São Paulo, Sexta-feira, 20 de Agosto de 1999
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ELDORADO DO CARAJÁS
Oficiais da PM prevêem que absolvição vá alterar comportamento de soldados no Estado
Resultado é comemorado por policiais

do enviado especial a Belém

e da Agência Folha, em Belém


Os policiais militares que faziam a segurança do julgamento de Eldorado do Carajás comemoraram, na madrugada de ontem, a absolvição dos comandantes da operação.
Oficiais da PM do Pará ouvidos pela Folha ontem disseram que a decisão do júri deve alterar a atitude dos policiais militares daqui para frente -policiais estariam sem motivação para lidar com problemas de terra no Estado.
Por volta das 3h, soldados que faziam a segurança do auditório da Universidade da Amazônia, onde está sendo realizado o julgamento, aproveitaram que o público já tinha ido embora e comemoraram a absolvição dos comandantes com abraços e sorrisos.
A reportagem apurou que a Polícia Federal teme um acirramento dos conflitos envolvendo sem-terra no sul do Pará -a região rural mais violenta do país, onde fica Eldorado.
A maior preocupação da PF é com relação às invasões que acontecem na fazenda Cabaceiras, em Marabá (sul do Estado). Sem-terra já invadiram duas vezes a fazenda neste ano, mas acabaram saindo.
A avaliação reservada da PF é que até agora não houve maiores problemas na área porque a PM estava intimidada com o julgamento dos 150 policiais envolvidos no caso do massacre de Eldorado do Carajás.
Com a eventual confirmação da absolvição, após recurso, a PF avalia que a PM tende a não ter uma atitude defensiva em conflitos rurais.
Outra preocupação é com a fazenda Goiás 2, em Parauapebas, município distante 66 km de Eldorado do Carajás.
A propriedade foi invadida por sem-terra em março do ano passado. Dois sem-terra foram mortos em confronto com policiais militares em 98, mas a fazenda continua invadida.
Depois da morte dos 19 sem-terra, em abril de 1996, a PM deixou de promover operações de reintegração de posse no sul do Pará sem autorização judicial.
No caso do massacre de Eldorado, a ação foi determinada por uma ordem do governador do Estado, Almir Gabriel (PSDB), e não contava com respaldo de um juiz ou do Ministério Público.
Oficiais da PM dizem, sem se identificar, que agora terão mais ""legitimidade" para trabalhar.
Para eles, a possibilidade de condenação dos três principais oficiais do caso de Eldorado estava fazendo com que a corporação tivesse ""menos motivação" para agir em operações envolvendo sem-terra.
(LUCAS FIGUEIREDO e LUÍS INDRIUNAS)


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