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ELDORADO DO CARAJÁS
Três oficiais foram inocentados ontem de madrugada
Promotor teme absolvição
dos 147 PMs do massacre
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém
Os 147 policiais
militares que participaram da operação que resultou na
morte de 19 sem-terra em abril de 96
também podem ser absolvidos,
como foram ontem de madrugada três oficiais da PM do Pará.
A avaliação é do promotor Marco Aurélio Nascimento, responsável pela acusação contra os
PMs. A chance de que todos os
réus sejam inocentados existe, na
opinião de Nascimento, se o mesmo argumento que absolveu os
comandantes da ação for usado
nos julgamentos dos demais PMs.
Os 150 acusados pelo massacre
vão a júri em blocos de três a seis
policiais, cada qual com um corpo
de jurados diferente.
Em todas as fases do julgamento, o corpo de jurados será questionado se há insuficiência de
provas para condenar os réus.
A promotoria pública se queixa
da existência dessa pergunta porque a classifica de subjetiva. Um
júri deve se manifestar sobre fatos
concretos.
Na madrugada de ontem, o coronel Mário Colares Pantoja, o
major José Maria Oliveira, respectivamente comandantes das tropas de Marabá e Parauapebas à
época do massacre, e o capitão
Raimundo Almendra Lameira foram absolvidos porque a maioria
dos jurados entendeu que havia
insuficiência de provas, respondendo à questão proposta pelo
juiz Ronaldo Valle.
Hoje começa a segunda fase do
julgamento dos policiais que participaram da desobstrução da rodovia PA-150 em 17 de abril de
1996, em Eldorado de Carajás (sul
do Pará). Nessa fase, serão julgados o capitão Raimundo de Souza
Oliveira e os tenentes Jorge Nazaré Araújo dos Santos, Natanael
Guerreiro Rodrigues e Mauro
Sérgio Marques da Silva.
Até dezembro, outros 143 PMs
(sargentos, soldados e cabos) serão levados ao banco de réus.
O advogado dos quatro oficiais,
Luiz Abdoral Lopes, adiantou que
seu principal argumento perante
o júri será o mesmo que acabou
inocentando os comandantes da
operação, ou seja, a insuficiência
de provas para culpar individualmente cada um dos acusados.
Carlos Guedes, que representa o
MST no julgamento, como assistente de acusação, disse que ele e
os outros advogados dos sem-terra (entre eles, Nilo Batista, ex-governador do Rio) irão abandonar
o caso como protesto pela decisão
do juiz de perguntar se existem
provas suficientes.
"Não podemos compactuar
com esse absurdo. O quesito imposto pelo juiz é subjetivo, enquanto que os jurados só podem
decidir em cima de perguntas sobre questões concretas", declarou
Guedes. Daqui em diante, somente o Ministério Público ficará encarregado da acusação.
"O MST tem todo o direito de
considerar indigno o resultado e
sair do processo. Eu não represento somente os sem-terra, represento sim a sociedade", afirmou o promotor. Marco Aurélio
Nascimento não concorda com a
pergunta e irá pedir a anulação do
julgamento dos comandantes absolvidos (leia texto na pág. 1-5).
Na última fase do julgamento, o
juiz elabora para os jurados uma
série de questões a partir das teses
da defesa e da acusação. Anteontem, quando o juiz informou aos
advogados as perguntas que seriam feitas aos jurados, a acusação registrou seu protesto contra
a questão sobre a insuficiência de
provas. Para o advogado Américo
Leal, que representou os oficiais
absolvidos, a questão não influenciou os jurados e não provocará
um novo julgamento.
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