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QUESTÃO AGRÁRIA
Meta federal é assentar 355 mil até 2006; entidades pedem 1 milhão
MST chama de "ridícula" a reforma agrária de Lula
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A meta do governo federal de
assentar 355 mil famílias até 2006,
o que deve ser a base do novo
PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), foi rotulada de "ridícula" pelo MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), de "mesquinha" pela CPT
(Comissão Pastoral da Terra) e de
"insuficiente" pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).
"Se for mantida, essa meta será
ridícula. O governo não contará
com o nosso apoio. [O governo]
deveria pelo menos honrar os
princípios históricos do PT. Infelizmente, a luta do movimento vai
continuar durante todo o mandato de Lula", disse ontem João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
Ontem, a assessoria de imprensa do ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário) informou que ninguém da pasta
responderia às críticas dos movimentos e da CPT.
A expectativa das entidades era
que a meta de 1 milhão de famílias
sugerida num anteprojeto do
PNRA, coordenado a pedido do
governo pelo economista e ex-deputado federal petista Plínio de
Arruda Sampaio, fosse mantida e
anunciada oficialmente. Ontem
pela manhã, com palavras de ordem, uma marcha com cerca de
2.000 sem-terra -segundo avaliação da polícia e dos próprios
coordenadores- chegou a Brasília exigindo esse número.
Rossetto disse anteontem à noite a deputados federais petistas
que a base do novo PNRA será,
além do assentamento das 355
mil famílias, atender a 150 mil por
meio de créditos fundiários e a
outras 500 mil em programas de
regularização fundiária, ou seja, o
governo entregará títulos de terra
a famílias de posseiros.
Para dom Tomás Balduíno, presidente nacional da CPT, o atual
governo "está indicando que fará
uma reforminha agrária" igual à
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso -que assentou
328,8 mil famílias entre 1995 e
2001, segundo pesquisa de seu
próprio governo. Em 2002, último
ano de seu mandato, não foi divulgado balanço.
"Não chega a ser frustrante porque não poderia se esperar outra
coisa do ministro [Rossetto]. Estou vendo uma coisa calculista e
mesquinha", afirmou dom Tomás Balduíno.
Um pouco menos indignado,
Manoel José dos Santos, presidente da Contag, declarou que a
meta de 355 mil famílias até 2006 é
"insuficiente" e "distante das propostas". A Contag pede, no mínimo, o assentamento de 200 mil famílias por ano.
Negociação
"É claro que essa não é a nossa
proposta. Queremos avançar bastante e continuar lutando. Mas
acredito que ainda exista espaço
para negociar com o governo",
disse o presidente da Contag.
Amanhã, cerca de 5.000 sem-terra ligados ao Fórum pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, formado por MST, Contag e
CPT, entre outros, pretendem fazer uma marcha na Esplanada
dos Ministérios.
"[Com o anúncio da meta de
355 mil famílias] a marcha pode
ganhar um novo ingrediente",
disse João Paulo Rodrigues, do
MST. Em 1997, durante marcha a
Brasília, o MST reuniu cerca de 35
mil trabalhadores rurais.
Hoje, haverá uma conferência
sobre o PNRA organizada pelos
sem-terra, a qual foram convidados o ministro Rossetto e o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), Rolf Hackbart. Nenhum
deles, porém, confirmou presença no evento.
A expectativa dos sem-terra é
conseguir agendar para amanhã
um encontro com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
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