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JANIO DE FREITAS
A linha furada
Se Luiz Carlos Mendonça de
Barros continuar no governo,
seja como ministro das Comunicações ou como titular do hipotético Ministério da Produção, será um feito extraordinário, porque as vozes mais fortes
da base política do governo estão de acordo em que sua saída
é uma necessidade, tornada
ainda maior pelo depoimento
de ontem. As cautelosas declarações públicas daqueles líderes não correspondem ao sentido e à ênfase do que dizem privadamente.
A linha de defesa adotada por
Luiz Carlos Mendonça de Barros no Senado foi a reunião, repetida sem variações, de quatro pontos sobre os quais existe
razoável quantidade de elementos, facilitando sua apreciação. Curioso é que, mesmo
tentando negar a autenticidade das fitas, Mendonça de Barros deu sua explicação para cada um trechos de gravações já
divulgados.
Não disse, simplesmente, que
eram falsos. Aceitou-os, em óbvio aval às gravações e às
transcrições publicadas. A essa
autenticação voluntária junta-
se outra, implícita na maneira
como Mendonça de Barros
pensa em desqualificar as fitas:
"São editadas", repete ele. Um
truque, porque editada quer
dizer que reúne partes diversas, não significa montagem
que crie frases não emitidas.
Um segundo elemento da defesa é o de que os trechos sobre
preço, para a venda da imensa
Tele Norte Leste, e formação
forçada de um consórcio serviram para aumentar o valor, em
benefício do governo. Os diálogos divulgados no começo do
caso deixaram claro que Mendonça de Barros instruiu André Lara Resende no sentido de
iludir um concorrente, fazendo-o crer que poderia ganhar
com preço baixo. Assim, na
verdade, o grupo de Pérsio Arida, pelo qual Mendonça de
Barros confessou no Senado
sua preferência, poderia ficar
com a Telerj e mais 15 telefônicas por preço inferior ao de disputa sem tapeações, bastando
ficar um pouco acima do preço
baixo sugerido ao outro concorrente.
O valioso acréscimo feito revista "Carta Capital" saída
agora, com mais trechos das
gravações, contém um adendo
que arruina qualquer dúvida
sobre o propósito quanto ao
preço e à suposta competição.
De André Lara Resende, presidente do BNDES, a Pérsio Arida, pretendente à compra das
telefônicas: "Faz o preço pra
baixo. Depois, na hora, se precisar a gente sobe e ultrapassa
o limite".
Esse é o plano ditado ao possível comprador: forçar o preço
PARA BAIXO, portanto contra
o Tesouro Nacional e contra o
governo, e só o subir SE PRECISAR para não perder no leilão.
E, se precisar, "A GENTE sobe o
preço". Ou seja, o pretendente
comprador, o presidente do
BNDES e o ministro das Comunicações são um grupo uno, a
gente que desce o prelo contra o
país e só em último caso o poria
em ponto menos baixo.
Último caso que não aconteceu, porque a rica Telerj e suas
15 companheiras de leilão foram vendidas por preço apenas
1% acima do mínimo. E a história de que a oferta de Pérsio
Arida, citada também por
Mendonça de Barros, seria R$ 1
bilhão acima da vencedora, assim "comprovando" o propósito do trio de dar maior ganho
ao governo, compromete ainda
mais o mesmo Mendonça e André Lara.
Ainda que fosse verdadeira
essa cifra de araque, os dois só
poderiam conhecê-la por procedimento ilícito. A oferta estava em envelope fechado que foi
triturado, em máquina, na hora mesma do leilão, porque o
consórcio de Pérsio Arida, já
comprador da Tele Centro Sul,
não poderia concorrer a outra
compra.
A explicação dada por Mendonça de Barros, como é dada
também por André Lara e outros, para a "preferência" pelo
consórcio de Pérsio Arida mergulha no ridículo. Ao concorrente de Arida faltava "habilitação técnica" por não figurar
nele "nenhuma operadora" de
telefonia. Mas o edital feito pelo governo não exigiu a presença de operadora. Cinco ricos
quitandeiros poderiam habilitar-se à compra. E acionistas
de empresas, ainda que majoritários, não precisam ser técnicos, que são contratáveis.
A ação contra um consórcio,
já está mais do que evidente,
foi para favorecer outro. E a
compra, pelo BNDES, de 25%
do conjunto de empresas foi
para repassá-los, em outro negócio injustificável, como confirmam frases reproduzidas pela "Carta Capital".
O que aconteceu, e se desdobra ainda, é que Mendonça de
Barros, André Lara Resende e
Pérsio Arida ambicionaram o
creme perfeito. Não foram os
primeiros a tentá-lo, nem serão
os últimos a vê-lo desandar.
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