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À CPI, ex-secretário-geral nega nomeações
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Em depoimento à CPI dos Correios, o ex-secretário-geral do PT
Silvio Pereira atribuiu ontem a
responsabilidade pelas finanças
do partido ao ex-tesoureiro Delúbio Soares e afirmou desconhecer
o repasse de empréstimos bancários do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para a sigla. Ele também disse que nunca
ouviu falar do "mensalão".
Primeiro petista a comparecer
na CPI dos Correios, Silvio Pereira admitiu, em depoimento que
durou 11 horas, ter feito indicações para cargos, mas ressaltou
que as nomeações eram de responsabilidade do governo.
Mesmo sabendo das dificuldades financeiras por que passava o
partido, o ex-secretário-geral afirmou que seu conhecimento sobre
o saneamento das dívidas se limitava ao fato de Delúbio estar buscando recursos na rede bancária.
Apesar de não ter cargo no Executivo, Silvio admite que era procurado por empresários para tratar de questões de governo, embora negue ter dado encaminhamento a esses pleitos. "Nunca fiz
mediação de interesses de empresários no governo", disse ele.
Com a garantia de um habeas
corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que o
impedia de ser preso caso não respondesse a perguntas ou caísse
em contradição, o ex-secretário-geral do PT disse, na maior parte
das vezes, não conseguir se lembrar de indicações feitas por ele
para cargos públicos e de relações
com empresários e se recusou a
falar sobre seu patrimônio.
CAIXA DOIS- O ex-secretário-geral do PT se eximiu da responsabilidade por eventuais irregularidades cometidas na movimentação financeira do partido, alegando que essa função era do ex-tesoureiro Delúbio Soares. "No PT
as decisões são coletivas e as responsabilidades, individuais", afirmou Silvio, ressaltando que sua
função era político-eleitoral.
Ele disse desconhecer repasse
de empréstimos bancários tomados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para o
PT, ao contrário do que o próprio
Valério disse à Procuradoria Geral da República na semana passada. "O que eu sabia era que Delúbio estava buscando recursos
na rede bancária".
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou um parecer da
Comissão Executiva Nacional do
PT, assinado também por Silvinho, aprovando "sem qualquer
ressalva" o balanço financeiro de
2003, em reunião realizada em 22
de março do ano passado.
Segundo Silvio, a Executiva
também aprovou, entre março e
abril deste ano, as contas apresentadas por Delúbio, em que constavam uma dívida de R$ 20 milhões. Nessa ocasião teria sido
aprovada também a realização de
uma campanha de arrecadação
de fundos. "Nunca levei caixa dois
nem caixa um para os Estados."
MENSALÃO - O ex-secretário-geral declarou várias vezes que não
tinha conhecimento do "mensalão", suposto pagamento mensal
a deputados do PP e PL para votar
em projetos de interesse do governo. "Nunca tinha ouvido falar
desse assunto de "mensalão"." Sobre malas de dinheiro que transitariam em Brasília, disse: "Nunca
tive conhecimento; só respondo
por mim."
CARGOS - Silvio afirmou que
possuía a atribuição de coordenar
as indicações do PT para cargos
de confiança no governo federal e
também negociava com partidos
da base aliada para resolver divergências com petistas e com o próprio Palácio do Planalto. Ele ressaltou que a decisão final sobre as
indicações cabia ao governo.
"Quero afirmar logo de início,
perante essa CPI e a todo país, que
eu nunca nomeei ninguém no governo federal", disse Silvio, que
encaminhava os pedidos para a
Casa Civil. Ele poupou o ex-ministro José Dirceu, afirmando que
tratava com quatro funcionários
da pasta: Sandra Cabral, Marcelo
Sereno e dois outros, que chamou
apenas de Lúcio e Lúcia.
LOTEAMENTO - Segundo ele, um
de seus maiores problemas era o
relacionamento de seu partido
com os aliados nos Estados. "O
PT nos Estados tinha muita resistência em compor com partidos
da base. Tinha Estado em que o
PT não tinha eleito nenhum deputado e queria ficar com os principais cargos".
Segundo Silvio, os cargos mais
requisitados pelos aliados estavam no Banco do Brasil, Caixa
Econômica, Petrobras e Infraero.
"Estive com vários parlamentares
e em nenhum momento houve
proposta indecente, errada ou de
que o cargo era para arrecadar recursos", disse ele. Já no PT os
principais pleitos seriam para o
Incra e para as delegacias regionais do Trabalho, por exemplo.
SALA NO PLANALTO - O ex-secretário-geral do PT negou que tenha
possuído uma sala própria no
quarto andar do Palácio do Planalto. Ele admitiu, porém, que
utilizava a sala de reuniões da Casa Civil para tratar das indicações
do PT e negociar com aliados.
"Nunca utilizei as dependências
do governo para o PT", afirmou.
SKYMASTER - O petista admitiu
ter recebido um dos sócios da
Skymaster, Luiz Otávio Gonçalves, para discutir um contrato
com os Correios. A empresa é
acusada de ter superfaturado sua
prestação de serviços à estatal.
"Ele disse que se sentia prejudicado por um membro do PT na comissão de licitação. Eu disse que
não conhecia essa pessoa, que o
PT não persegue ninguém e que
esse tema não era de partido",
afirmou ele, que teria recomendado o empresário a procurar alguém do governo.
LULA - Durante todo o depoimento, Silvio tentou poupar o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva do atual escândalo. "O presidente Lula é filiado ao PT, como
vários ministros, embora eu não
tenha tratado com ele, eu não o
vejo há anos", afirmou Pereira,
que afirmou ainda não ter trabalhado na campanha presidencial,
embora tenha coordenado a posse. Silvio afirmou não ter ficado
magoado com a declaração de Lula, feita em entrevista na França,
de que os problemas do PT se devem ao fato de os melhores quadros terem ido para o Executivo.
MARCOS VALÉRIO - Pereira afirmou que foi apresentado ao publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, em 2003, por Delúbio, na sede do PT. O interesse do
publicitário seria fazer campanhas do partido. Segundo Silvinho, seu relacionamento com ele
acabou depois de divergências a
respeito da estratégia de marketing para as campanhas municipais paulistas de Osasco e São
Bernardo do Campo. "Não recomendei sua contratação. A partir
desse momento praticamente encerrei os contatos", disse Silvio.
DELÚBIO - Como Marcos Valério, Silvio jogou no colo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a
responsabilidade pela movimentação financeira do partido e
eventuais repasses de verbas para
campanhas. Questionado se o ex-tesoureiro participava da indicação de cargos no governo, Silvio
Pereira a princípio disse que não,
mas depois afirmou que "eventualmente" ele fazia alguma indicação de seu Estado, Goiás, e também do Mato Grosso do Sul. "Ele
indicou uma coisa aqui, outra lá."
PETISTAS - Enquanto os petistas
estavam desconfortáveis com a
argüição, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) foi à forra no primeiro encontro com o dirigente
partidário depois de sua expulsão
do PT. "É como se a fama conseguisse depravar a alma de um militante socialista", disse ela, para
quem esses petistas estão deslumbrados com "carrões e mansões".
(FERNANDA KRAKOVICS, LEILA SUWWAN E CHICO DE GOIS)
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