|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Passagem impede depoimento
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
A SEDH (Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos) se negou
a pagar uma passagem aérea Brasília-Belém-Brasília para a jornalista Mariza Romão, uma das cinco testemunhas de acusação contra os policiais militares que participaram da operação que resultou
na morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA).
Mariza não viajou para depor
no julgamento em que os três oficiais da Polícia Militar que comandaram a operação no Pará foram absolvidos.
Por não morar em Belém, mas
em Brasília, ela não era obrigada a
comparecer, mas queria ir. Depois de pedir a três fontes a passagem, inclusive ao Ministério Público do Pará, recorreu à SEDH.
Só na quarta-feira passada Mariza foi notificada por fax sobre o
julgamento. De posse do documento, no dia seguinte, pediu a
passagem. Na sexta, foi informada de que a secretaria, órgão do
Ministério da Justiça, não bancaria a passagem.
Alexandre Avelino Pereira, assessor da direção geral do Departamento de Proteção de Testemunhas e Vítimas de Crimes, disse à
Folha que a recusa teve três motivos: o pedido foi feito ""na última
hora"; havia ""questões burocráticas"; e caberia à Justiça do Pará
pagar a viagem.
Ontem, por intermédio de uma
assessora, o secretário dos Direitos Humanos, José Gregori, deu
três argumentos para o não-pagamento da passagem (R$ 882,11,
pela Varig):
1) o depoimento do cinegrafista
Raimundo Araújo, que assistiu ao
começo do confronto entre PMs e
sem-terra junto com Mariza Romão, supriria a ausência da jornalista;
2) um deputado, cujo nome o
secretário não revela, se comprometera a dar a passagem;
3) com base no Código de Processo Penal -a SEDH não soube
informar que artigo-, a defesa
dos policiais poderia pedir a anulação do julgamento devido à ""interferência" do Ministério da Justiça.
No mês passado, no entanto, foi
instituído o Programa Federal de
Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, prevendo, inclusive, ajuda financeira a testemunhas.
Mariza Romão foi embora de
Marabá (PA) em dezembro de
1997, após receber ameaças de
morte. Ela assistiu à primeira parte do confronto entre a polícia e os
sem-terra. Depois, conta, foi impedida pela PM.
Dois advogados cariocas ouvidos pela Folha, José Mauro do
Couto e Luiz Guilherme Vieira,
afirmaram inexistir obstáculo legal para o Ministério da Justiça
pagar a passagem.
O juiz Alberto Jorge Correia,
responsável pelo caso PC Farias
em Alagoas, afirmou que o Ministério poderia pagar a viagem sem
prejudicar o julgamento, já que
não é parte no processo.
Em junho, o Ministério da Justiça bancou a ida a Maceió de cerca
de 20 peritos convocados pela
Justiça para debater a morte de
Paulo César Farias.
Outras duas testemunhas de
acusação, moradoras em Eldorado, não foram ao julgamento com
medo de retaliação.
A Justiça do Pará também não
quis pagar a viagem de Mariza
Romão. A advogada Damaris Alves, em nome da jornalista, disse
que ela não pediu a passagem ao
MST porque não é ligada a nenhuma das partes no julgamento.
Texto Anterior: Promotor pedirá novo julgamento de oficiais Próximo Texto: MST fará protesto na próxima quinta Índice
|