|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Dúvidas sobre a economia mundial
A piora da expectativa externa em relação ao Brasil, nas últimas semanas, não foi um movimento isolado. Depois de uma
melhora acentuada desde outubro, os mercados voltaram a ficar mais instáveis e avessos a
riscos.
O Brasil ajuda a explicar essa
piora, mas as dúvidas são mais
amplas. A produção industrial
mundial está com crescimento
anual próximo de zero e abaixo
do nível de 1982 (a outra grande
retração do último quarto de século), segundo o banco Crédit
Suisse First Boston (CSFB).
Outra maneira expressiva de
medir essa retração é olhar
quanto o crescimento na produção industrial mundial se distancia, hoje, do crescimento potencial do produto. Ou seja, de
quanto poderia crescer, considerada a tendência histórica e a
capacidade instalada.
Essa diferença, ou "hiato" do
produto mundial, está hoje em
3%, e o CSFB projeta que chegará a 4% em 99. Já é um resultado
tão ruim quanto o do início de
93 e tende a ser o pior dos últimos 25 anos. O mundo está em
recessão e a forte queda dos preços das "commodities" reflete essa situação.
Uma análise de Jonathan Wilmot, do CSFB de Londres, pergunta se a recuperação recente
dos mercados significou o início
de um período de melhora sustentada ou apenas uma "pausa
entre crashes". Ele diz que a retomada recente do apetite por
risco foi revertida e existem riscos à frente.
Entre os mercados emergentes,
a recuperação dos países asiáticos (excluído o Japão) se estabilizou, enquanto a América Latina (liderada pelo Brasil) e o Leste Europeu sofrerão forte retração econômica. A recessão brasileira complica o cumprimento
das metas fiscais do FMI, diz ele,
e dificulta obter a credibilidade
necessária para reduzir os juros.
Outro complicador é a divergência de comportamento entre
a economia americana, que continua vigorosa, e as européia e
japonesa. Isso tem levado a um
déficit comercial crescente nos
Estados Unidos, o que pode levar a uma queda no dólar e a
pressões protecionistas, fatores
de instabilidade.
O mundo, em recessão, precisa
de taxas de juros menores, mas
nos Estados Unidos é cada vez
maior a desconfiança de que os
juros poderão subir, não baixar.
O Japão já está com juros de
apenas 0,25%, e a Europa precisa criar uma reputação para a
nova moeda, o euro, a partir de
janeiro. Não fazer nada com os
juros pode aumentar a instabilidade e volatilidade dos mercados.
Daniel Gleizer, principal economista do CSFB-Garantia,
lembra que a melhora no apetite
recente por risco foi seletiva. A
Argentina e a China voltaram
com sucesso ao mercado, mas os
fluxos para o Brasil continuaram ruins.
Um indicador do apetite global por risco do CSFB mostra
uma forte queda, depois da quebra da Rússia, seguida por uma
rápida subida depois de outubro, para níveis até maiores do
que os de abril (o melhor deste
ano). Nas últimas semanas, contudo, esse indicador voltou a recuar.
Gleizer lembra que a remuneração dos títulos do governo
americano de longo prazo voltou a cair, sinal de "fuga para
qualidade". Os investidores, temendo outros ativos, se refugiam nos papéis americanos, o
que leva a uma queda na sua
rentabilidade.
Até mesmo o prêmio de risco
pago pelas melhores empresas
americanas (riscos AA), que havia dobrado de 0,4 para 0,8 ponto percentual acima dos títulos
do Tesouro, depois da Rússia,
caiu, mas apenas para 0,6. Recessão e deflação aumentam o
medo de inadimplência e tornam os bancos mais seletivos e
avessos a riscos.
Nesse cenário novamente mais
instável, a rejeição da MP dos
funcionários públicos, no início
de dezembro, fez aumentar muito a percepção de risco no Brasil.
E essa piora reforçou o clima
menos otimista internacional,
já que o Brasil continua no centro das atenções dos mercados.
A conclusão de Gleizer é que,
nesse quadro, o Brasil precisa
acabar com as ambiguidades
em relação ao futuro da política
econômica, geradas pela discussão do novo ministério, implementar o ajuste fiscal e baixar os
juros.
O otimismo recente dos mercados internacionais, lembra Wilmot, esteve ligado a mais de 50
iniciativas de redução de juros
ao redor do mundo; ao pacote de
resgate do Brasil; e a sinais de
ação no Japão. A dúvida é saber
se será possível manter tanto
ativismo daqui para frente.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|