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AGENDA EM XEQUE
Governadores devem pressionar União por liberação de verbas
Em reunião sobre reformas, Estados pedirão socorro a Lula
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pauta das reuniões de hoje e
amanhã entre os 27 governadores
e o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deve se transformar em um
pedido de socorro financeiro urgente dos Estados à União.
Com falta de recursos, os governadores irão ao encontro com
uma série de reivindicações, como a alteração no percentual de
comprometimento da receita
com o pagamento da dívida, pedidos de antecipação de receita de
royalties, compensações e liberação de recursos pelo governo.
O encontro pode chegar a um
impasse. Isso porque, como anfitrião, o governo federal apresentará uma agenda baseada nas reformas previdenciária e tributária, cujos impactos positivos nas
contas dos Estados somente poderão ser sentidos a médio e longo prazos. A maioria dos governadores, entretanto, pretende,
com a visita, pressionar a União
para que haja uma liberação imediata de verbas.
As alterações nos atuais sistemas previdenciário e tributário
também são tidas como primordiais pelos governadores. Mas,
entre eles, há a expectativa de que
o governo federal crie alternativas
para que os Estados não percam
suas receitas nem aumentem seus
gastos durante o período de implementação das reformas.
Um dos focos de tensão virá do
Nordeste. Com exceção da Paraíba e do Piauí, os demais governadores da região vão reivindicar ao
presidente a renegociação de suas
dívidas com a União.
Eles pedirão mudança no cálculo da receita líquida real de cada
Estado para que sejam excluídas
da conta transferências cujos recursos somente podem ser aplicados em finalidades predeterminadas. Com isso, cairia a parcela
mensal de pagamento das dívidas
estaduais com a União.
O Rio Grande do Sul também é
a favor da diminuição do percentual da receita corrente líquida
comprometido com o pagamento
de dívidas com o governo federal.
A dívida dos Estados com a
União aumentou nominalmente
entre outubro de 2001 e outubro
de 2002 mais de R$ 20 bilhões
(8,63%). O valor passou de R$
234,9 bilhões para R$ 255,2 bilhões. O governo não pretende renegociar as dívidas, alegando restrições impostas pela LRF (Lei de
Responsabilidade Fiscal).
Rio de Janeiro e Espírito Santo,
que enfrentam problemas com o
pagamento dos salários dos servidores, querem do Tesouro antecipações de recursos que deverão
receber no futuro (participações
na exploração de petróleo). Em
janeiro, o Rio teve suas contas
bloqueadas para que fossem garantidos os pagamentos de sua dívida com o Tesouro Nacional.
Compensações
O Planalto quer evitar o prolongamento dos debates em torno
das reformas até o ano que vem,
quando os trabalhos no Congresso ficam comprometidos devido
às eleições municipais.
Para diminuir a resistência de
alguns Estados a essa agenda, o
governo federal pretende oferecer
a criação de um fundo de compensação, que teria como objetivo
minimizar eventuais perdas de
arrecadação e aumento de gastos
com a mudança nos sistemas tributário e previdenciário.
Oficialmente, os governadores
afirmam que as reuniões de hoje e
amanhã servirão para ajustar os
ponteiros com o governo e confirmar o empenho coletivo a favor
das reformas. "Será um encontro
mais político do que técnico",
afirmou o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Na prática, entretanto, as reuniões não terão avanços relevantes caso o governo não leve em
consideração algumas das principais demandas dos Estados.
Gargalos
A prioridade de São Paulo, por
exemplo, é a aprovação da reforma da Previdência. A maior preocupação do Estado atualmente
são os crescentes gastos com o pagamento de aposentadorias, cujo
déficit, o maior do país, chegou no
ano passado a R$ 7 bilhões.
São Paulo pleiteará a realização
de uma reforma tributária neutra,
ou seja, em que não haja perda de
arrecadação para o Estado. Será
um dos pontos polêmicos da reunião, uma vez que os Estados
(com exceção do Sudeste) defendem que a cobrança do ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) passe a
ser feita na região consumidora, e
não na produtora.
"Reconhecemos as dificuldades
do governo federal, mas nós [os
Estados do Nordeste] devemos
lutar pelo nosso espaço", afirmou
o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB).
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