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ENTREVISTA DA 2ª
"Re-reeleição' de Menem pode
influenciar Brasil, diz analista
"Se Menem conseguir seu terceiro
mandato e Fujimori também, isso
cria um antecedente que pode estabelecer em outros países da região tentativas similares"
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LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires
A possibilidade de uma segunda
reeleição do presidente Carlos Menem, da Argentina, em 1999 deverá ter reflexos na América Latina e
na política brasileira em 2002, com
um comportamento similar do
presidente Fernando Henrique
Cardoso.
A opinião é do historiador, advogado e jornalista Rosendo Fraga, 46, tido como um referencial
entre os analistas políticos argentinos, autor de 25 livros sobre temas políticos, históricos e de estratégia militar e colaborador dos
jornais "La Nación", "Clarín", "El
Cronista" e "Ámbito Financiero".
Fraga fez uma análise político-eleitoral da atual situação argentina, em entrevista concedida à Folha, na última quinta-feira.
O analista político argentino estabeleceu uma relação entre as
manobras de Menem para permanecer no poder e a situação dos demais países. Uma das suas principais conclusões foi de que seria
bastante lógica a criação de uma
tendência.
A Constituição da Argentina
prevê a possibilidade da reeleição,
mas apenas uma vez, o que já
ocorreu. Menem, agora, procura
abrir caminho para a segunda.
O presidente argentino tenta,
por duas vias, possibilitar a sua
permanência no poder: uma é a
judicial, pela qual procura mostrar que o seu primeiro mandato
não pode ser levado em consideração (a reforma constitucional que
estabeleceu a reeleição ocorreu na
ocasião em que ele foi exercido).
A outra tentativa é pela via legislativa, com uma nova reforma
constitucional que não preveja teto para o número possível de reeleições.
"Se Menem consegue um terceiro mandato consecutivo em 1999 e
Fujimori (o presidente peruano
Alberto Fujimori) também no ano
2000, isso cria um antecedente que
pode estabelecer em outros países
da região tentativas similares, como a primeira reeleição desses
dois presidentes foi um antecedente para a reforma brasileira",
afirmou o analista político argentino.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
Folha - O senhor acredita
na possibilidade de o presidente Carlos
Menem conseguir ser candidato a uma segunda reeleição?
Rosendo Fraga - É possível, ainda que
pouco provável. Diferentemente
do que ocorreu em 1993, quando
conseguiu que a oposição apoiasse
a reforma constitucional, agora o
consenso de Menem é mais baixo,
e a oposição se reconstituiu, depois do triunfo nas eleições legislativas de outubro, não parecendo
disposta a pactuar novamente com
Menem.
Folha - Quais são as verdadeiras
intenções de Menem ao tentar a
"re-reeleição"?
Fraga - Menem busca ser reeleito, mas, se não consegue, mantém o poder em suas mãos durante
todo o ano de 1998, evitando que a
indicação prematura de um sucessor lhe tire o poder efetivo como
presidente e como líder do Partido
Justicialista.
Folha - Como surge a figura do
ex-cantor Ramón "Palito" Ortega
(que é "menemista", postula uma
candidatura à presidência e foi nomeado por Menem secretário de
Desenvolvimento Social, um cargo
com forte apelo político-eleitoral)
nesse quadro todo?
Fraga - Ortega decidiu seguir a
sorte política de Menem. Se ele se
apresentar para a reeleição, pode
ser o seu candidato à vice-presidência. Porém, se Menem não pode se apresentar como candidato à
reeleição, Ortega pode ser o
seu eleito. Em
termos imediatos, Ortega é
uma peça de
Menem para
enfrentar a Duhalde (Eduardo Duhalde), o
governador da
província de
Buenos Aires,
que tenta disputar com Menem a liderança do PJ (Partido Justicialista, ou peronista).
Folha - Quem venceria a disputa
eleitoral se ela fosse realizada hoje?
Fraga - Se a eleição fosse hoje,
as pesquisas de opinião mostram
que a Aliança (a oposicionista
Aliança UCR-Frepaso) ganharia.
Mas, em um ano e meio (as eleições presidenciais serão em 25 de
setembro de 1999), muitas coisas
podem mudar.
Folha - O senhor acha que, numa
atitude conspiratória, Menem esteja retirando espaço de seus adversários políticos dentro do PJ para que o partido perca as eleições
em 1999 e ele permaneça como
protagonista, liderando a oposição
e preparando o seu retorno à presidência no ano 2003?
Fraga - Menem busca, antes de
tudo, manter e fortalecer o seu rol
como líder do Partido Justicialista.
Se mantém essa condição e se forem modificadas as circunstâncias
políticas, pode tentar uma nova
reeleição.
Se não pode, tentará designar
um sucessor manejável, como seria Ramón Ortega, e, caso ganhe a
Aliança, seria o chefe da oposição.
Cabe recordar que o Partido Justicialista mantém a maioria absoluta
no Senado até o ano 2001 e que, na
Câmara de Deputados, dificilmente a Aliança chega a ter maioria absoluta até essa data, ainda que ganhe as eleições legislativas do próximo ano. Isso deixa o PJ com poderes suficientes para fazer uma
forte oposição caso a Aliança seja
governo.
Folha - Que consequências uma
segunda reeleição de Menem traria para outros países da América
Latina e, em especial, para o Brasil?
Fraga - Se Menem consegue o
seu terceiro mandato consecutivo
em 1999 e Fujimori também, no
ano 2000, isso cria um antecedente
que pode estabelecer em outros
países da região tentativas similares, como a primeira reeleição desses dois presidentes foi antecedente da reforma brasileira (que abriu
a possibilidade de reeleição para
FHC).
Cabe assinalar que, no plano internacional, Yeltsin (o presidente
russo, Boris Yeltsin) pode tentar
chegar a um terceiro mandato
consecutivo no ano 2000, por meio
de uma interpretação constitucional da Justiça. São antecedentes
que contribuem para fazer esse tipo de situação.
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