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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Apesar de o inquérito ainda correr, delegado Gesival de Souza diz que é possível apontar culpados; ACM ainda não foi citado

PF responsabiliza delegado e assessor por grampos

Sérgio Lima/Folha Imagem
O senador Antonio Carlos Magalhães, em sessão no Congresso


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Antes mesmo da conclusão do inquérito que apura a origem dos grampos ilegais na Bahia, a Polícia Federal já identificou os culpados pelo crime -o delegado especial Valdir Gomes Barbosa, 50, e o assessor da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado Alan Souza Farias, 29.
"Para mim, não resta a menor dúvida da culpabilidade dos dois funcionários do governo estadual", disse o delegado federal Gesival Gomes de Souza, 38, responsável pelo inquérito.
Segundo o delegado, Barbosa e Farias tiveram acesso à lista dos números telefônicos encaminhados pela SSP à Justiça de Itapetinga (581 km de Salvador).
Entre os dias 29 de outubro de 2001 e 2 de setembro do ano passado, 126 pessoas foram rastreadas por determinação da SSP, num total de 232 números monitorados -alguns telefones tiveram os seus sigilos quebrados mais de uma vez.
"Em alguns casos, os anexos enviados às operadoras telefônicas [TIM e Telebahia Celular] foram adulterados para a inclusão de números que nada tinham a ver com a investigação policial."
De acordo com a SSP, os pedidos de rastreamento foram feitos para investigar uma quadrilha que sequestradores.
Souza disse também que a juíza Teresa Cristina Ribeiro, responsável por todas as autorizações judiciais que permitiram os grampos, cometeu um "procedimento irregular" ao liberar novos rastreamentos sem conferir os números solicitados pela SSP.
"A juíza errou porque, mesmo sem receber das operadoras os relatórios com as escutas, como determinava seu despacho, continuou autorizando grampos."
Após ouvir oito pessoas, até o final da manhã de ontem, o delegado disse que o nome do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 75, não aparecia no inquérito. "Por enquanto, o nome do senador não foi citado por ninguém."
ACM é apontado pelos deputados Geddel Vieira Lima (PMDB), Nelson Pellegrino (PT), pelo ex-deputado Benito Gama (PMDB) e pelos advogados Plácido Faria, 40, e Adriana Barreto, 30 -todos foram grampeados- como o autor intelectual do crime.
Enquanto ACM não foi mencionado, Valdir Barbosa e Alan Farias foram citados em todos os depoimentos. A situação de Farias ficou pior depois do depoimento do assessor jurídico da TIM na Bahia, Charles Mota. Mota disse que Farias foi o encarregado de levar à empresa as autorizações para os monitoramentos.
"Ele [Charles Mota] estava muito nervoso e transferiu as responsabilidades para seus superiores de Belo Horizonte." Souza disse querer pedir pelo menos mais 30 dias para conclusão do inquérito.

Outro lado
Acusada de cometer um "procedimento ilegal" por Souza, a juíza Teresa Cristina Ribeiro informou, por meio de seu chefe de gabinete, que está proibida dar declaração sobre o caso. Afastado temporariamente do cargo de delegado-chefe da Polícia Civil, Barbosa disse: "Não quero falar mais nada sobre os grampos, a não ser que sou inocente." A Folha tentou falar com o assessor Alan Farias mas segundo a assessoria da Polícia Civil, ele não foi trabalhar ontem.


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