São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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LUA-DE-MEL

Em discurso, FHC fez balanço do governo e disse que transição "civilizatória" se deve a sucessor

Presidente elogia "Lulinha paz e amor"

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem novos elogios ao sucessor Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele disse ser verdadeira a expressão "Lulinha paz e amor", cunhada pelo presidente eleito na campanha eleitoral. Segundo FHC, só vem sendo possível manter "padrões civilizatórios" na transição porque Lula estaria ajudando.
"Eu quero aqui prestar um reconhecimento. Se foi possível manter-se uma transição que assegurou, possivelmente, maior credibilidade ao futuro governo e ao país, é porque quem vai me suceder entendeu isso. A frase que saía na campanha eleitoral, "Lulinha paz e amor", pegou porque ele [Lula] tem algo de paz e amor. Se não tivesse, não pegaria. Simplesmente o slogan não colaria", disse o FHC durante o lançamento de dois livros da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em homenagem ao ex-ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen (1935-1997).
No discurso, FHC fez um rápido balanço dos oito anos de governo e recomendou a Lula que continue o ajuste fiscal e as reformas do Estado. Lamentou não ter aprovado a reforma da Previdência durante o mandato.
"A reforma da Previdência continua sendo necessária para que nós possamos efetivamente chegar a uma moeda que seja realmente consolidada. Estamos longe de tê-la", disse.
Para FHC, o "grande drama" do homem público é que suas ações não dependem só dele, mas de muitos outros.
"Nem sempre se consegue convencer, como na questão da Previdência. O problema dos aposentados é o problema dos pobres, mas dá sempre a impressão do contrário. É difícil convencer de que não é assim. Muitas vezes se falha, como nós próprios falhamos", afirmou.
Em outro elogio a Lula, implícito, o presidente disse que um governante precisa também da emoção para administrar. "Ninguém é capaz de criar nada se não tiver emoção. A gente pode esconder a emoção, e eu escondo sempre, mas ela é indispensável." No sábado, Lula chorou ao ser diplomado presidente.
Após o lançamento dos livros, FHC participou de almoço com empresários, promovido pela Associação Comercial do Rio e pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).
No almoço, ele disse que não pretende concorrer a cargos após o governo. "Procurarei ser ex-presidente mesmo, e não candidato a nada, mas seguindo como ex-presidente, candidato a continuar servindo ao Brasil."
FHC disse aos empresários que a história de um país deve ser entendida como processo, não como conquistas de um governo. Como exemplo, citou o combate ao analfabetismo, que, afirmou, foi a "nódoa" do país no século 20, assim como a escravidão foi para o século 19.

Evandro Lins e Silva
Antes de embarcar de volta a Brasília, FHC visitou a família do jurista Evandro Lins e Silva, morto na terça-feira, em consequência de um traumatismo craniano, provocado por uma queda na área de desembarque do aeroporto Santos Dumont.
Acompanhado do filho Paulo Henrique, FHC se encontrou com os quatro filhos do jurista: Ana Teresa, Ana Patrícia, Carlos Eduardo e Cristiano.
O encontro, de dez minutos, ocorreu no saguão do prédio onde Lins e Silva morava, em Copacabana (zona sul). FHC entregou à família fotos da cerimônia em que o jurista foi nomeado para o Conselho da República, no dia 12, em Brasília. Na volta, Lins e Silva sofreu a queda. "Ele nos disse que estava especialmente comovido. Foi uma consternação. Eles estiveram juntos naquele dia", disse Ana Teresa.
Na saída, FHC foi vaiado por algumas pessoas. Antes, na saída do almoço com empresários, o presidente foi aplaudido por seis pessoas e recebeu um beijo de uma menina.


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