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INVESTIGAÇÃO
Documentos põem em xeque versão de fiscais segundo a qual cúpula do Fisco teria favorecido ex-auxiliar de FHC
Conflito interno na Receita em torno do caso EJ vai à Justiça
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Receita Federal tornou-se um
órgão conflagrado. Nos próximos
dias, o conflito ganhará o Judiciário. Serão processados os fiscais
que acusaram a cúpula do Fisco
de prejudicar as investigações em
torno de Eduardo Jorge Caldas
Pereira, ex-auxiliar próximo de
Fernando Henrique Cardoso.
A ressurreição do chamado caso EJ é a face visível de uma guerra
que opõe a direção da Receita, hoje chefiada por Jorge Rachid, e a
Corregedoria do órgão, dirigida
por Moacir Leão. Auxiliares de
Rachid acreditam que Leão esteja
por trás da denúncia dos fiscais.
Em depoimentos à Corregedoria da Receita e ao Ministério Público, os auditores Ruben Seixas
Neto e Rosa Maria Ferreira Oliveira disseram que houve pressões
para que encerrassem rapidamente uma fiscalização que tinha
Eduardo Jorge como foco central.
Documentos manuseados pela
Folha mostram que teria ocorrido
o oposto: a chefia dos fiscais queria não o encerramento, mas a
continuidade das apurações. A
posição foi explicitada em ofício
de 30 de outubro de 2001.
Quem assina o documento é
Newton Tadeu Nogueira. Chefiava a Delegacia da Receita em Brasília. Hoje, é superintendente para
a região Centro-Oeste. O ofício
tratava especificamente do caso
EJ. Foi remetido ao setor de fiscalização, onde estavam lotados os
auditores que esquadrinhavam a
vida fiscal de Eduardo Jorge.
Explicações
No texto, Tadeu Nogueira cobra
explicações. Queria saber por que
os fiscais Rosa Maria e Seixas Neto deram por concluída a fiscalização antes que houvesse decisão
da Justiça em relação ao pedido
de quebra do sigilo bancário de
Eduardo Jorge e de pessoas e empresas ligadas a ele.
Tadeu Nogueira menciona no
texto reuniões que teve com o setor de fiscalização. Uma delas
quando os fiscais começaram a
considerar a hipótese de encerrar
a fiscalização, em 24 de outubro
de 2001. Nesse encontro, disse que
considerava "sensato" aguardar o
pronunciamento final da Justiça.
Cuidadoso, ressalvou que, "por
não ter o direito de interferência",
deixava com os fiscais a decisão.
Em ofício de 5 de novembro de
2001, os fiscais responderam a Tadeu Nogueira. Disseram que o
término da fiscalização não acarretava "prejuízo à Fazenda Nacional". Ocorrida a quebra de sigilo
bancário, o caso poderia ser reaberto. Assinam Rosa Maria e Seixas Neto, que agora dizem ter sido
pressionados.
Tadeu Nogueira prepara duas
ações judiciais contra os auditores, uma cível e outra criminal.
Outro que recorrerá à Justiça é
Everardo Maciel, que chefiou a
Receita Federal durante os oito
anos da gestão FHC.
O ex-secretário do Fisco interpelará Rosa Maria. Ela declarou
ao Ministério Público que Everardo "determinou" que fossem fiscalizadas apenas as pessoas físicas
de Eduardo Jorge e sua mulher,
Lídice Coelho Caldas Pereira.
Os documentos reservados aos
quais a Folha teve acesso põem
em xeque, de novo, o depoimento
da fiscal. O processo deixa claro
que a quebra de sigilo bancário foi
obstada pelo Judiciário, não pela
Receita.
De resto, a Empresa EPJ, de
Eduardo Jorge, foi efetivamente
fiscalizada. O trabalho foi conduzido pelo auditor Luciano Calixto,
com o conhecimento dos colegas
Rosa Maria e Seixas Neto.
Fizeram-se também diligências
em empresas nas quais Eduardo
Jorge tinha participação societária. Numa delas, a LC Faria Consultores Associados, o trabalho foi
conduzido pessoalmente por Rosa Maria e Seixas Neto. Os dois assinaram um "termo de retenção
de documentos" da empresa, datado de 9 de setembro de 2000.
Em depoimento que prestara ao
Ministério Público em 24 de abril
de 2001, a própria Rosa Maria havia feito menção a "diligências"
efetuadas "em todas as empresas"
ligadas a Eduardo Jorge.
Diligência é um tipo de procedimento mais ligeiro. Normalmente serve para coletar dados que
irão subsidiar uma fiscalização
mais abrangente. Que, no caso específico, tinha Eduardo Jorge e a
mulher dele como protagonistas.
Quando julga conveniente, o
fiscal pode sugerir à Receita a conversão de uma diligência em fiscalização. Não há notícia de requisição do gênero no caso que envolve Eduardo Jorge.
No caso de Eduardo Jorge, o resultado das diligências fiscais foram reportados ao Ministério Público de duas maneiras: em ofício
de Everardo Maciel e em relatórios mensais requisitados pela
Procuradoria da República e assinados pelos próprios Seixas Neto
e Rosa Maria.
Suspeitas
No mesmo depoimento de 24
de abril de 2001, a auditora Rosa
Maria disse que não recebera "nenhuma orientação ou recomendação por parte da administração
da Receita Federal quando do início do procedimento fiscal".
Inquirida, disse que não houve
"determinação quanto ao prazo
de conclusão da auditoria". São
palavras que vão em sentido
oposto ao que ela disse no novo
depoimento, há duas semanas.
Auxiliares de Jorge Rachid, o
atual secretário da Receita Federal, suspeitam que, por trás dos
fiscais, haja alguma articulação
para desgastar a atual direção do
Fisco, composta de sobreviventes
da gestão Fernando Henrique
Cardoso. A começar pelo próprio
Rachid. O plano teria nascido na
Corregedoria da Receita.
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