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JANIO DE FREITAS
Um problema assinado
A assinatura do senador
Antonio Carlos Magalhães
no requerimento de CPI sobre a
corrupção, cujo alcance o inclui
entre os possíveis investigados,
criou uma situação politicamente embaraçosa para o presidente do Congresso e inquietante para o presidente da República.
Da sua afirmação precisa e
clara de que assinaria o requerimento, o senador Jader Barbalho recuou para a posição de
que "nada tem contra a CPI".
Só aparentemente essa posição
é neutra, capaz de dispensar a
assinatura sem exprimir o medo de se ver investigado. Se nada tem contra, é porque nem
politicamente, quanto mais em
termos pessoais, a CPI é vista
pelo presidente do Congresso
como inconveniente ou mesmo
ameaçadora.
Logo, se há casos de comprovada corrupção a serem investigados pelo Congresso, em conformidade com suas obrigações
constitucionais, quem "nada
tem contra a CPI" há de ser, por
lógica e dever, um signatário do
requerimento. Tanto mais que
seu acusador e vítima de suas
acusações já o é. Não há dúvida
de que a atitude de Antonio
Carlos enfraqueceu Jader Barbalho.
É incerto, para não dizer improvável, que o apoio formal de
Antonio Carlos à CPI estimule
adesões que a viabilizem, sobrepondo-se à ação de Fernando
Henrique Cardoso e dos parlamentares governistas contra as
investigações. Mas, a despeito
do esforço da mídia para proteger Fernando Henrique, dissimulando ou omitindo o que
acentue o comprometimento do
governo, as coisas estão se agravando. Ofertadas de bandeja
pelas manobras primárias com
que variados setores do governo
cumprem a ordem de mais fingir que investigam alguma coisa do que fazê-lo, seja onde for.
A notícia de que agentes da
Polícia Federal vão aos EUA para ouvir dois brasileiros ligados
ao dossiê Cayman e, também,
verificar se Sérgio Motta estava
ligado à empresa CH, J & T das
Bahamas é tão falsa quanto o
valor do real em relação ao dólar. O advogado americano que
se dispõe a falar sobre a empresa CH , J & T, assim como o escritório Trident, que abre empresas clandestinas em paraísos
fiscais, prestariam informações
imediatas a autoridades americanas, nos termos de acordo recente entre Brasil e EUA.
Tudo o que não seja pedir ao
Departamento de Justiça americano para recolher e mandar
tais informações é, apenas, tapeação grossa. Com a participação de pessoas que não precisam dessas nódoas na biografia.
A pressa de acabar com o
DNER e com a Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia, Sudam, não tem aliviado a situação do governo. O
relatório do governo sobre irregularidades na Sudam, falando
em desvios de R$ 108 milhões, é
motivo de riso. Se a CPI não entrar no assunto, a Procuradoria
da República terá de fazê-lo
com alguma decência, tamanhas são as evidências escamoteadas pelo relatório governamental. Na Sudam têm acontecido muitos dos casos mais escabrosos de corrupção, dignos até
das grandes empreiteiras e do
DNER. A respeito dos quais o
governo só quer, e tem obtido, o
silêncio.
Com essa acumulação progressiva, a posição de Fernando
Henrique e do governo já se torna mais precária, senão na mídia, por certo no Congresso. Ao
mal-estar que cresce juntou-se
ainda a adesão de Antonio Carlos à CPI com o reboque de outras assinaturas, tornando
maior a proximidade com o número exigido para a instauração do inquérito amplo. Aumentou o risco, portanto, de que
uma novidade mais aguda faça
o governo perder o controle razoável que tem da situação. É só
um risco, não chega a ser probabilidade perceptível, mas, para
quem está tão temeroso de investigações, a inquietação subiu
muito com um simples rabisco
em um papel.
Inseguro
A esta hora, os seguradores internacionais estão coletando e
examinando tudo o que Philippe Reichstul e seus imediatos
disseram, com a autoridade de
dirigentes da Petrobras, sobre
terceirização na empresa e em
trabalhos nas plataformas. Daí
à alegação de que terceirizados
não tinham a habilitação e o
treinamento técnico, na plataforma naufragada, vai distância mínima e valor máximo -o
valor do seguro.
A história da P-36 justifica
um inquérito daqueles que não
se fazem no Brasil. A começar
do contrato para a sua construção, que burlou a necessária
concorrência. E muitas outras
coisas para lá de suspeitas.
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