos que mais gastam em auxílio-moradia.
O aumento da ajuda de custo
acompanha a criação de cargos de
confiança no Executivo. Só no
ano passado, por meio de uma
única medida provisória, Lula
criou 2.797 cargos de confiança
entre os chamados cargos de Direção e Assessoramento Superior,
os DAS, e funções gratificadas.
O mais recente boletim de pessoal do governo apontava a existência de 19.083 cargos de comissão (os DAS) ocupados em dezembro de 2004. Desses, 3.689 tinham direito a apartamento funcional ou auxílio-moradia.
O Ministério do Planejamento
não informou quantos cargos de
confiança já foram criados depois
dessa data. Em fevereiro, por
exemplo, Lula criou mais 25 cargos em comissão para apoiar a Secretaria Geral da Presidência na
implantação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens -13 deles têm direito ao benefício.
"É um dado matemático que
mostra o aparelhamento do Estado", avalia o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). A
pesquisa feita no Siafi não permite
avaliar, porém, se a maioria das
pessoas que recebe ajuda de custo
para morar em Brasília é do PT.
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