São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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DEPOIMENTO
Aliados do presidente pedem a renúncia de Mendonça de Barros
Explicações de ministro não convencem senadores

Alan Marques/Folha Imagem
O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, durante depoimento no Senado, onde explicou conteúdo de grampo telefônico


da Sucursal de Brasília

O depoimento do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) não convenceu os aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso no Senado. Eles recomendaram a renúncia do ministro.
O presidente nacional do PMDB, Jader Barbalho (PA), disse: "Se eu fosse ele, pensaria igual ao ex-ministro da Aeronáutica Mauro Gandra, que pediu demissão apenas por ter dormido na casa do representante da empresa Raytheon, interessada no projeto Sivam".
O senador tucano Jefferson Peres (AM) também criticou Mendonça de Barros. "Hoje, um ministro honesto adota práticas heterodoxas. Os fins justificam os meios?"
Durante o depoimento, que durou quatro horas e 46 minutos, o ministro das Comunicações admitiu que tinha "preferência pessoal" pelo consórcio controlado pelo banco Opportunity na privatização da Tele Norte Leste.
À noite, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que "o Brasil só pode ir para a frente quando a gente acreditar nele e naqueles que estão dirigindo o país". "Erra-se, quantas vezes, mas não por má-fé, não por falta de respeito ao erário, não por malversação do fundo público. Pode-se errar por política. E, quando se erra, se corrige", afirmou.
Antes, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, havia dito que "o ministro respondeu (às perguntas) com franqueza e o que sobressai do seu depoimento é uma pessoa preocupada com o interesse público".
A Folha apurou, porém, que assessores de FHC avaliaram que Mendonça de Barros, apesar de ter trabalhado para o "bem do Tesouro Nacional", não conseguiu apagar a imagem de que teria manipulado o leilão de privatização da Telebrás.
Líderes dos partidos de oposição disseram que o depoimento do ministro das Comunicações aumentou as suspeitas de que houve "relações promíscuas" entre autoridades do governo e investidores privados no leilão da Telebrás.
A proposta de criar uma CPI para investigar as privatizações, segundo a oposição, ganhou fôlego com a ida de Mendonça de Barros ao Senado.
O líder do PT no Senado, Eduardo Suplicy (PT-SP), afirmou que recebeu de dois senadores tucanos -Jefferson Peres (AM) e Carlos Wilson (PE)- a garantia de que assinarão a proposta. Com as novas adesões, o total de assinaturas chegaria a 18 -nove a menos do que o número necessário para aprovar a abertura das investigações.
Os governistas, porém, continuam não querendo a abertura de uma CPI, apesar de não terem ficado satisfeitos com as explicações do auxiliar de FHC.
Durante o depoimento, Mendonça de Barros aumentou o mistério em torno da expressão "usar a bomba atômica", capturada pelo grampo telefônico. E acabou entrando em contradição com o presidente do BNDES, André Lara Resende.
Segundo Mendonça, a expressão significava informar Pérsio Arida (do banco Opportunity) de que o consórcio Telemar estava com dificuldades para obter recursos suficientes para cobrir o lance mínimo da Tele Norte Leste (R$ 3,4 bilhões).
A versão de Lara Resende é outra. O presidente do BNDES disse em entrevista ao jornal "O Globo" que a expressão significava "informar o presidente" Fernando Henrique Cardoso.



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