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LUA-DE-MEL
Em discurso, FHC fez balanço do governo e disse que transição "civilizatória" se deve a sucessor
Presidente elogia "Lulinha paz e amor"
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem novos
elogios ao sucessor Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). Ele disse ser
verdadeira a expressão "Lulinha
paz e amor", cunhada pelo presidente eleito na campanha eleitoral. Segundo FHC, só vem sendo possível manter "padrões civilizatórios" na transição porque
Lula estaria ajudando.
"Eu quero aqui prestar um reconhecimento. Se foi possível
manter-se uma transição que assegurou, possivelmente, maior
credibilidade ao futuro governo
e ao país, é porque quem vai me
suceder entendeu isso. A frase
que saía na campanha eleitoral,
"Lulinha paz e amor", pegou porque ele [Lula] tem algo de paz e
amor. Se não tivesse, não pegaria. Simplesmente o slogan não
colaria", disse o FHC durante o
lançamento de dois livros da
FGV (Fundação Getúlio Vargas)
em homenagem ao ex-ministro
da Fazenda, Mário Henrique Simonsen (1935-1997).
No discurso, FHC fez um rápido balanço dos oito anos de governo e recomendou a Lula que
continue o ajuste fiscal e as reformas do Estado. Lamentou não
ter aprovado a reforma da Previdência durante o mandato.
"A reforma da Previdência
continua sendo necessária para
que nós possamos efetivamente
chegar a uma moeda que seja
realmente consolidada. Estamos
longe de tê-la", disse.
Para FHC, o "grande drama"
do homem público é que suas
ações não dependem só dele,
mas de muitos outros.
"Nem sempre se consegue
convencer, como na questão da
Previdência. O problema dos
aposentados é o problema dos
pobres, mas dá sempre a impressão do contrário. É difícil
convencer de que não é assim.
Muitas vezes se falha, como nós
próprios falhamos", afirmou.
Em outro elogio a Lula, implícito, o presidente disse que um
governante precisa também da
emoção para administrar. "Ninguém é capaz de criar nada se
não tiver emoção. A gente pode
esconder a emoção, e eu escondo sempre, mas ela é indispensável." No sábado, Lula chorou ao
ser diplomado presidente.
Após o lançamento dos livros,
FHC participou de almoço com
empresários, promovido pela
Associação Comercial do Rio e
pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).
No almoço, ele disse que não
pretende concorrer a cargos
após o governo. "Procurarei ser
ex-presidente mesmo, e não
candidato a nada, mas seguindo
como ex-presidente, candidato a
continuar servindo ao Brasil."
FHC disse aos empresários
que a história de um país deve
ser entendida como processo,
não como conquistas de um governo. Como exemplo, citou o
combate ao analfabetismo, que,
afirmou, foi a "nódoa" do país
no século 20, assim como a escravidão foi para o século 19.
Evandro Lins e Silva
Antes de embarcar de volta a
Brasília, FHC visitou a família do
jurista Evandro Lins e Silva,
morto na terça-feira, em consequência de um traumatismo
craniano, provocado por uma
queda na área de desembarque
do aeroporto Santos Dumont.
Acompanhado do filho Paulo
Henrique, FHC se encontrou
com os quatro filhos do jurista:
Ana Teresa, Ana Patrícia, Carlos
Eduardo e Cristiano.
O encontro, de dez minutos,
ocorreu no saguão do prédio onde Lins e Silva morava, em Copacabana (zona sul). FHC entregou à família fotos da cerimônia
em que o jurista foi nomeado
para o Conselho da República,
no dia 12, em Brasília. Na volta,
Lins e Silva sofreu a queda. "Ele
nos disse que estava especialmente comovido. Foi uma consternação. Eles estiveram juntos
naquele dia", disse Ana Teresa.
Na saída, FHC foi vaiado por
algumas pessoas. Antes, na saída
do almoço com empresários, o
presidente foi aplaudido por seis
pessoas e recebeu um beijo de
uma menina.
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