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AGENDA PETISTA
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social entregará propostas tributária e previdenciária a Lula em abril
Governo usa guerra para acelerar reformas
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A guerra do Iraque levou o governo a acelerar a definição de
suas propostas de reformas tributária e previdenciária. A primeira
será entregue ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no dia 5 de
abril pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A
segunda o conselho fechará até o
dia 15 do próximo mês.
"Não se trata de usar a guerra
como chantagem. É que os próprios membros do conselho entenderam que a questão internacional impõe mais rapidez ao processo", disse à Folha o secretário-executivo do conselho, Tarso Genro. A proposta de reforma tributária será fechada dentro do conselho no dia 31 de março, numa
reunião extraordinária que será
aberta com uma exposição do ministro José Viegas (Defesa). Ele
vai falar sobre a guerra no Iraque
e seus possíveis efeitos.
A cúpula do governo já havia
discutido internamente a idéia de
aproveitar uma eventual guerra
no Iraque para acelerar o ritmo
das reformas. O ambiente ficaria
mais propício ao governo, já que
o conflito pode representar novas
dificuldades na área econômica.
A convocação extraordinária do
conselho foi solicitada a Tarso Genro pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Encaminhada
ao presidente Lula, a proposta foi
aprovada e já está sendo comunicada aos membros titulares do
Conselho de Desenvolvimento
Econômico Social.
Inicialmente, o governo planejava fechar a reforma da Previdência em maio. A tributária, até
junho. Agora, com a guerra e suas
possíveis consequências sobre a
economia, o conselho resolveu
acelerar o processo e inverter a
pauta.
A decisão de finalizar antes a tributária se deu pelo entendimento
de que existe, no momento, mais
consenso sobre ela entre os diretamente interessados na proposta: governo federal, governadores,
prefeitos e empresários, que já teriam dado aval às linhas mestras
da reforma.
Palocci tem afirmado que a reforma tributária será enxuta. A
idéia na emenda constitucional é
alterar as regras gerais da estrutura tributária. Propõe-se unificar a
legislação do ICMS (principal imposto estadual) e reduzir a alíquota incidente sobre os produtos da
cesta básica.
Além disso, o governo deve tornar a CPMF (imposto sobre movimentação financeira) permanente, com a redução gradual da
alíquota. A reforma também reduzirá os tributos que incidem
em várias etapas do processo produtivo e eliminará, de forma gradual, a contribuição previdenciária sobre a folha de salários.
Com o fechamento da proposta
de reforma da Previdência até o
dia 15 de abril, Genro avalia que o
conselho terá cumprido sua primeira etapa, definindo as reformas emergenciais. Depois, será a
vez da trabalhista, que não tem o
caráter de urgência das outras.
Pontos
O desenho da reforma da Previdência esboçado pelo governo está praticamente pronto. São cinco
pontos:
1) Aprovação do PL-9, que é o
projeto de lei - enviado ao Congresso pelo governo anterior -
que cria fundos de pensão para
complementar aposentadorias de
futuros servidores.
2) Concessão de novas aposentadorias usando como critério o
salário líquido do servidor e não o
salário bruto. Trata-se de uma
forma disfarçada de cobrar contribuição previdenciária de novos
inativos.
3) Redução das pensão para
70% do valor do salário ou aposentadoria.
4) Duplicação dos prazos de carência no serviço público. Atualmente, são exigidos no mínimo
cinco anos de exercício efetivo no
cargo e dez anos de serviço público.
5) Elevação da idade mínima
para 55 anos, mulher, e 60 anos,
homem. Hoje, servidores que ingressaram no setor público antes
de dezembro de 1998 têm direito
de se aposentar com base em uma
regra de transição criada na reforma previdenciária de Fernando
Henrique Cardoso: com 48 anos,
mulher, e 53 anos, homem.
No caso da idade, o que se pretende, na prática, é trocar a atual
regra de transição para uma mais
severa, em que o servidor terá a
opção de escolher entre se aposentar mais tarde (55/60 anos) ou
com o limite de idade atual e um
benefício menor - até 65% do
valor do salário.
As mudanças no sistema previdenciário dos militares terão uma
tramitação diferente das dos civis.
A intenção é enviá-las em conjunto, mas o governo pode acabar
encaminhando primeiramente a
reforma dos servidores civis.
Isso porque a reforma dos militares não depende de emenda
constitucional.
Pode ser feita por lei ordinária,
cujo processo de aprovação é
mais simples e rápido.
Antes de encaminhar as reformas ao Congresso, Lula irá submeter o texto final aos governadores. A idéia é que eles assinem um
documento apoiando as reformas
que serão submetidas ao Legislativo. Com isso, o governo petista
espera acelerar sua aprovação.
Ao explicar a decisão de apressar as reformas por causa do conflito, Genro disse avaliar que os
Estados Unidos vão querer "dividir os custos da guerra". Então,
segundo ele, cada país precisa "se
preparar" para isso, tomando medidas preventivas.
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