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ELIO GASPARI
Mais uma teoria para a morte de Kennedy
São poucas as pessoas capazes de crer que Lee Oswald
deu o primeiro tiro, acertou as
costas do presidente John Kennedy, fez nova pontaria e estourou o lado direito de sua cabeça.
Seja o que for que se conte a respeito da morte de Kennedy vai
para um grande armazém de
especulações, onde cada um
constrói sua teoria particular.
Como acabam de ser reveladas
os registros médicos do presidente, vale a pena contar uma
história deixada nos anos 60, no
Rio de Janeiro, pelo embaixador do México, Vicente Sanchez
Gavito.
Ele vivera em Washington por
quase vinte anos e tinha grandes amigos na cidade. Em 1960,
quando o senador Lyndon
Johnson, poderoso líder da
maioria democrata no Senado,
aceitou ser candidato a vice na
chapa do jovem senador John
Kennedy (43 anos), Gavito
achou que seu conhecido texano estava doido, pois trocava o
segundo cargo mais importante
da cidade por uma função decorativa. Encontrou-se com um
amigo de Johnson e perguntou-lhe o que acontecera. Soube do
seguinte:
- Lyndon quer ser presidente
dos Estados Unidos e sabe que
não chegará ao cargo pelo voto.
Só resta o caminho da vice
- De um homem de 43 anos?
- Um homem de 43 anos e má
saúde.
Despediram-se e reencontraram-se anos depois. O amigo
americano estarreceu-o.
- Lembra-se do que eu lhe disse? Veja o filme do atentado.
Quando ele leva o primeiro tiro,
levanta a mão na direção da
garganta, permanecendo quase
imóvel. (A bala saiu pelo nó da
gravata.) Ao contrário do governador John Connally, que foi
atingido no braço, ele praticamente não se mexe. O assassino
teve facilidade para mirar o segundo tiro. Kennedy não se mexeu porque tinha os reflexos lesados pela produção insuficiente de adrenalina, o mal de Addison.
Quando Kennedy disputou a
presidência, sabia-se que ele tinha problemas na coluna. Segundo um exagero heróico seriam consequência do naufrágio de seu barco durante a guerra. Falava-se no mal de Addison mas sua turma desmentia.
(Essa doença provoca, entre outras coisas, sensações de fadiga e
fraqueza.)
O interlocutor de Sanchez Gavito não seria capaz de supor
quão certo estivera. Kennedy
estava um caco. Padecia do Mal
de Addison e praticamente não
tinha glândulas supra-renais,
produtoras de adrenalina.
Além das costas sofridas, tinha
uma horrível colite e diarréias
(desde a adolescência) mais
uma infecção urinária que ia e
voltava. Entre 1955 e 1957 foi
hospitalizado nove vezes. Era
atormentado por abcessos, insônias, febres e prostatite. Enfrentava isso tudo com sigilo, estoicismo e, de acordo com o "The
New York Times", codeína e
Demerol (para a dor), metadona, Ritalin (estimulante), librium (contra a ansiedade),
barbitúricos para o sono, hormônios para a tiróide. Segundo
a revista "Atlantic", tudo isso e
mais testosterona, corticoesteróides e, em certas ocasiões, anfetaminas. Teve época em que
tomava oito remédios por dia e
houve dia em que tomou sete
injeções de procaína nas costas,
quase sempre antes de aparições públicas.
Tudo indica que a colite chamou os esteróides que, por sua
vez podem ter provocado a osteoporose que lhe lesou a coluna
e até mesmo o mal de Addison.
Essa condição pode também ter
sido herdada. Sua irmã Eunice
padecia da mesma insuficiência.
Há tempo se sabe que Kennedy desportista é uma invenção da imprensa. Não se sabia o
exato tamanho da encrenca
nem a extensão da medicação.
Essa ficha médica parece contradizer a crônica de atletismo
sexual de Kennedy. Seu biografo, Robert Dallek acredita que
ele se protegia utilizando a piscina da Casa Branca ou banheiras comuns. Além disso, tudo
indica que, como presidente do
Estados Unidos, valia-se do direito de precedência que o protocolo lhe assegura na escolha
das posições na cama.
Serviço
A revista "Atlantic" colocou
na Internet uma entrevista do
professor Dallek, que deve publicar antes do fim do ano sua
biografia de Kennedy. Infelizmente, em inglês, no seguinte
endereço:
http://www.theatlantic.com/unbound/
interviews/int2002-11-18.htm
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