São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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DOMINGUEIRA
Monica no deserto

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

Como deveria se chamar essa operação de Clinton contra o Iraque? "Monica no deserto"? "Blow job no deserto"? "Impeachment no deserto"?
Ninguém, salvo os norte-americanos que respondem pesquisas, parece ter muita dúvida sobre os motivos que levaram Clinton a atacar novamente, ainda que o impeachment do presidente dificilmente venha a se concretizar.
É verdade que Saddam é indefensável. É um dos maiores interessados no ataque, já que extrai da guerra sua razão de existir, até que a situação, mais dia menos dia, torne-se fatalmente insustentável. Mas não deixa de ser um patético espetáculo imperial esse que os americanos, com o sempre voluntário apoio dos ingleses, promovem com os bombardeios sobre Bagdá.
Ela adorou ir ao Jô. Surgiu sorridente e comunicativa, fez sumir e aparecer cartas, revelando-se uma craque do ilusionismo. Mas não era uma mágica qualquer. Era uma profissional, como se diz por aí, "sintonizada com a modernidade". Ou seja: introduz marcas de produtos em seus baralhos, busca patrocínios da iniciativa privada e apresenta-se em fóruns empresariais. Uma beleza.
Agora só falta entrar para a equipe econômica.
Há motivos para se duvidar do caráter científico da economia. Alguns podem até preferir a velha licença e defini-la -ao lado da política- como uma "arte". Seja como for, os economistas têm o que aprender com artistas e poetas. Dois deles poderiam ajudar um pouco a explicar a crise do Real: Marcel Duchamp e Stéphane Mallarmé.
O primeiro, talvez o mais interessante artista do século, sempre trabalhou com variáveis controláveis, porém deixando aberto o espaço para a intervenção do acaso. Criou, por exemplo, réguas a partir de barbantes de um metro, jogados ao chão de uma mesma altura determinada -ficando com o acaso a tarefa de escolher a forma que eles assumiriam ao tocar o solo. É um procedimento conhecido pelos economistas, que fixam seus parâmetros e ficam aguardando para ver como eles "cairão" na realidade...
O segundo, poeta estupendo, criou o verso que deveria ser o lema permanente de qualquer "aposta" econômica: "Um lance de dados jamais abolirá o acaso".



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