São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Ligação com Macrométrica foi mantida
Procurador associa Lopes à consultoria

MÔNICA CIARELLI
da Sucursal do Rio


Documentos apreendidos na casa do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes mostram que ele continuou a dar ordens administrativas à consultoria Macrométrica mesmo após seu desligamento da empresa, em janeiro de 1995, quando assumiu a diretoria de Política Econômica do BC.
A revelação foi feita à Folha por um dos procuradores da República que investigam o suposto esquema de venda de informação privilegiadas no Banco Central.
Os papéis foram encontrados durante a operação de busca e apreensão na casa de Lopes realizada pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público, na última sexta-feira.
O procurador considerou suspeito o envolvimento de Lopes na Macrométrica. Segundo ele, foi a descoberta desse material que desencadeou a operação de busca e apreensão na sede da consultoria pela Procuradoria da República, na própria sexta.
Ele ressaltou que o teor dos documentos de autoria de Lopes encontrados na operação reforça a suspeita de que ele continuou ditando ordens na empresa mesmo após sua saída. Pela lei 8.112, os servidores públicos são proibidos de gerenciar qualquer empresa.
Mesmo desligado oficialmente da consultoria desde janeiro de 95, Lopes ainda mantém laços estreitos com a Macrométrica.
Sua mulher e seu enteado ainda são sócios da consultoria, e o próprio ex-presidente é o atual fiador do contrato de locação do imóvel da empresa.
Lopes fundou a consultoria em sociedade com Sérgio Bragança, um dos supostos intermediários da compra de informações privilegiadas do Banco Central para quatro instituições financeiras.
Além dele, também teria participado do suposto esquema seu irmão Luiz Augusto. Ambos são amigos do ex-presidente do Banco Central.
Procurados ontem pela Folha, Lopes e os sócios da consultoria não foram encontrados.
O ex-presidente do BC já negou ter repassado informações para os irmãos Bragança, mas admite ter mantido durante o seu período como diretor e presidente do Banco Central -de janeiro de 95 a janeiro de 99- conversas sobre economia. "São pessoas que eu conheço há muito tempo, mas, daí a dizer que eles seriam fonte de informação, há uma grande diferença. Eu não acredito na denúncia e confio nessas pessoas, com as quais tenho uma relação muito próxima."
O papel do ex-presidente do BC na Macrométrica era um dos mais importantes dentro da empresa. Além de ser o economista mais conhecido pelo mercado financeiro por ter participado da elaboração do Plano Cruzado, Lopes também estava à frente da elaboração das análises econômicas vendidas ao mercado financeiro.


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