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REFORMA SOB PRESSÃO
Palocci articula para que comissão vote tributária amanhã
Relator cede a Estados e abre brecha para carga fiscal maior
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por pressão dos Estados, o relator da reforma tributária na Câmara, Virgílio Guimarães (PT-MG), não incluiu no projeto uma
regra anunciada como garantia
contra o aumento futuro dos impostos: o limite máximo de 25%
para a alíquota do ICMS.
Em mais de uma ocasião, Guimarães havia prometido a fixação
do teto, não previsto na proposta
original elaborada pelo governo
Luiz Inácio Lula da Silva. A medida responderia às críticas de empresários e especialistas ao risco
de aumento da carga tributária.
Os temores dizem respeito à
principal inovação introduzida
pela reforma -a unificação da legislação do ICMS, que, pelo texto,
passará a ter apenas cinco alíquotas, em vez das 44 de hoje.
Como caberá aos Estados definir os produtos a serem tributados com cada alíquota, avalia-se
que a tendência será incluir o
maior número possível de mercadorias nas faixas mais altas. O antídoto imaginado pelo relator
-uma alíquota máxima fixada
pela Constituição- foi bombardeado pelos governadores.
"Essa ausência [do teto] foi
muito sentida", admitiu Guimarães, em entrevista para detalhar o
relatório. Questionado sobre as
pressões que motivaram a decisão, foi evasivo: "Vários Estados".
Ele disse acreditar, porém, que o
recuo não significará aumento da
carga tributária. "O Senado [que
definirá as cinco alíquotas] não
vai fazer nenhuma loucura, eu
confio no Senado." Mas o relator
indicou que o tema poderá voltar
à discussão ainda na Câmara. "Esse assunto foi retirado porque não
havia uma construção adequada.
Estamos trabalhando nisso."
Na prática, embora o relatório
divulgado anteontem por Guimarães tenha sido apresentado como
definitivo, os governistas e o próprio relator estão estudando alterações no texto, que dependerão
de conveniências políticas.
O Ministério da Fazenda, por
exemplo, trabalha pelo fim imediato dos benefícios fiscais estaduais, como permitido pela versão original do projeto -por
pressão dos Estados mais pobres,
o relator instituiu um prazo de oito anos para a extinção dos atuais
benefícios. Estão em estudo alterações na Lei de Informática, para
compatibilizar a legislação com a
decisão de prorrogar por mais dez
anos, até 2023, os incentivos da
Zona Franca de Manaus.
O relatório de Guimarães recebeu críticas até em razão de pontos em que manteve a proposta
inicial do governo. O relator teve
de explicar, por exemplo, por que
a CMF, substituta da CPMF em
caráter permanente, não terá a
aplicação de seus recursos definida na Constituição. "Há diferenças entre um tributo provisório e
um permanente", disse o relator,
argumentando que, no segundo
caso, não faz sentido detalhar a
destinação dos recursos -porque a Constituição já vincula as
contribuições, com exceção da
Cide, à seguridade social.
Palocci
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) reuniu-se ontem à
noite com líderes e deputados dos
partidos que apóiam o governo,
numa tentativa de viabilizar a votação amanhã do relatório da reforma tributária na comissão especial da Câmara encarregada de
analisar o projeto.
A alternativa oferecida pelo governo aos aliados foi a promessa
de negociar novas mudanças no
texto no momento da votação em
1º turno na Câmara. Entre os aliados, especialmente do PMDB e do
PL, ainda há muita resistência ao
projeto. Palocci, segundo o relato
de participantes da reunião, admitiu ampliar ainda mais o prazo
para o fim dos atuais benefícios
fiscais concedidos pelos Estados
para a atração de empresas.
Outro ponto tratado foi a possibilidade de fixar na Constituição a
destinação dos recursos da CMF.
Os governistas ainda passarão o
dia de hoje avaliando as possíveis
alterações na reforma.
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