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SOMBRA NO PLANALTO
Presidente cogita afastar ministro da Casa Civil para preservar governo, mas não está convicto de que essa é a melhor solução
Lula ampara Dirceu, mas já discute opção
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Anteontem à noite, quinta-feira,
quando soube que a revista "Veja" traria reportagem sobre suposta tentativa de arrecadação de
recursos com empresários gaúchos do ramo do bingo, Dirceu
desabafou com um ministro:
"Não agüento mais. Vou sair".
Era mais um dos rompantes de
Dirceu, que ameaçou pedir demissão três ou quatro vezes na última semana, mas, de concreto,
colocou o cargo à disposição do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda e falou de novo que
podia sair na quarta-feira -o que
é bem diferente de uma decisão
de pedir demissão.
Ao longo do dia de ontem, essa
possibilidade arrefeceu novamente, apesar de o próprio Dirceu já avaliar os prós e contras da
saída Henrique Hargreaves
-uma alusão ao ministro de Itamar Franco que deixou a Casa Civil e retornou após esclarecer formalmente acusações que sofreu.
Lula está convencido de que sua
prioridade é preservar o governo.
Daí, não descarta o afastamento
temporário de Dirceu, apesar de
ainda não ter madura a convicção
de que deva adotar tal medida.
O fato é que a saída Hargreaves
ganha adeptos na cúpula do governo como forma de tirar a pressão do caso Waldomiro Diniz do
Planalto e de dar um susto na
oposição, sinalizando que o sacrifício de afastar Dirceu deve ser retribuído por trégua política.
Nesse contexto, começou a ser
analisado o que fazer na ausência
de Dirceu. No quadro de hoje, há
dois ministros cogitados para a
substituição temporária: Antonio
Palocci Filho (Fazenda), alternativa complicada por implicar na
mexida da área econômica, que
vai bem na avaliação do governo,
e Luiz Gushiken (Comunicação
de Governo), opção vista como
mais fácil de ser implementada.
Registre-se que Lula ainda tenta
preservar Dirceu. A novidade é
que tem se mostrado mais aberto
à possibilidade de afastá-lo temporariamente para preservar o
governo. Dirceu está dividido.
O afastamento lhe permitiria
sair "credor" do governo e transmitir a imagem de soldado que
vai para o sacrifício em nome de
uma causa maior. Feitas as investigações, numa CPI ou não, poderia voltar caso nada de concreto
seja apontado contra ele, hipótese
que considera a mais provável.
Já a permanência, sangrando a
cada nova revelação sobre as
ações de Waldomiro na Casa Civil, poderia ser melhor no curto
prazo, mas poderia causar mais
dano ao governo no médio e longo prazo. Um deles é o aumento
da dependência de antigos rivais e
hoje aliados, como os senadores
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso, e Antonio
Carlos Magalhães (BA), que representa a ala governista do PFL.
Por ora, Lula manteve a decisão
de deixar Dirceu onde está. Decidiu que se pronunciaria sobre o
caso, em virtude de novas revelações das revistas "Veja" e "Época", e que adotaria medida dura
contra os bingos, numa resposta
policial a uma crise política.
Foi o que aconteceu. Lula falou.
E seus principais ministros, representados pelo "porta-voz" Márcio
Thomaz Bastos (Justiça), anunciaram a proibição dos bingos até
decisão definitiva do Congresso.
Assim, Lula continua a apostar
na demonstração de normalidade
(mantendo sua agenda), numa
resposta à crise (proibição dos
bingos) e no suposto efeito apaziguador do Carnaval. De certa forma, continua a comprar tempo,
na esperança de que a mídia não
traga mais nada de impacto e que
a temperatura no Congresso diminua em março, quando termina o recesso do Carnaval. Nesse
tempo, haverá discreta operação
do governo para conversar com
órgãos de imprensa de peso e tentar mudar a agenda negativa.
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