São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

À CPI, ex-secretário-geral nega nomeações

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira atribuiu ontem a responsabilidade pelas finanças do partido ao ex-tesoureiro Delúbio Soares e afirmou desconhecer o repasse de empréstimos bancários do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para a sigla. Ele também disse que nunca ouviu falar do "mensalão".
Primeiro petista a comparecer na CPI dos Correios, Silvio Pereira admitiu, em depoimento que durou 11 horas, ter feito indicações para cargos, mas ressaltou que as nomeações eram de responsabilidade do governo.
Mesmo sabendo das dificuldades financeiras por que passava o partido, o ex-secretário-geral afirmou que seu conhecimento sobre o saneamento das dívidas se limitava ao fato de Delúbio estar buscando recursos na rede bancária.
Apesar de não ter cargo no Executivo, Silvio admite que era procurado por empresários para tratar de questões de governo, embora negue ter dado encaminhamento a esses pleitos. "Nunca fiz mediação de interesses de empresários no governo", disse ele.
Com a garantia de um habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que o impedia de ser preso caso não respondesse a perguntas ou caísse em contradição, o ex-secretário-geral do PT disse, na maior parte das vezes, não conseguir se lembrar de indicações feitas por ele para cargos públicos e de relações com empresários e se recusou a falar sobre seu patrimônio.
CAIXA DOIS- O ex-secretário-geral do PT se eximiu da responsabilidade por eventuais irregularidades cometidas na movimentação financeira do partido, alegando que essa função era do ex-tesoureiro Delúbio Soares. "No PT as decisões são coletivas e as responsabilidades, individuais", afirmou Silvio, ressaltando que sua função era político-eleitoral.
Ele disse desconhecer repasse de empréstimos bancários tomados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para o PT, ao contrário do que o próprio Valério disse à Procuradoria Geral da República na semana passada. "O que eu sabia era que Delúbio estava buscando recursos na rede bancária".
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou um parecer da Comissão Executiva Nacional do PT, assinado também por Silvinho, aprovando "sem qualquer ressalva" o balanço financeiro de 2003, em reunião realizada em 22 de março do ano passado.
Segundo Silvio, a Executiva também aprovou, entre março e abril deste ano, as contas apresentadas por Delúbio, em que constavam uma dívida de R$ 20 milhões. Nessa ocasião teria sido aprovada também a realização de uma campanha de arrecadação de fundos. "Nunca levei caixa dois nem caixa um para os Estados."
MENSALÃO - O ex-secretário-geral declarou várias vezes que não tinha conhecimento do "mensalão", suposto pagamento mensal a deputados do PP e PL para votar em projetos de interesse do governo. "Nunca tinha ouvido falar desse assunto de "mensalão"." Sobre malas de dinheiro que transitariam em Brasília, disse: "Nunca tive conhecimento; só respondo por mim."
CARGOS - Silvio afirmou que possuía a atribuição de coordenar as indicações do PT para cargos de confiança no governo federal e também negociava com partidos da base aliada para resolver divergências com petistas e com o próprio Palácio do Planalto. Ele ressaltou que a decisão final sobre as indicações cabia ao governo.
"Quero afirmar logo de início, perante essa CPI e a todo país, que eu nunca nomeei ninguém no governo federal", disse Silvio, que encaminhava os pedidos para a Casa Civil. Ele poupou o ex-ministro José Dirceu, afirmando que tratava com quatro funcionários da pasta: Sandra Cabral, Marcelo Sereno e dois outros, que chamou apenas de Lúcio e Lúcia.
LOTEAMENTO - Segundo ele, um de seus maiores problemas era o relacionamento de seu partido com os aliados nos Estados. "O PT nos Estados tinha muita resistência em compor com partidos da base. Tinha Estado em que o PT não tinha eleito nenhum deputado e queria ficar com os principais cargos".
Segundo Silvio, os cargos mais requisitados pelos aliados estavam no Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobras e Infraero. "Estive com vários parlamentares e em nenhum momento houve proposta indecente, errada ou de que o cargo era para arrecadar recursos", disse ele. Já no PT os principais pleitos seriam para o Incra e para as delegacias regionais do Trabalho, por exemplo.
SALA NO PLANALTO - O ex-secretário-geral do PT negou que tenha possuído uma sala própria no quarto andar do Palácio do Planalto. Ele admitiu, porém, que utilizava a sala de reuniões da Casa Civil para tratar das indicações do PT e negociar com aliados. "Nunca utilizei as dependências do governo para o PT", afirmou.
SKYMASTER - O petista admitiu ter recebido um dos sócios da Skymaster, Luiz Otávio Gonçalves, para discutir um contrato com os Correios. A empresa é acusada de ter superfaturado sua prestação de serviços à estatal. "Ele disse que se sentia prejudicado por um membro do PT na comissão de licitação. Eu disse que não conhecia essa pessoa, que o PT não persegue ninguém e que esse tema não era de partido", afirmou ele, que teria recomendado o empresário a procurar alguém do governo.
LULA - Durante todo o depoimento, Silvio tentou poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do atual escândalo. "O presidente Lula é filiado ao PT, como vários ministros, embora eu não tenha tratado com ele, eu não o vejo há anos", afirmou Pereira, que afirmou ainda não ter trabalhado na campanha presidencial, embora tenha coordenado a posse. Silvio afirmou não ter ficado magoado com a declaração de Lula, feita em entrevista na França, de que os problemas do PT se devem ao fato de os melhores quadros terem ido para o Executivo.
MARCOS VALÉRIO - Pereira afirmou que foi apresentado ao publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, em 2003, por Delúbio, na sede do PT. O interesse do publicitário seria fazer campanhas do partido. Segundo Silvinho, seu relacionamento com ele acabou depois de divergências a respeito da estratégia de marketing para as campanhas municipais paulistas de Osasco e São Bernardo do Campo. "Não recomendei sua contratação. A partir desse momento praticamente encerrei os contatos", disse Silvio.
DELÚBIO - Como Marcos Valério, Silvio jogou no colo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a responsabilidade pela movimentação financeira do partido e eventuais repasses de verbas para campanhas. Questionado se o ex-tesoureiro participava da indicação de cargos no governo, Silvio Pereira a princípio disse que não, mas depois afirmou que "eventualmente" ele fazia alguma indicação de seu Estado, Goiás, e também do Mato Grosso do Sul. "Ele indicou uma coisa aqui, outra lá."
PETISTAS - Enquanto os petistas estavam desconfortáveis com a argüição, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) foi à forra no primeiro encontro com o dirigente partidário depois de sua expulsão do PT. "É como se a fama conseguisse depravar a alma de um militante socialista", disse ela, para quem esses petistas estão deslumbrados com "carrões e mansões". (FERNANDA KRAKOVICS, LEILA SUWWAN E CHICO DE GOIS)

Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Novas versões: Silvio pode ter tido carro pago por empresa
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Caso Waldomiro: CPI quebra sigilos de ex-assessor de Palocci
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.