São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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ELIO GASPARI

Mais uma teoria para a morte de Kennedy

São poucas as pessoas capazes de crer que Lee Oswald deu o primeiro tiro, acertou as costas do presidente John Kennedy, fez nova pontaria e estourou o lado direito de sua cabeça. Seja o que for que se conte a respeito da morte de Kennedy vai para um grande armazém de especulações, onde cada um constrói sua teoria particular. Como acabam de ser reveladas os registros médicos do presidente, vale a pena contar uma história deixada nos anos 60, no Rio de Janeiro, pelo embaixador do México, Vicente Sanchez Gavito.
Ele vivera em Washington por quase vinte anos e tinha grandes amigos na cidade. Em 1960, quando o senador Lyndon Johnson, poderoso líder da maioria democrata no Senado, aceitou ser candidato a vice na chapa do jovem senador John Kennedy (43 anos), Gavito achou que seu conhecido texano estava doido, pois trocava o segundo cargo mais importante da cidade por uma função decorativa. Encontrou-se com um amigo de Johnson e perguntou-lhe o que acontecera. Soube do seguinte:
- Lyndon quer ser presidente dos Estados Unidos e sabe que não chegará ao cargo pelo voto. Só resta o caminho da vice
- De um homem de 43 anos?
- Um homem de 43 anos e má saúde.
Despediram-se e reencontraram-se anos depois. O amigo americano estarreceu-o.
- Lembra-se do que eu lhe disse? Veja o filme do atentado. Quando ele leva o primeiro tiro, levanta a mão na direção da garganta, permanecendo quase imóvel. (A bala saiu pelo nó da gravata.) Ao contrário do governador John Connally, que foi atingido no braço, ele praticamente não se mexe. O assassino teve facilidade para mirar o segundo tiro. Kennedy não se mexeu porque tinha os reflexos lesados pela produção insuficiente de adrenalina, o mal de Addison.
Quando Kennedy disputou a presidência, sabia-se que ele tinha problemas na coluna. Segundo um exagero heróico seriam consequência do naufrágio de seu barco durante a guerra. Falava-se no mal de Addison mas sua turma desmentia. (Essa doença provoca, entre outras coisas, sensações de fadiga e fraqueza.)
O interlocutor de Sanchez Gavito não seria capaz de supor quão certo estivera. Kennedy estava um caco. Padecia do Mal de Addison e praticamente não tinha glândulas supra-renais, produtoras de adrenalina. Além das costas sofridas, tinha uma horrível colite e diarréias (desde a adolescência) mais uma infecção urinária que ia e voltava. Entre 1955 e 1957 foi hospitalizado nove vezes. Era atormentado por abcessos, insônias, febres e prostatite. Enfrentava isso tudo com sigilo, estoicismo e, de acordo com o "The New York Times", codeína e Demerol (para a dor), metadona, Ritalin (estimulante), librium (contra a ansiedade), barbitúricos para o sono, hormônios para a tiróide. Segundo a revista "Atlantic", tudo isso e mais testosterona, corticoesteróides e, em certas ocasiões, anfetaminas. Teve época em que tomava oito remédios por dia e houve dia em que tomou sete injeções de procaína nas costas, quase sempre antes de aparições públicas.
Tudo indica que a colite chamou os esteróides que, por sua vez podem ter provocado a osteoporose que lhe lesou a coluna e até mesmo o mal de Addison. Essa condição pode também ter sido herdada. Sua irmã Eunice padecia da mesma insuficiência.
Há tempo se sabe que Kennedy desportista é uma invenção da imprensa. Não se sabia o exato tamanho da encrenca nem a extensão da medicação. Essa ficha médica parece contradizer a crônica de atletismo sexual de Kennedy. Seu biografo, Robert Dallek acredita que ele se protegia utilizando a piscina da Casa Branca ou banheiras comuns. Além disso, tudo indica que, como presidente do Estados Unidos, valia-se do direito de precedência que o protocolo lhe assegura na escolha das posições na cama.

Serviço
A revista "Atlantic" colocou na Internet uma entrevista do professor Dallek, que deve publicar antes do fim do ano sua biografia de Kennedy. Infelizmente, em inglês, no seguinte endereço:
http://www.theatlantic.com/unbound/
interviews/int2002-11-18.htm



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