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NO AR
Selvagem
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Como disse Howard Kurtz,
da CNN e do "Washington
Post", a mídia ficou "selvagem".
A entrevista coletiva da polícia,
sobre Michael Jackson, entrou ao
vivo em todos os canais de notícias -americanos, ingleses, brasileiros. Até no site da Al Jazeera
foi destaque.
A disputa aberta por entrevistas exclusivas obrigou os chefes
de polícia a iniciarem a coletiva
dizendo -e depois repetirem-
que agradeciam os incontáveis
convites para programas, mas
declinavam.
A coletiva em si foi um circo em
que a cobertura de entretenimento se confundia com detalhes de leis.
Ouviram-se risadas quando o
xerife respondeu, à reclamação
de Jackson de que surgem acusações sempre que lança um CD,
dizendo que nunca escutou uma
música do pop star.
Ouviram-se risadas quando
um repórter pediu comida para
enfrentar o plantão.
Na entrada da mansão do cantor, Neverland, fãs com cartazes
em defesa do ídolo.
Em suma, o circo costumeiro,
para assunto que está longe de
ser engraçado.
A sociedade do espetáculo queria Jackson, mas os canais americanos e ingleses não esqueceram
George W. Bush.
A certa altura, estavam todos,
Fox News, CNN, BBC, CNN em
espanhol, ao vivo do palácio onde a rainha Elizabeth oferecia
um banquete a Bush.
Uma chatice anacrônica, mas
obviamente muito necessária ao
esforço de guerra das nações e de
seus canais.
Geraldo Alckmin, o governador da Febem, foi a Brasília pedir a ampliação das penas para
menores de idade.
Ganhou destaque nos telejornais e longa entrevista no Bom
Dia Brasil -que ultimamente
mais parece anexo da Esplanada
dos Ministérios.
O governador garantiu, para
ouvidos céticos, que a proposta
não é reação à histeria em torno
do caso do jovem casal:
- Já há bastante tempo estudamos a questão.
Garantiu que a Febem não é
como antes:
- Estamos fazendo um bom
trabalho agora.
Um tucano como os demais,
ainda que da nova plumagem
mais conservadora, não assumiu
a redução da maioridade penal,
mas quase:
- É um debate que deve acontecer. Nós não devemos fugir ao
debate.
Com ele concorda o ex-governador Luiz Fleury, aquele que
ganhou lugar na história com os
111 do Carandiru -e que saiu
ontem clamando nas rádios
CBN e Bandeirantes por um plebiscito para decidir sobre a redução a maioridade.
Fleury: eis a nova companhia
de Alckmin e seus tucanos.
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