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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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NO AR

Selvagem

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Como disse Howard Kurtz, da CNN e do "Washington Post", a mídia ficou "selvagem".
A entrevista coletiva da polícia, sobre Michael Jackson, entrou ao vivo em todos os canais de notícias -americanos, ingleses, brasileiros. Até no site da Al Jazeera foi destaque.
A disputa aberta por entrevistas exclusivas obrigou os chefes de polícia a iniciarem a coletiva dizendo -e depois repetirem- que agradeciam os incontáveis convites para programas, mas declinavam.
A coletiva em si foi um circo em que a cobertura de entretenimento se confundia com detalhes de leis.
Ouviram-se risadas quando o xerife respondeu, à reclamação de Jackson de que surgem acusações sempre que lança um CD, dizendo que nunca escutou uma música do pop star.
Ouviram-se risadas quando um repórter pediu comida para enfrentar o plantão.
Na entrada da mansão do cantor, Neverland, fãs com cartazes em defesa do ídolo.
Em suma, o circo costumeiro, para assunto que está longe de ser engraçado.
 
A sociedade do espetáculo queria Jackson, mas os canais americanos e ingleses não esqueceram George W. Bush.
A certa altura, estavam todos, Fox News, CNN, BBC, CNN em espanhol, ao vivo do palácio onde a rainha Elizabeth oferecia um banquete a Bush.
Uma chatice anacrônica, mas obviamente muito necessária ao esforço de guerra das nações e de seus canais.
 
Geraldo Alckmin, o governador da Febem, foi a Brasília pedir a ampliação das penas para menores de idade.
Ganhou destaque nos telejornais e longa entrevista no Bom Dia Brasil -que ultimamente mais parece anexo da Esplanada dos Ministérios.
O governador garantiu, para ouvidos céticos, que a proposta não é reação à histeria em torno do caso do jovem casal:
- Já há bastante tempo estudamos a questão.
Garantiu que a Febem não é como antes:
- Estamos fazendo um bom trabalho agora.
Um tucano como os demais, ainda que da nova plumagem mais conservadora, não assumiu a redução da maioridade penal, mas quase:
- É um debate que deve acontecer. Nós não devemos fugir ao debate.
Com ele concorda o ex-governador Luiz Fleury, aquele que ganhou lugar na história com os 111 do Carandiru -e que saiu ontem clamando nas rádios CBN e Bandeirantes por um plebiscito para decidir sobre a redução a maioridade.
Fleury: eis a nova companhia de Alckmin e seus tucanos.


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