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OPERAÇÃO ANACONDA
Para juiz, sua situação atual é pior que a de Bin Laden
Rocha Mattos diz que foi prejulgado
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos disse ontem que já foi
prejulgado e condenado pelo Tribunal Regional Federal pelos crimes de venda de sentença e de
formação de quadrilha.
Afirmou que sua situação é pior
do que a do terrorista saudita
Osama bin Laden, que assumiu a
autoria dos atentados em série em
11 de setembro de 2001: "É mais
fácil Bin Laden ser absolvido por
uma corte americana do que eu
ser absolvido por este tribunal".
Rocha Mattos disse que irá processar a desembargadora Therezinha Cazerta, relatora do seu caso e que conduziu o interrogatório ontem, por "danos morais".
Na interpretação do juiz, o voto
dela ao aceitar o processo equivale a uma condenação.
"Beijo"
O juiz federal negou que o "beijo" mandado pelo empresário
Sérgio Chiamarelli Jr. em telefonema gravado pela Polícia Federal seja uma espécie de retribuição
à absolvição do diretor da corretora Split, acusado de fraudar títulos da dívida da Prefeitura de São
Paulo. A sentença absolutória de
Chiamarelli Jr. e de outros diretores da Split foi assinada pelo magistrado paulista.
O juiz disse à desembargadora
Therezinha Cazerta que a ligação
ocorreu dez dias depois de a sentença ter sido proferida e que não
há qualquer nexo entre a decisão e
o "beijo" enviado.
Rocha Mattos negou que o
agente da Polícia Federal César
Herman Rodriguez tenha escrito
sentenças que ele viria a assinar
depois. Laudo da Polícia Federal,
feito a partir de análise da memória de computadores apreendidos
em 30 de outubro do ano passado
num escritório de advocacia usado pelo agente, aponta Rodriguez
como provável autor de sentenças
assinadas pelo juiz em 1996.
Segundo Rocha Mattos, essas
sentenças estavam armazenadas
em um computador que ele vendeu para Rodriguez e o agente
usou para criar uma biblioteca jurídica eletrônica.
Nessa época, o agente havia sido
expulso da PF e atuava como advogado -daí, o seu suposto interesse acadêmico pelas sentenças.
As sentenças em branco que a
PF encontrou no escritório do
empresário Wagner Rocha eram
cópias, segundo disse o juiz, e não
esboços de sentenças para serem
negociadas, como aponta a PF.
"Inimigos"
Rocha Mattos disse que não
destruiu as fitas da investigação
da morte do prefeito Celso Daniel,
de Santo André, porque o juiz-corregedor Maurício Porto passou-lhe um fax informando que
ele deveria esperar um ordem de
Brasília, que nunca chegou.
O juiz confirmou que usava o
escritório de Affonso Passarelli
Filho, apontado pela PF como um
dos centros da suposta quadrilha,
para pagar algumas de suas contas. Foi por isso, segundo ele, que
a Polícia Federal encontrou boletos bancários de Rocha Mattos
durante as apreensões realizadas
lá em 30 de outubro.
O magistrado também reafirmou que é amigo de Rodriguez e
que, quando esteve afastado da
Justiça, chegou a trabalhar com
ele dando consultoria jurídica.
Disse que não foi ele quem solicitou o agente da PF para o fórum
criminal federal de São Paulo,
mas o juiz Casem Mazloum.
Questionado sobre seus negócios com o subprocurador-geral
Antonio Augusto César, acusado
pela PF de integrar a suposta quadrilha, Rocha Mattos disse que é
"desafeto" e "inimigo" dele.
"Ele não gosta de mim, e eu não
gosto dele", resumiu. As razões da
inimizade, segundo o juiz, seriam
"o mau caráter" de César e o fato
de ele não cumprir contratos.
Rocha Mattos tentou convocar
uma entrevista coletiva após o interrogatório, mas foi proibido pela desembargadora, sob a justificativa de que o processo corre em
segredo de Justiça.
Alberto Toron, advogado de
Rocha Mattos, protestou contra a
decisão, alegando que seu cliente
tem o direito de se pronunciar, já
que a imprensa divulga diariamente os tais segredos.
Toron, porém, elogiou a forma
com que a desembargadora e a
procuradora Janice Ascari conduziram o depoimento: "As perguntas foram muito pertinentes".
Habeas corpus negado
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Nilson Naves, negou pedido liminar em habeas-corpus impetrado pelo advogado
de Norma Regina Emílio Cunha,
para que fitas apreendidas na casa
da ex-mulher de Rocha Mattos
fossem remetidas para o STJ.
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